A OPINIAO DO CANAL DE MOCAMBIQUE SOBRE A CORRUPCAO

Editorial

Salvem-nos dessa hecatombe!...

Maputo (Canal de Moçambique) - No país fala-se de corrupção, mas os corruptos continuam sem rosto. Na Beira, contudo, parece que as coisas são imparáveis e os “patos bravos” terminam no charco.
Não se pode dizer que os magníficos da Frelimo que de ano para ano nos vão surpreendendo com as suas habilidades mágicas, tais os casos de Chivavice Muchangage, Lourenço Bulha, e agora Jô Capece, são corruptos. Longe de nós queremos ir tão longe. Mas, na Beira, um turbilhão imparável de gente com hábitos sofisticados, a que o tempo tem vindo a assegurar a conveniente purga “disciplinar”, como nos tem dado conta Edson Macuacua, leva-nos a pensar que o Partido Frelimo começa a estar em dificuldades com quem nos apresentou como senhores do tipo “homem novo”.
Irmos ao ponto de considerarmos corruptos e atentadores da lei os citados mobilíssimos cidadãos seria usurpação de poderes que não cabem na nossa função, mas seguramente que alguém anda a colocar a sua gente em muito maus lençóis pela forma como os tem tratado. Servem apenas até que o mais conveniente é fazer deles algo descartável como uma camisinha protectora do HIV.
Se olharmos para Chivavice Muchangage, ex-1.º presidente eleito em eleições autárquicas na Beira pelo partido Frelimo, facilmente nos apercebemos que pelo caminho que ele levou, o contencioso em que está envolvido no Tribunal Judicial da Província de Sofala, terá tido algum peso. Punha seguramente em causa o “prestígio” do “partidão”. Os “patins que lhe meteram” para o Planalto da Angónia dão pelo menos sinais de que a imagem do partido hoje dirigido por Armando Guebuza não sairia bem na fotografia se ele continuasse a circular pela Praça do Município e a debicar cafés na varanda “politica e socialmente ecuménica” do Riviera, passe a publicidade gratuita à histórica pastelaria beirense.
Lourenço Bulha, ex-primeiro secretário provincial da Frelimo em Sofala, ao querer enterrar todos os beirenses à borla em urnas de finas carpintarias que durante a campanha autárquica prometia que construiria na Munhava, colocou também mal o “partidão” depois das eleições autárquicas em que saiu cilindrado pelo jovem engenheiro que hoje é não só Edil da Beira como também até já tem um movimento em marcha. Mas o facto de se saber que – em conluio com Chivavice Muchangage, quando ambos eram presidentes, um do Conselho e outro da Assembleia Municipal – qual fartar vilanagem !!!... – Bulha vendeu um terreno a uma empresa de seguros ligada ao Bim-Millennium, foi seguramente o que entornou o caldo. Também lhe ofereceram uns patins, passe a expressão, e lá se foi Lourenço com muita bulha por resolver com os seus correligionários e com a sua agora já menos amada organização partidária.
Veio Jô Capece. Era o grande salvador. O grande professor doutor. Durou três semanas. Assumiu o cargo de 1.º Secretário da Frelimo na Beira, viu tarde que o tempo não lhe sobrava para cumprir com as prioritárias tarefas que acabara de receber para salvar o seu “clube”, mas já pôs o seu lugar à disposição. Tenta agora o sempre atento, honesto e inteligente frelimista, Edson Macuacua, salvar a imagem da “seita” – como já ouvimos fervorosos membros seniores do “partidão” chamar à sua organização. Pobre secretário da Mobilização e Propaganda que está em nítida concorrência com Fernando Mazanga da Renamo no difícil papel de “limpa chaminés”!...
Sabe-se que Capece tem contas por fechar na Universidade Pedagógica. Contas aparentemente mal paradas. Tem, diremos, “rabos de palha” que o podem levar ao charco como um “pato bravo” sem leme. Vamos admitir, até prova em contrário, que a áurea deste Jô continua a ser séria. Só aos tribunais cabe a última palavra. Contudo, até lá ficamos com a impressão de que por este andar, se a força da sociedade civil no resto do País começar a ser tão interventiva como está a ser na Beira, publicamente vociferante, as mudanças na Frelimo vão ser tantas que só sobrarão os que mandam na “seita”. Salvem-nos por favor dessa hecatombe…

(X)