Wednesday 11 November 2009

A Opiniao de José Celso de Macedo Soares

Queda do muro de Berlim


No dia 9 de novembro comemorou-se 20 anos da queda do muro de Berlim. Não foi apenas um movimento físico, mas a coroação de lutas em defesa da liberdade e da democracia. Sua existência e sua origem são do conhecimento dos leitores, razão porque me escuso comentá-lo em detalhes. Apenas: foi o símbolo da Guerra Fria que se arrastou por anos depois do término da Segunda Guerra Mundial. As duas grandes potências de então, Estados Unidos e Rússia, se digladiavam cada uma querendo estender sua influência sobre partes do mundo. Era a democracia contra o totalitarismo. Nos idos da década de 60 visitei Berlim Ocidental e, com amigos, conseguimos através de contatos americanos, visitar a parte oriental dominada pelos comunistas. O contraste era evidente. Enquanto em Berlim ocidental vivia-se já uma vida de alegria, com belo comércio e distrações, a parte oriental, debaixo de cruel ditadura, apresentava aspecto lúgubre. O povo cabisbaixo. Até as construções eram maciças e pesadas, marcos da era comunista. Pouco comércio.

Um pouco de história. Em 1989, na própria Rússia, já se prenunciava a desintegração do bloco soviético. Gorbatchov tinha assumido o poder e lançado a Perestroika (reformas) e a Glasnost (abertura). As repúblicas soviéticas começavam seus movimentos de independência. Na Hungria, a própria fronteira com a Áustria tinha sido aberta com a destruição da cerca de arame farpado que tentava impedir a fuga para o ocidente. Por ali passavam diariamente centenas de berlinenses que procuravam fugir da tirania da ocupação comunista.

Mas, como disse anteriormente, a construção do muro foi o ápice da Guerra Fria. Reagan de um lado com seu programa Guerra nas Estrelas encurralou a União Soviética que, já com a sua economia combalida pela ineficiência do regime comunista, não teve “cacife” para acompanhar os Estados Unidos. Emblemático o discurso de Reagan em Berlim: “Senhor Gorbatchov, derrube este muro.”

A calamidade que foi a Guerra Fria, em todos aspectos, é ressaltada por dados fornecidos pela Brooking Institution, dos Estados Unidos, em que afirma que se somarmos só as despesas militares - sem contar outros gastos indiretos com a defesa - atingiríamos a espantosa soma de 51, 6 trilhões de dólares. Quanto deste dinheiro poderia ter sido usado na ajuda a povos mais necessitados, especialmente da África…

Infelizmente os Estados Unidos não aprenderam a lição. Sob a presidência de George W. Bush lançou-se na aventura do Iraque, como se não bastasse a lição que tiveram no Vietnam.

A lição da queda do muro de Berlim e suas consequências ressaltam, principalmente, que nenhum país pode progredir sem respeito às liberdades e o pleno exercício da democracia. Desde que por incúria ou por ignorância, o cidadão não sabe fazer valer seus direitos perante o poder público, e deste abdica em ordem a constituí-lo tutor absoluto da gerência social, desde que o poder público, favorecido pela incúria ou pela ignorância dos cidadãos, vai eliminando no Estado toda ação individual, pode-se dizer que a escravidão política está perto, porque a ação coletiva do governo, em tudo, é a absorção da individualidade do cidadão. E, na sociedade política em que o individuo desaparece, o despotismo é certo.

A queda do muro de Berlim foi a revanche do indivíduo contra o despotismo comunista. E sua derrubada só foi possível porque o povo alemão tinha a educação necessária para compreender isto. Por isto que, nessas linhas, venho conclamando a necessidade do Brasil concentrar seus investimentos em educação. Se não fizermos isto, cedo construiremos em nossa sociedade um “muro de Berlim” onde, de um lado, estão os apaniguados do poder, os “companheiros”, e do outro lado os que não compactuam com este estado de coisas. Que os brasileiros pensem nisto ao escolherem seus dirigentes.

In Instituto Millennium

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