Thursday, 14 January 2010

Pax Guebuziana? Guebuza adulto ou Maquiavel teria que voltar a escola?

Surpreendeu-me pela positiva o discurso de tomada de posse de Armando Emilio Guebuza! Tirando alguns arranhoes, quem sabe por forca de habito, o discurso de AEG recebe uma nota positiva, nao apenas pela extensao (curto) mas sobretudo pela sua plenitude e espirito de inclusao. Sem exageros Guebuza mencionou a palavra unidade nacional em nao menos de 10 vezes! Se tivermos o mesmo conceito!

Contrariamente ao que nos habituou, Guebuza usou o seu discurso para sarar as feridas abertas durante os cinco anos de governacao, bem como as criadas nas recentes eleicoes. Ao nao optar pelo 'se nao estas connosco, estas contra nos' ou ao nao chamar a seus criticos de 'apostolos da desgraca' Guebuza trouxe neste seu discurso uma nova lufada de ar fresco e de esperanca a milhares de mocambicanos que viam nos dois tercos, um mandato para o reforco da arrogancia, da ditatura e do desprezo pelo pensar diferente! Ao ser verdade o que se aventa sobre quem sera Primeiro Ministro, esta lufada de ar fresco podera transformar-se em primavera guebuziana! Resta saber se a primaveira sera duradoira ou entao de curta duracao!

Sob comando do Venerando Presidente do Tribunal Constitucional, Luis Mondlane, Guebuza jurou, citando o artigo 150. No. 2 da nossa Constituicao, '... respeitar e fazer respeitar a Constituicao'... , a 'Defesa e promocao da Unidade Nacional' e '... fazer justica a todos os cidadaos...'.

Apesar de nao ter fugido aos seus temas de eleicao na governacao anterior, nomeadamente o combate a pobreza, ao espirito do deixa andar e ao burocratismo, Guebuza deixou de fora a arrogancia que o caracterizava e falou para os mocambicanos. Para alem disso, Guebuza inovou, ao reconhecer alguns fracassos na 'sua guerra contra a pobreza', quando elegeu o combate a pobreza urbana como um dos seus novos standardes. Ou seja, implicitamente, Guebuza reconheceu que a pobreza urbana aumentou, concordando com varios estudos e autores, dai a necessidade da eleicao do tema para o presente mandato. E quando um lider sabe reconhecer seus erros e falhas, e sinal de grandeza!

No seu discurso Guebuza repetiu pedagogicamente a logica do seu pensamento ao afirmar que 'identificado o problema (pobreza) e suas causas, tinhamos duas opcoes: resignar ou armarmo-nos da nossa auto-estima, orgulho pela nossa historia e cultura, auto-confianca, auto-superacao' para combater-mos o mal.

Mencionou ainda, como nao deixaria de ser, as maiores realizacoes, a construcao de escolas, hospitais, extensao de eletricidade a varias zonas, a construcao e reabilitacao de estradas (tirando as da cidade de Quelimane de que convenientemente se esqueceu), criacao de postos de trabalho, os sete milhoes, para concluir a dado passo que a pobreza recuou, tendo se esquecido que o ditado popular que diz, 'recuar nao e fugir, pode ser o tomar de novas posicoes'! Teria somando pontos se Guebuza, neste paragrafo reconhecesse que apesar de termos aumentado o numero de escolas, de hospitais, de rodovias, a qualidade do ensino, dos servicos de saude e das rodovias esta aquem das nossas aspiracoes! E mais Guebuza ficou aquem da minha expectactiva quando nao teve a coragem de assumir que o objectivo principal dos mocambicanos e quica do nosso estado e a criacao da riqueza! E que um estado que se preze e que queira competir no teatro das nacoes nao deve ter como objectivo principal apenas combater a pobreza! Tem de ser mais ambicioso! A nossa auto-estima nao se cria combatendo a pobreza, cria-se, criando riqueza, que por sua vez combatera a pobreza! E que a pobreza pode ser combatida com dinheiro alheio, o que suponho nao reforcaria a tal auto-estima e muito menos a nossa mocambicanidade, dois apanagios de AEG.

Para nao deixar a sua veia poetica em maos alheias, Guebuza poetizou tendo como substracto a unidade nacional ao afirmar que '... A unidade nacional e o sangue que corre nas arterias da nossa sociedade...' para mais tarde enfatizar que a 'alternativa a paz e a propria paz'!

Ao referir-se nao raras vezes a necessidade de reforcar 'o sentido de cidadania, pertenca e inclusao' bem como a necesidade de 'promover a diversificacao de oportunidades', o 'reforco do estado de direito' Guebuza mais uma vez levantou muito alto a barra de esperanca dos mocambicanos, da mesma forma que o fizera em 2004 com o combate ao deixa andar, burocratismo e corrupcao. Temas que o perseguiram durante todo o mandato e diga-se de passagem sem grandes sucessos!.

O discurso de tomada de posse, diga-se de passagem seguiu a risca o estatuido na Constituicao da Republica. Um discurso que cobriu Mocambique de les a les, do Rovuma a Ponta do Ouro e do Zumbo ao Chinde!

Diga-se em abono da verdade que se um extra-terrestre estivesse a chegar naquele instante a Mocambique, e escutasse na integra o discurso de Guebuza, se comoveria, juraria e acreditaria que estava perante um lider que ama o seu povo, que ama a democracia, a liberdade, os direitos fundamentais ou seja que estava senao perante um santo, pelo menos estaria proximo de um homem de bem! Mas estando em Mocambique, tendo nascido e vivido neste pais, algumas reticencias se levantam! E que o povo diz que 'quando a esmola e grande, o pobre desconfia'! E porque sou pobre, acho que tenho nao so o direito, mas tambem o dever de desconfiar desta esmola, porque de facto e grande!

Conseguira Guebuza cumprir a risca o que solenemente prometeu perante milhares de mocambicanos e dignidades estrangeiras, ou estamos perante um lider maquivelico que pisca a esquerda e em seguida vira a direita?

Tera sido o discurso da tomada de posse, uma inspiracao divina, ou tratar-se-a de mais um discurso camaleonesco, com o intuido de embalar bois, e so para 'ingles ver' e conseguir a aprovacao do Orcamento Geral de Estado, tal como aconteceu com a CNE, que depois de receber os vitais desembolsos perdeu a sensibilidade auditiva?

Conseguira Guebuza demover a maquina partidaria e governativa snaspesca que montou e continua a montar do Rovuma a Ponta do Ouro e do Zumbo ao Indico a pautar-se pelo respeito a constituicao e ao estado de direito? De que Constituicao e de que Estado de Direito esta Guebuza falando?

Como conciliar este discurso de paz e reconciliacao nacional com a entrada por exemplo na cidade de Quelimane de um blindado militar em plena quadra festiva? Estamos em guerra? Se sim porque nao se abrir ao povo explicando claramente os perigos que enfrentamos? Como conciliar este discurso de paz e reconciliacao nacional com a entrada em cena de agentes da PIR armados ate aos dentes em varios distritos do vale do Zambeze, com a crescente nomeacao de administradores militares ao longo do Vale do Zambeze, com o crescente clima de inseguranca em varios distritos do Vale do Zambeze, onde cidadaos pacatos ja nao passam noites nas suas residencias? Como conciliar as ameacas snaspescas a que cidadaos estao sendo alvo em varios cantos deste indico pais?

Estas sao pequenas reflexoes que me invadiram depois de acompanhar a investudura do Presidente da Republica!

Tenho que confessar que se foi fingimento, se todo aquele palavreado poetico visava ludibriar os menos atentos, entao deveriamos transferir Hollywood para Maputo e deveriamos instaurar um Premio Nobel especial para AEG e seus assessores! Mas se este discurso foi sincero, e tem suas raizes no coracao do cidadao Armando Emilio Guebuza, entao, hoje 14.01.10, inauguramos uma nova era, a 'Era da pax Guebuziana!

Que Deus me oica, pois o seguro morreu de velho!

3 comments:

Reflectindo said...

Será necessário rebuscar o discurso de 2005 para comparar com este de hoje. Daí avaliar-se-ia o primeiro mandato de Guebuza para perspectivar-se este que é último.

Anonymous said...

Es um pedagogo por excelencia! Se o discurso era uma musica para boi dormir, eu ja estava dormindo. Depois de ler este artigo de opiniao abri um olho.

Anonymous said...

Caro Manuel vou discordar na fundassao que te referes, e muito bem sabes os protagonistas dessa querida criassao e foi muito antes de eu ca chegar a duas decadas. E pelos vistos julgo que mesmo vocemece nao tinha ainda sonhado que em ca vir.

Mussa Quintoano