Monday, 15 March 2010

3.ª sessão ordinária do Conselho Nacional do MDM

Há um partido que dá golpes ao Estado

- acusa Daviz Simango, em alusão à Frelimo

Quelimane (Canalmoz) - O presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, disse sábado, na cidade de Quelimane, província da Zambézia, que “os resultados eleitorais mesmo da forma como ocorreram representam a afirmação da identidade moçambicana plural estar viva, atenta à situação política perigosa em que nos encontramos, em que um partido dá golpe ao Estado, confundindo-se as fronteiras, chegando-se ao ponto de pensarem que os nossos filhos em casa são deles, que são eles que nos pagam salários e nos constroem casas enquanto centenas de membros deles andam à fome por falta de emprego e vivem ao relento por falta de casa”.
Falando aos seus correligionários na 3ª sessão ordinária do Conselho Nacional do MDM que ontem terminou, Daviz Simango, aludia a Frelimo como o tal partido que “dá golpes ao Estado”. Tais afirmações de Simango surgem no contexto do diferendo das eleições presidenciais, legislativas e provinciais ocorridas a 28 de Outubro passado, feridas de diversas “irregularidades”graves como reconhecido por vários observadores nacionais e internacionais.
“O Movimento Democrático de Moçambique quebrou a bipolarização, e é a terceira força política de Moçambique, graças ao empenho sem reservas de cada um de vós, que mesmo perante a injustiça de amputarem-nos as pernas, souberam, de cabeça erguida, dirigir os destinos do Partido. Dentro das responsabilidades à altura do Galo, sois a esperança de milhares de moçambicanos, que Deus vos abençoe e recebam um abraço por terem realizado o sonho de aquando da fundação do Partido, terem conseguido corresponder às expectativas apesar das adversidades do caminho sinuoso pelo que passamos, imposto por gente adverso a democracia multipartidária”, frisou.
O MDM, nas palavras do presidente do MDM, não acontece para diversificar por diversificar. Acontece porque milhares de cidadãos precisam de se realizar, como cidadãos responsáveis pela sua vida e sua sociedade.
Por isso, “neste momento de renovação da esperança da cidadania moçambicana, não posso deixar de dirigir uma palavra especial de solidariedade àqueles que, por variadíssimas razões, se encontram em situações presentemente difíceis”, afirmou, para depois sustentar: “refiro-me, sobretudo, aos homens e mulheres, sobrevivendo por sua conta e risco, em condições miseráveis e humilhantes. Muitos não resistem e emigram à procura de melhor sorte noutros países. Mas a maioria, nas zonas rurais e cada vez mais também nas zonas urbanas, desfalecem num pântano de miséria e pobreza crónicas”.
Debruçando-se sobre a realidade do País, Daviz Simango afirmou que milhares de jovens, tanto os que nunca tiveram oportunidade de ir à escola, como os que depois de terminarem seus estudos, enfrentam a triste realidade de não conseguirem tirar proveito satisfatório do que estudaram. Quanto aos recém-formados e treinados, muitos vivem na angústia por não conseguirem um emprego decente, ou mesmo um emprego precário e casual. “A todos esses jovens, o nosso apelo é simples e franco: não deixem de acreditar nas vossas capacidades, na vossa vontade de criar, inovar, vencerem, produzir algo válido e serem donos da vossa própria felicidade”, sustentou Daviz Simango.
Apesar das vicissitudes enumeradas, o MDM acredita que irá proporcionar novas oportunidades de renovação da democracia multipartidária, pluralista em vez de bipartidária ou novamente mono partidarista, respondendo às necessidades de mudanças reais, efectivas e não fictícias. “A nossa solidariedade vai para os milhares de compatriotas que hoje vêem as suas casas mergulhadas nas águas resultante das cheias, depois de terem vivido período longo de seca, e outros em que os seus produtos das machambas secaram. Estendemos a nossa solidariedade também aos que nunca foram à escola, restando-lhes fazer da informalidade sua escola de aprendizagem profissional e fonte de oportunidades criativas para transformarem suas capacidades em meio de sustento.”

Não estamos para brincar aos partidos

É preciso termos ideias claras, sobre a razão de ser da actividade política e formação de um partido político, conforme disse Simango, numa advertência aos correligionários. “O MDM não surge para brincar aos partidos políticos, nem para ampliar a desagregação da já demasiado fragmentada oposição política moçambicana. Sentimos a maior consideração e apreço pelas iniciativas partidárias anteriores às nossas”, vincou.
Porém, se optamos por criar um partido novo, é porque há maturidade da consciência política pluralista, fundando-se na convicção de que hoje precisa-se de renovação na forma de se fazer política. “Para o MDM, a política não será um fim em si, muito menos deverá servir de trampolim para tentar um golpe de sorte na vida. Viemos cá, de livre vontade, conscientes que não possuímos recursos financeiros e materiais”, sublinhou Simango.
Acrescentou que o sucesso do MDM como partido político não irá depender da apropriação da Administração e do Erário Público. A principal riqueza do MDM reside na esperança do Povo, assente em valores éticos socialmente relevantes, no desejo de mudanças reais.
“Devemos aplicar mecanismos organizativos e de funcionamento, transparentes. Principalmente em relação aos apoios que mobilizarmos, não duvidem que também queremos mergulhar em extravagâncias, com a desculpa que a Nação precisa tanto de nós, que só de helicóptero podemos lá chegar depressa”, adiantou.

Resgate da dignidade moçambicana

O importante, segundo as palavras do líder do MDM, é a preservação da dignidade. Os nacionais não podem aceitar que se nos tratem como rebanho ou manada de bovinos. “Dessa forma, seremos fiéis ao espírito de dignidade moçambicana, em não aceitar sermos tratados como gado”, advertiu.
Para o depoente, “se o MDM captar bem a dignidade pluralista moçambicana, se souber valorizar a actividade política, respeito pelo ser humano, e contribuir para a moralização da nossa sociedade, tão tristemente desmoralizada, acreditem, caminharemos devagar, mas chegaremos longe! Ao Poder”.
Para que haja uma força alternativa à Frelimo corrupta e gananciosa, “Moçambique precisa urgentemente de uma força política empenhada, mais na EXCELÊNCIA e no PROGRESSO, nas Mulheres e nos Homens, nos Jovens e nas Crianças, que ao longo do dia-a-dia morrem por falta de cuidados primários de saúde, se sentem descriminados por não comungarem com a ideologia do poder, que vivem na miséria e na pobreza com solo rico que temos”, disse o presidente do MDM falando no Conselho Nacional do seu partido realizado este fim-de-semana em Quelimane, capital da Zambézia.
Simango ajuntou que “Moçambique merece muito mais”, “e somos chamados ao trabalho incansável para sermos o governo do amanhã de modo a servirmos a sociedade moçambicana, ultrapassando estas situações, o que só será possível com entrega aos desafios sem reservas, com união, respeito mútuo e compreensão do pensamento dos outros”.

Segurança e economia: Governo escamoteia verdades

O principal, neste momento; o essencial e urgente na vida dos moçambicanos, gira em torno de dois assuntos fundamentais: a economia e a segurança. O Governo diz preocupar-se com ambos, mas na prática não reconhece as graves consequências dos efeitos destes dois factos em conjunto, conforme criticou Simango.
“A situação económica e a debilidade da segurança das pessoas exigem franqueza, em vez de manipulação, dissimulação e fingimento. Vivemos a realidade difícil das famílias e das pessoas, numa Nação pedinte, carente e com excesso de insegurança (alimentar, sanitária, no ensino, nas vias públicas das cidades, etc.) Moçambique nunca será um país viável, pelo menos viável com sustentabilidade duradoira, enquanto seus líderes fingirem que a economia nacional progride e está de boa saúde. Moçambique precisa de uma liderança política que, primeiro olhe para o país real com honestidade e franqueza, servidor do povo”, defendeu.
De acordo com o presidente do MDM, o seu partido deve assumir as suas responsabilidades perante a sociedade moçambicana. Os desafios a enfrentar são muitos, mas estão ao nosso alcance, desde que a realidade do país, seja encarada com franqueza e coragem.
A terminar, afirmou que os seus partidários não devem esperar por nenhuma fórmula mágica; nenhuma acção milagrosa para garantir o sucesso imediato e massivo do MDM. O que sabemos, da experiência passada e recente, é que as vitórias duradoiras se conquistam, dia após dia, com trabalho árduo, dedicação, imaginação, organização, criatividade e muita perseverança”.
“A perseverança é a mãe de todas as sortes!”, frisou.

(Adelino Timóteo)