Wednesday, 1 April 2009

Sua Excelência, o Régulo Dhlakama

por Jafar Gulamo Jafar (*)


O que mais custa, em política, é não ter interlocutor, principalmente quando o visado tem responsabilidades assumidas perante a sociedade, os eleitores e o país.
Quem chamou cobardes a outros, apenas por terem manifestado a sua solidariedade, por terem assumido posições, está apenas a demonstrar que o único cobarde é ele próprio. Apenas porque não discute, escondeu a cabeça na areia e deixa acontecer. A Renamo, acéfala, toma posições no Parlamento através dos seus deputados, dos poucos que ainda falam em nome do partido, mas vê-se confrontada com acusações absurdas, ao tentar travar os já habituais morticínios de que são vítimas os seus membros. Foi triste e seria ridículo se não fosse trágico, ver a Renamo ser acusada de «autoria moral» das mortes dos seus membros em Monjicual. Foi lamentável assistir ao macabro ataque ocorrido na sexta-feira na Assembleia da República, por via dos ataques de pessoas que transformaram um acto criminoso num banquete político.
É evidente que as pessoas foram presas porque eram da Renamo, nada mais, que não foram detidas em flagrante, que nada tinham a ver com a morte dos activistas da Cruz Vermelha. Os ataques de que estes foram vítimas, tiveram como causa a superstição, a ignorância e a apatia das forças policiais, que nada fizeram para proteger as vidas daqueles activistas. As detenções aconteceram para arranjar um bode expiatório, e não havia melhor do que o inimigo público número um, para os governantes locais. À falta de motivo político, arranjaram um motivo policial e trataram logo de soltar a força para cima dos membros da Renamo.
Estes, abandonados à sua sorte, como sempre estiveram, foram amontoados em celas, em condições desumanas, como se de animais se tratassem.
Não se ouviu o Líder defendê-los, não houve reacção pública do Presidente do Partido, apenas se vindo a discutir o assunto na Assembleia muito depois dos factos terem ocorrido.
Lamenta-se que, no meio dos discursos dos Parlamentares, se oiça, repetidamente, a velha canção da guerra, de que a Renamo matou, fez e aconteceu, provinda dos deputados do partido dos «meninos de coro», que nunca mataram ninguém, nunca mandaram chicotear, nunca mandaram fuzilar, nunca mandaram ninguém para os campos de reeducação, nunca mandaram ninguém para Cuba, nem para a RDA, nem para a URSS.
Foram os grandes defensores do humanismo quem desatou a avivar as feridas da guerra, que não conhecem outro discurso que não o da violência, quem, desafiando a verdade e a lógica, afirmou com todas as letras que os culpados eram a Renamo, isto é, que os mortos eram os únicos culpados por terem sido encarcerados aos montes dentro de celas minúsculas!!!
Por outras palavras, eles, por serem membros da Renamo, eram culpados por terem sido mortos.
O Presidente da Renamo, esse, nem sequer deve ter ouvido os pronunciamentos, duvida-se que tenha acompanhado a sessão parlamentar onde essas barbaridades foram ditas.
Tão pouco acompanhou o posicionamento do governo, que se limitou a dizer que a causa do morticínio foi negligência policial. Negligência, que se saiba, é uma simples violação do dever de diligência, é uma omissão do cuidado que se deve ter para que não ocorra um facto.
Não foi o que aconteceu em Monjicual. Quem amontoa 30 pessoas numa cela está a fazê-lo conscientemente, não omite nenhum dever de cuidado, age sabendo o que está a fazer e fá-lo conscientemente, portanto não deixa de agir. E não é falta, mas excesso de zelo. Excesso esse que só surge quando se trata de prender, torturar e matar gente da Renamo. Quando os criminosos são camaradas, os polícias desaparecem, nem se vêm.
Perante este quadro, o que fez o Presidente? Nada. Quando nos roubaram os votos, em 1999, em vez de se recusar a colaborar na farsa, ele decidiu aceitar que os Deputados tomassem assento na Assembleia, legitimando o roubo. Estranho comportamento de quem dizia ter força, que sabia ter sido vítima de um roubo gigantesco. Sem querer acusar ninguém, era conveniente que explicasse a razão de fundo de tal atitude. Não lhe teriam já começado a oferecer luvas? Porque embarcou ele na jogada das conversações, que deram no que deram?
O que fez depois disso? Que proveito tirou dessa situação?
E agora, depois do fracasso das autárquicas, o que vai fazer? Como explica o fracasso? Quando o treinador não ganha o campeonato, é despedido. Quando o presidente de um Partido não ganha as eleições, demite-se, ou é demitido, porque não consegue fazer passar a sua mensagem.
No nosso caso, o Presidente agarra-se à cadeira como gato a bofe, não arreda pé, fazendo jus às origens.
O régulo de Chibabava, mesmo vendo a casa cair, continua a ser régulo. Sempre vai aproveitando a bicicleta que lhe deram, o uniforme bonito, o cassetete para chamboquear os súbditos e muitas mordomias que lhe deu o Administrador. Já tem assento no Conselho dos velhos (pena é que o tal conselho nunca reúna…), pode ser chamado pelo sucessor do ex irmão. Ah, e também pode ir enchendo as palhotas com as concubinas eleitas, devidamente aprovadas pelos «madodas» que o rodeiam. O Partido, esse é um instrumento para mostrar que temos poder, que fazemos e acontecemos, serve para colocar uns miúdos (como ele próprio diz, para lhes dar a cheirar o Parlamento, o Conselho Constitucional, o Conselho Superior da Magistratura, os Conselhos Municipais, as Assembleias diversas), tudo isso decidido em função da disposição do momento e do que vai ouvindo sobre o desempenho dos que lá estavam antes. A terra natal? Essa já está um pouco hostil, vamos procurar uma base mais a norte, não é tão agitado. Enquanto houver quem se curve e faça uns salamaleques, quem continue a alimentar com o clássico «Vossa Excelência» para a esquerda, «Vossa Excelência» para a direita, continuamos a tapar este magnífico sol com a peneira.
Mas era altura de vir discutir, em sede própria, a vida do partido, porque corre o risco de, nas próximas eleições, o Administrador, se tiver receio de perdê-las, alegar que o senhor está «fora de prazo», e mandá-lo de volta para Chibabava. Vai ser como aquelas equipas que não se podem inscrever no campeonato porque os documentos não estão em dia, caducaram. Neste caso, o senhor não estará em dia, o seu mandato caducou, porque aqui é quase tudo igual, só que o Mandato caduca, não é como em Chibabava. E pode-se dizer que isso não aconteceu nas autárquicas porque já se haviam combinado os resultados… (Jafar Gulamo Jafar, Matola, Março de 2009) (*) jurista

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