Thursday 17 June 2010

A célula do partido

SAVANA NO INFORMAL

Por Armando Nenane

O MIÚDO VEIO ter comi­go e disse: “Tio?”

E eu: “Alô!”

“O tio é jornalista?”

“Sim. Sou”.

“Estou a pedir um avi­so!”.

E esta agora.

Era manhã de domingo. Procurei um jornal e recor­tei um aviso da EDM de inter­rupção de energia.

Dei-o.

Ele saiu correndo, sem me dar tempo de lhe expli­car que os avisos nada têm a ver com os jornalistas.

“Foi o professor de Por­­tuguês que mandou”, gri­tou, já longe.

No dia seguinte, o miúdo voltou: “Tio?”

“De novo!”

“Sim. O s’tor gostou do aviso”.

“Hum. Ainda bem”.

Seguiram-se instantes pensativos. Eu também pensava no que estaria ele a pensar agora.

“Tio?” – disse ele. – “O professor mandou elaborar um aviso”.

Lá estava eu, agora, a pagar a factura de não ter dito ao miúdo que os jor­nalistas não fazem avi­sos.

“Pode me ajudar?”, suplicou.



ACEITEI O DESAFIO. Escrevi um pequeno aviso – e é aqui onde começa a grande ficção – assim:

“Estão avisados todos os fun­cionários desta es­cola que – por força de lei – a célula do partido foi encerrada. Este aviso tem efeitos ime­diatos”.

Entreguei-lho e ele saiu correndo.

O miúdo voltou, dias depois, triste por lhe ter feito um aviso que muito chateou o professor de Português.

- Estás chumbado! – disse-lhe ele.

Pedi desculpas.

Expli­quei que os jor­nalistas não escrevem avisos. Foi me­lhor assim.

Não era preciso lhe dizer que o aviso estava muito bom, mas que o professor de Português não gostara da brincadeira porque era ele o secretário da célula do partido na escola.

Um dia compreenderá!



ESTA FOTO que abre o informal é uma espécie de célula: não do partido, mas do jornalismo africano.

A beldade é a repórter da CNN, Isha Sesay, que apresentou a última edição Prémio Africano de Jorna­lismo CNN Multichoice, no Uganda.

Francisco Carmona é coordenador da redacção do SAVANA e abraça-a.

Qual abraço!



OUTRA CÉLULA, não do partido, portanto: da esquerda para a direita: o director do SAVANA, Kok Nam, a jornalista Paola Rolleta e Cloé Ribas, sorrisos do tipo estamos de bem com a vida.



A CÉLULA, AGORA é que é: Almeida Matos (advo­gado), David Si­mango (edil da cidade de Maputo) e Henny Matos.



ESTA ESTÓRIA conti­nua: Francesca Bianchi, Alessandra Celleti e Litizia Cassiatore.



PIOROU: AQUI JÁ HÁ craques: o escritor Fili­mo­ne Meigos e o músico Esaú Meneses, uma verda­deira célula.

De artistas, portanto.

- As FPLM?

- Esquece, mano!

- Foram outros tempos. Bateram novos ventos.

Meigos, autor de "Poe­maKalashinLove" e agora "Moçambique, Meu Corpus Quantum", é hoje director do Instituto Su­perior de Arte e Cultura.

SAVANA – 11.06.2010

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