Wednesday, 2 September 2009

A Opinião de Jorge de Oliveira

Livros marcelo­moçambicanos (I) por Jorge de Oliveira


Marcelo Panguana
A Balada dos Deuses

1. Alguém disse, não me recordo onde: Isto de estar vivo, um dia ainda acaba mal. Lembrei-me dessa ao reler MP.
2. Não se pode não gostar da escrita de Marcelo Panguana. Apesar de muito elaborada, simples e curta, é perfeitamente percetível. E isso de escrever fácil é difícil; difícil de saber como se faz e, mais do que isso, quase impossível de aceitar que alguém não goste desse estilo.
3. «Dona chiquita prepara-se para penetrar na casa maior, onde ouvirá as palavras de um servo familiarizado com Deus e com o diabo. Estão acesas as velas, e tudo fica iluminado, e as almas dos defuntos ficam apaziguadas».
4. A Balada dos Deuses é um livro de pequenas dimensões, com contos pequenos mas profundos que nos levam a refletir sobre o esforço que o autor deve ter tido para encontrar os elementos em que assenta a sua escrita. Por que razão depois de tanto trabalho de recolha escreveu tão pouco?
5. Por pelo menos uma de entre várias razões, suponho. É que o valor da escrita e do autor não se mede pela dimensão do texto, mas tão-somente pela sua profundidade e beleza. E aí o MP vai lá. Conta-nos a nossa realidade através dum estilo Marceloniano: Não é totalmente inovador, mas também não se encontra nele marca chapada de outros autores. Aproxima-se dos estilos de outros e, ao mesmo tempo, deles se afasta, sem elaborar uma escrita com características exclusivamente próprias.
6. «Os que regressavam das matas densas e distantes exibiam frustradas mãos, enquanto falavam da maquiavelice dos espíritos que exportavam a caça para lugares longínquos e desabitados. Descrentes, os mais velhos riam-se da incompetência dos novos, e para quem quisesse ouvir comemoravam façanhas de caçadas antigas.»
7. Já que se fala em penumbra, pode-se perguntar: Esta é a melhor obra do Marcelo? Qual é o seu livro mais conseguido? Qualquer dos leitores pode escolher um ou outro, sendo certo que o próprio também terá a sua preferência, mas aqui, uma vez mais, será difícil encontrar consensos que apontem, com unanimidade, um título. E isso nem sempre todos autores conseguem.
Jorge de Oliveira

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