Friday, 29 January 2010

Criação do AFRICOM é uma importante iniciativa

Em Estugarda

- defende Moeletsi Mbeki, comentador sul-africano

Pretoria (Canalmoz) - Num discurso proferido a semana passada na sede do Comando Africano (AFRICOM) dos Estados Unidos em Estugarda, o comentador sul-africano, Moeletsi Mbeki, disse que “não obstante ser indesejável dar ênfase à opção militar como forma de se lidar com os desafios enfrentados pelo continente africano, não se devia excluir o uso da força como forma de se resolverem os problemas de África”. Por essa razão, acrescentou, “a criação do Comando Africano pelo governo dos Estados Unidos foi uma importante iniciativa”.
Moeletsi Mbeki, que é irmão do antigo chefe de Estado sul-africano, Thabo Mbeki, salientou que “o AFRICOM não deveria simplesmente limitar-se a trabalhar apenas com governos africanos, mas também a envolver-se com entidades não estatais como forma de ajudar na reconstrução das sociedades”, premissa que considerou ser “de pré-condição para se alcançar a segurança em África”.
Na sua alocução, Moeletsi Mbeki, que presentemente desempenha as funções de vice-presidente do Instituto Sul-Africano de Relações Internacionais, começou por defender que, ao contrário do que muitos dos analistas acreditam, “o desafio que se coloca perante a África subsariana não é a construção de Estados, mas antes a edificação de sociedades”. Para Mbeki, “a edificação de uma sociedade viável, sustentável e estável exige a criação e o desenvolvimento de um grupo ou grupos legítimos e socialmente hegemónicos que possam construir um Estado viável”, destacando a seguir “que as potências coloniais europeias não haviam conseguido realizar esse objectivo na África subsariana antes da sua partida nos meados nos anos 50 e princípios dos anos 60.” Em vez disso, referiu Moeletsi Mbeki, as potências coloniais europeias deixaram algo que se assemelhava a um Estado desprovido de quaisquer alicerces sociais. Foi isto o que deu lugar à instabilidade em África no decurso do último meio século”. O comentador sul-africano acrescentou que “esta instabilidade prevalece até aos dias de hoje em muitos países apesar de um alguns sinais de esperança patentes num punhado de países”.
Moeletsi Mbeki considera que “o factor mais importante na criação de uma sociedade capitalista estável reside na ascensão de uma classe de grandes posses. Por si só, essa classe não é suficiente para criar uma sociedade estável pois para desenvolver os bens que detém e torná-los lucrativos, ela necessita das capacidades técnicas e de gestão das classes de profissionais e de artesãos, normalmente descritas como constituindo a classe média. O poder de negociação desta classe média pode também influenciar e restringir o poder político dos grandes proprietários. Este equilíbrio de forças a nível existencial culmina no surgimento do Estado. Este, é uma criação das formações sociais em jogo, as quais ditam as regras das relações estáveis a desenvolverem-se entre si.”
Na opinião de Mbeki, as potências coloniais europeias não haviam conseguido “desenvolver as suas colónias africanas nos moldes atrás descritos”. Em vez disso, acrescentou Mbeki, “fundaram o que eu classifico de pseudo-Estados que só foram estáveis enquanto permaneceram sob controlo das potências coloniais. Logo que estas partiram, esses pseudo-Estados tornaram-se num foco de conflito entre as várias elites rudimentares que haviam emergido entre os povos indígenas durante a época colonial. As novas elites lutaram entre si como forma de assegurar o controlo das receitas fiscais e outros privilégios associados ao acesso ao poder nesses pseudo-Estados. Em última análise, tratou-se de uma competição a nível de elites, facto que explica a instabilidade política endémica em África nos últimos 50 anos.”
Moeletsi Mbeki considerou três grandes factores que foram a fonte da instabilidade na África subsariana nos últimos 500 anos, designadamente o tráfico de escravos para o chamado Novo Mundo, Egipto e Ásia Ocidental (Arábia); o colonialismo, incluindo a resistência à ocupação estrangeira e ao trabalho forçado; e o surgimento da Guerra Fria na década de 40, em que as potências capitalistas ocidentais lideradas pelos Estados Unidos, e as potências comunistas dirigidas pela União Soviética disputavam entre si o controlo de esferas de influência”.
O texto integral do discurso de Moeletsi Mbeki na sede do AFRICOM encontra-se disponível em: http://www.africom.mil/getArticle.asp?art=3913&lang=0#

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