Wednesday 8 July 2009

A OPINIAO DE XAVIER DE FIGUEIREDO *

SEGUIDA PELO GOVERNO CHEFIADO POR MORGAN TSVANGIRAI Nova política internacional engulha ZANU/PF

A linha de abertura e compreensão que a política internacional segue em relação à nova situação no Zimbabué, marcada pela existência do Governo de coligação chefiado pelo líder da oposição, Morgan Tsvangirai, está a embaraçar internamente a ZANU/PF e a isolá-la.
As mais expressivas demonstrações da nova atitude da política internacional foram
as seguintes:
- A importância excepcional nítida que os EUA atribuíram à recente visita a Washington de Tsvangirai
– primeiro dirigente africano a ser recebido por Barack Obama (avião foi expressamente posto à sua disposição para o périplo; garantido um donativo de USD 73 milhões para a reconstrução do país).
- O acordo negociado com a China, publicamente anunciado por Tendai Biti, ministro das Finanças oriundo do MDC; nos termos do mesmo o Exim Bank da China providenciou
um crédito a fundo perdido de USD 5 B, como contrapartida pelo licenciamento de uma
concessão mineira para exploração de platina (potencial de reservas avaliado em USD 40 B).
A atitude da China, principal aliada do regime de Robert Mugabe na sua fase de grande
isolamento internacional anterior à formação do actual Governo, acentuou tendências
que se vinham manifestando do antecedente no sentido de uma contemporização chinesa com a nova realidade política.
A saber:
- Na mesma ocasião em que Tsvangirai efectuava a sua viagem à Europa e EUA, Mugabe mandou à China o ministro da Defesa, Emmerson Mnangawa, com o objectivo inferido de
assegurar ajudas susceptíveis de fazer esbater uma esperada obtenção de fundos por parte do PM e líder da MDC em países ainda considerados em meios da ZANU/PF como
“inimigos do Zimbabué”.
- Ao mesmo tempo que Mnangagwa se encontrava na China, o ministro das Finanças, T Biti, anunciava em Harare a conclusão com a Embaixada chinesa de um acordo contemplando um empréstimo de USD 950 milhões, acrescido de uma oferta de 4 mil
toneladas de soja.
- No dia seguinte ao anúncio Mugabe não recebeu o embaixador chinês em Harare, relegando a sua apresentação de cumprimentos de despedida para Joyce Mujuru, 1ª Vice-
Presidente.
Em coincidência temporal com o anúncio do acordo com a China, T Biti garantiu que a
partir de Jul.2009 os funcionários públicos, incluindo os professores que vinham
ameaçando com uma greve nacional, iriam passar a receber um salário mínimo de USD
300.
2 . A par das aberturas internacionais e dos efeitos positivos das mesmas na vida
da população, a ZANU/PF e o seu “braço” no regime enfrentam uma série de outros
problemas, no interior e na periferia do seu partido, como revelam as seguintes informações sobre a última sessão do seu comité central:
- Mugabe suspendeu a comissão que tratava da sua sucessão, afirmando textualmente que “pior que os inimigos externos são aqueles que nos rodeiam”.
- Conclusão de que a campanha dos jornais governamentais contra o Governo
de Tsvangirai não estava a produzir efeitos esperados, nomeadamente denegrir
os resultados da deslocação do PM à Europa e EUA; merecedor de mais procura e crédito popular um boletim informativo semanal do gabinete do PM.
- Registado como humilhação o facto de o ministro do Turismo, da ZANU/PF, ter sido impedido de assistir ao encontro de Tsvangirai com Obama.
- Constatação de que a Procuradoria-Geral está a perder em tribunais de instância e no supremo constantes acções contra parlamentares e apoiantes do MDC-T (ditadas pelo
desígnios obscuros de levar para as cadeias apoiantes e membros do parlamento do partido de Tsvangirai, por forma a garantir maioria parlamentar à ZANU/PF); outro
revés registado, a “perda” da principal testemunha contra o nomeado vice-ministro
da agricultura, Roy Bennet.
- Constatação de tendências susceptíveis de privar os militares de antigas regalias, em razão da falta de fundos no Banco Central; o crescente controlo exercido pelo Ministério das Finanças sobre o Banco Central, que nos últimos anos se prestou a
ser principal financiador da ZANU/PF e organizações afins (calcula-se que entre
2002/2008 a ZANU/PF retirava anualmente USD 500 milhões).
- Apreensão com que foi acolhida a notícia de que uma das principais fontes
de financiamento, a mina de diamantes de Chiadzwa, junto à fronteira com Moçambique, está na iminência de fechar devido a pressões internacionais.
* in Africa Monitor CM

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