Pouco depois da formação da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), a antiga União Soviética manifestou-se apreensiva pelo facto da direcção do movimento de libertação moçambicano ter ficado nas mãos de Eduardo Mondlane, que era tido por Moscovo como estando ligado aos Estados Unidos.
“Naturalmente, os soviéticos tentaram avaliar a situação, pedindo a opinião aos seus amigos africanos”, revela Vladimir Shubin, autor do livro, “The Hot ‘Cold War’- The USSR in Southern Africa” (A ‘Guerra Fria’ Quente – A URSS na África Austral).
Shubin, que presentemente exerce as funções de vice-director do Instituto para os Estudos Africanos em Moscovo, acrescenta que no decurso da conferência constitutiva da OUA em Adis Abeba em Maio de 1963, Latyp Maksudov, representante soviético na Organização de Solidariedade Popular Afro-Asiática, abordou o nacionalista angolano, Mario Pinto de Andrade, a quem pediu a sua opinião a respeito de Eduardo Mondlane. Na opinião de Pinto de Andrade, o líder da Frelimo era “homem honesto, mas no entanto não era um político, mas um missionário.”
Acrescentou o nacionalista angolano então membro do MPLA: “Mondlane não dificulta o trabalho de Marcelino dos Santos, e aqui muito pode ser feito. O Marcelino dos Santos está a trabalhar, e portanto a Frelimo existe e actua”.
De acordo com o autor de A ‘Guerra Fria’Quente – A URSS na África Austral, Latyp Maksudov abordou depois Marcelino dos Santos, tendo este declarado: «Toda a gente sabe e nós sabemos que o presidente da Frelimo, Eduardo Momdlane, é um americano, mas de momento não existe outro homem em Moçambique que possa liderar a luta e em torno do qual as forças que lutam pela independência possam unir-se... Até agora, Mondlane é o único homem – educado, que tem ligações e influência no estrangeiro. Afinal, ele é um moçambicano negro, não um branco ou mulato como eu. Não devemos esquecer também que Mondlane é capaz de angariar dinheiro. É verdade, segundo dizem, que ele obtém o dinheiro do governo dos Estados Unidos, mas esse dinheiro vai para a luta.»
Coincidindo com o ponto de vista manifestado anteriormente a Maksudov por Mário Pinto de Andrade, Marcelino dos Santos salientou: «Decidimos logo de principio deixar que Mondlane permanecesse na direcção do movimento, e nós iremos trabalhar no seio do movimento e guiar a frente. Mais tarde, se for necessário, será possível substituir Mondlane.»
Eduardo Mondlane viria a ser assassinado a 3 de Fevereiro de 1969, em Dar es Salaam.
fonte: Canal de Moçambique - www.canalmoz.com
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