Tuesday 23 February 2010

Mas porquê tanta bagunça assim no Gurúe?


Quelimane (DZ- Vila de Gurúe que hoje, completa 38 anos de elevação a categoria de vila cidade, outrora vila Junqueiro, mas de acordo com a Portaria 179 de 24 de Fevereiro de 1972 a vila deixou de ser chamada de Vila Junqueiro e passou a cidade de
Gurúe, ostentado a classe D.
Junqueiro foi um o proprietário da primeira fábrica de chá naquela região montanhosa.
Há festa para uns claro, porque haverá deposição de corôa de flores, inaugurações a todos níveis e discursos bonitos, mas há que tomar a peito os acontecimentos de Lioma, porque cada dia que passa há novos cenários e isto torna a vila e porque não o distrito cada vez mais inseguro. O edil, José Aniceto, fala de glórias, mas não
se esquece das avultadas dívidas que encontrou. Aniceto diz mesmo que encontrou um município insípido onde até agora há salários de 2008 por pagar.

Foi no último sábado, no bairro de Injabo, arredores da cidade de Gurúe, que o régulo foi surpreendido por uma multidão na sua residência, exigindo explicações do aparecimento da cólera naquele bairro, sabido que noutros não há focos desta
doença. E não só, a multidão acusou-o de ser o protecionista dos agentes de saúde que
espalham o “maldito Pó” branco.
Há quem certamente quer entender este pó branco. Em Lioma e em outros locais onde há
cólera, as populações dizem que o cloro que é de cor branco é que traz a cólera nas comunidades.
E o régulo foi acusado em estar ligado na distribuição deste maldito pó. Mesmo tendo dado explicações que não tinha nada a ver, a multidão não lhe poupou, amararam-no, bateram e logo surgiu uma ideia. “Vamos acender lenha e queima-lo”
Isso mesmo, o régulo foi queimado perante milhares de pessoas e viu seu corpo
transformar-se em cinza inaproveitável para nada. Assim acabou a vida de um homem que
Deus trouxe ao mundo e que tinha ainda alguns anos para servir a sua família, mas que uma parte da sociedade assim não quis. Enfim, são dias tristes que se vivem no
Gurúe, naquele planalto chazeiro onde o verde dos campos traz uma beleza enorme. Onde o Namúli (monte), coloca a cidade a sua frente dando assim uma outra vista ao distrito como se vê na imagem acima.

Se o sábado foi triste na periferia da cidade de Gurúe, no povoado de Tetete, lá em Lioma, as coisas também não foram fáceis para os homens da lei e ordem.
Numa das suas incursões, a Polícia da República de Moçambique (PRM), não teve mãos a medir e alvejou mortalmente um cidadão que estava na multidão dos manifestantes.
O porta-voz da PRM na Zambézia, Ernesto Serrote, confirma que a ocorrência, e
categoricamente assume que “A situação está mesmo complicada, se fossem só os agentes da polícia de protecção não iria aguentar, tivemos que mandar a FIR para o local”- disse Serrote.
Sobre este cidadão morto, a fonte diz que foi numa altura em que a corporação vinha do local onde havia indícios de manifestações, dai, encontrou barricadas na estrada e gente escondida a espera para atacar a polícia. Naquele luta com a multidão
enorme que tentava arrancar a arma ao agente, nada mais houve se não atirar mortalemente o cidadão para serenar os ânimos, que mesmo assim segundo aquele porta-voz, parece que nada foi feito.
De acordo com a fonte, a polícia reforçou o seu efectivo com agentes da Força de Intervenção Rápida (FIR), Polícia Militar (PM) e outras, para que possam serenar os
ânimos, mas mesmo assim na voz do porta-voz da PRM, nada, até agora tudo na mesma.

Com o agudizar das coisas e esta (in) capcidade da polícia em acalmar as multidões, já há patentes que querem ver as coisas de perto, quiçá dar mais técnicas aos seus
subordinados.
Uma destas patentes é o vice-ministro do Interior, José Mandra, que chega esta quarta-feira, a Quelimane e directamente segue para Lioma.
Dados em nosso poder, indicam que Mandra vai trabalhar no terreno para encontrar saidas convista a estancar esta onda de tumultos e mortes que Lioma e agora a cidade
de Gurúe estão a registar. Até agora, contabilizam-se 11 pessoas mortas, dizem as autoridades policiais na província.

O Posto administrativo de Regone, dista pouco mais de 30 quilómetros de estrada terrabatida, com muitas curvas e contra-curvas. Já se registaram alguns focos de tumultos, mas até agora sem vítimas mortais.
Tudo por causa da eclosão de diarreias e vómitos naquela região de Namarrói, precisamente na semana em que o governador da Zambézia, Francisco Itai Meque,
estava a visitar o distrito. Lembrar também que em Nabúri, distrito de Pebane, um centro de Saúde foi saqueado e vandalizado por populares.
Ao que tudo indica, paulatinamente a situação vai se generalizando pela província toda.
Ou seja, onde há diarreias, logo a população conclui que é este o maldito po que propaga a cólera e logo de seguida procura alvos.
Mas porquê tanta lufa-lufa assim no Gurúe? Será que o povo já não confia nas autoridades? Como explicar a população que o cloro não traz mal nenhum nas pessoas? O
que fazer nas próximas campanhas de sensibilização? São estas pequenas questões que achamos que os nossos leitores deveriam dar como opiniões, olhando que diariamente o cenário torna-se cada vez mais dramático.
(António Zefanias)