Friday 22 January 2010

A Opiniao de Noe Nhantumbo

AFINAL NÃO FOI DESTA VEZ…
“Outra vez o dito por não feito”...
No lugar de manifestações temos tomadas de posse escalonadas e almoços...

Ninguém é aqui apologista da violência nem queremos pensar que as manifestações que a liderança da Renamo se propunha realizar eram de cunho violento. O que supomos é que um dos direitos democráticos é reclamar e manifestar-se contra algo que se considere mal feito ou fraudulentamente conseguido. É evidente que quem chegou a uma determinada posição através de um jogo menos claro e com bastantes evidências de procedimentos irregulares não esteja interessado que se revisite o campo e se questione todo um processo.
CNE e CC sabem todas juntas que muita coisa de suspeito aconteceu em todo o processo que a Renamo alegadamente queria reclamar. Primeiro através das vias legais reclamou e recebeu um “não”, depois dizia para todos que iria organizar manifestações com vista a repor a legalidade democrática e logo em seguida convidava o PR a discutir o assunto.
Com discussão ou sem discussão com o PR o que todos sabemos ou sentimos é que não haverá nenhuma reuniãio entre o líder da Renamo e o PR sobre o processo eleitoral ou outro assunto que se relacione com o mesmo. Sabemos ou sentimos que se for de iniciativa do PR jamais haverá encontro entre os dois.
Durou todo um mandato de cinco e não houve nenhuma reunião do Conselho de Estado.
Parece que a filosofia reinante é que reunião com o líder da oposição seria dá-lo ou atribuí-lo muita importância. O que se pretende segundo algumas manifestações ou proclamações de membros proemintes da Frelimo é obliterar a existência da oposição personificada por Afonso Dlakama, líder da Renamo. Daí que não seja de crer que Armando Guebuza se reúna alguma vez com Afonso Dlakama por iniciativa do segundo. Mesmo Chissano se recusou a negociar o que fosse com Dlakama após a assinatura do acordo de Roma.
Mais uma vez parece que a Renamo com todas as razões que conseguiu reunir no terreno não conseguiu levar a avante as suas pretensões de ver mudanças no desfecho oficial do processo eleitoral.
Assim como em Roma assinou um acordo favorável ao governo da Frelimo e a mesma, agora em todos os processos eleitorais, pequenas e grandes irregularidades são consideradas insuficientes para alterar os resultados. E a incapacidade da Renamo tem sido conseguir reclamar com consequência.
Há muita coisa que a Renamo tem de aprender no domínio da política, do processo de fazer política e sobretudo dos preceitos utilizados pelos outros para fazer política. O facto de termos razão não significa que sejamos vencedores. Não é o facto de a Frelimo governar de maneira suspeita e bastante duvidosa, sem conseguir satisfazer as necessidades dos cidadãos que automaticamente a Renamo ou outro partido da oposição vai vencer nas eleições. Vencer eleições em Moçambique vai implicar a transformação completa das relações entre as forças de segurança e o partido no poder.
Só com separação efectiva dos poderes democráticos é que se poderá criar condições para a organização de um processo eleitoral limpo, transparente, justo e democrático. Há toda uma série de engrenagens que funcionam de modo a garantir que a Frelimo seja a vencedora das eleições. Mesmo sem o voto das pessoas viu-se como o enchimento de urnas pode alterar resultados. A julgar pela vitória da Frelimo em alguns círculos fica claro que “Changara” e todos aqueles lugares em que conseguiram garantir que algo parecido acontecesse, contribuíram para a vitória do partido dos camaradas.
Só que também é verdade que a Renamo tem de aprender a reclamar e a organizar manifestações. Nunca se viu uma organização de manifestações que fosse tão mediatizada antes de tais manifestações acontecerem. Toda a razão que a Renamo pudesse ter fica desvirtuada quando ao nível de sua liderança não há sinais claros do que realmente pretende. Há rumores continuados de que parte do que a liderança da Renamo faz é guiado por uma vontade de conseguir angariar benesses monetárias. Quando tudo indicava que a presidência do país num dos últimos confrontos eleitorais entre Chissano e Dlakama fosse para Dlakama viu-se o mesmo Dlakama recuar numa situação em que tinha recursos e votos que justificavam suas pretensões. A sucessiva incapacidade de montar uma reclamação sustentada com factos ou elementos indiscutíveis aliada a teimosia em indicar as mesmas pessoas que no passado falharam em organizar tais reclamações, leva a crer que afinal alguma coisa irregular deve existir. Uma dúvida ou indicação clara a julgar pelos dados existentes de que não existe muita vontade de democratizar um partido com história de vitória militar contra a Frelimo, coloca o cidadão na dúvida sobre a reais pretensões dos protagonistas. Qual é afinal problema? Será que os serviços secretos e de inteligência da Frelimo são de tal modo capazes que anulam todas as pretensões da oposição?
Manifestações ou tomadas de posse de deputados no Parlamento tudo cabe na democracia. O que não cabe na democracia é uma tentativa de amedrontar os cidadãos e de colocá-los contra a Renamo porque esta pretende organizar manifestações. o Ministério do Interior age contra a Constituição quando ameaça agir violentamente contra a Renamo e sua liderança no caso de se concretizarem as manifestações populares anunciadas.
Há toda legitimidade em a Renamo procurar manifestar-se contra o que considera processo pouco transparente que ditou a vitória eleitoral da Frelimo.
Porém o mais importante e urgente é que a Renamo e toda a oposição política em Moçambique aprenda como se faz política neste país. Há aprender a utilizar os meios disponíveius para contrariar todo o esquema táctico continuamente utilizado pela Frelimo. Quando a CNE deliberou impedir que alguns partidos políticos concorressem nas eleições houve alguns aplausos vindos do quadrante Renamo. Só que quando a mesma é surpreendida com sua própria exclusão em alguns distritos de Sofala os aplausos cessaram.
Não importa revisitar o passado se não for para aprender dos erros cometidos.
Ou se cimenta o sentido ideológico e filosófico do que é ser-se oposição em Moçambique ou então vamos chegar a uma situação em que não faz nenhum sentido dizer ques e está contra o que o partido no podeer está a fazer. Se vamos enveredar pela oposição para fazer o mesmo jogo político que a posição faz, se vamos permitir que a liderança de um partido da oposição fique amarrada aos jogos étnicos e ao oportunismo político, então muita coisa proclamada e propalada fica sem sentido.
Acabemos com os deputados eternos e com os primos-deputados. Não se deve fazer o mesmo que os “camaradas”. Moçambique e os moçambicanos são muito mais do que os membros da Comissão Política ou Bureau Político de um partido político.
O tom reconciliatório do primeiro discurso do segundo mandato de Guebuza pode ser o início da tantativa de convencer os seus adversários de que ele pretende modificar alguma coisa no seu relacionamento com eles. Mas é difícil que o PR queira realmente ceder alguma fatia do poder aos seus adversários.
Se podemos dizer e considerar de bem pensada a iniciativa de convidar os seus adversários directos para um almoço também não podemos deixar de reconhecer que é um almoço que como tudo indica será a dois e não a três, porque o seu mais directo adversário, Afonso Dlakama, primará por não responder ao convite.
Mas para que será tal convite de almoço? Para ir conversar alguma coisa de substancial que tenha a haver com a real situação do país? Ou será mais um gesto para acalmar os doadores e dar a entender a comunidade internacional de que se cumpriu com as exigências dos G-19? Que afinal quem não quer inclusão e participação é a oposição e não a liderança da Frelimo?
Tenho muitas dúvidas sobre os resultados e impacto real de tais jantares ou almoços.
Quando era de importancia crucial ceder e envolver todos os outros partidos nas eleições vimos dois partidos concordarem entre si na exclusão dos outros.
Agora a única coisa que se poder dizer é que apoiamnos todas as iniciativas tendentes a colocar os moçambicanos na rota do diálogo. Mas que seja um diálogo de iguais em que não haja subterfúgios e agendas “escondidas nas mangas das camisas”.
Chega de fazer batota no jogo político moçambicano.

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