Monday, 13 April 2009

Frelimo numa encruzilhada na Beira

1.º Secretário do Partido renuncia ao cargo

Universidade Pedagógica e ex-timoneiro do “n’goma e maçaroca” no Chiveve, Professor Doutor Jo Capece disputam imóvel de três pisos, no bairro chique da Ponta-Gêa, e a rixa já anda pela Justiça

Beira (Canal de Moçambique) – O primeiro secretário do comité da Frelimo da cidade da Beira, Jo Capece, eleito o mês passado, teve uma passagem efémera pelo cargo. Acaba de renunciar às suas funções, sem que tivesse completado um mês da sua eleição para a referida vaga. Tem um processo-crime na Procurador da República de Moçambique, em Sofala, o qual gira em torno de um imóvel de três pisos, no bairro chique da Ponta-gêa, conforme avançou uma fonte da Universidade Pedagógica (UP).
Importa referir que Capece colocou o seu lugar à disposição num documento por si endereçado ao comité da cidade da Beira, que o elegeu.
O chefe da mobilização e propaganda da Frelimo ao nível central, Edson Macuácua, que nos confirmou a informação, revelou que a incompatibilidades em termos de funções e tarefas pesaram na decisão que levou Capece a colocar o lugar a disposição, em virtude dele ser professor simultaneamente em Xai-Xai, Maputo e Beira.
A revelação de Macuácua contradiz rumores postos a circular, segundo os quais a Comissão Política decidiu afastá-lo em virtude de correr sobre o Capece o referido processo crime devido a usurpação de um imóvel da UP da Beira, entre outras irregularidades na gestão daquele estabelecimento de ensino, ao tempo em que ele era director da mesma, caso aliás desde logo lembrado pelo «Canal de Moçambique» ao anunciar-se a eleição do professor doutor Capece.
Conforme apurámos, o referido processo da lavra do Gabinete Jurídico da UP já foi submetido ao Ministério Público, aguardando-se que o arguido seja chamado a responder. A fonte da UP, que confirmou da existência de uma queixa-crime da UP contra Capece escusou-se a entrar em pormenores em torno do assunto, alegando não está autorizada a pronunciar-se à cerca do assunto.
Entretanto, o director da delegação da Beira da Universidade Pedagógica, Zacarias Ombe, confirmou que, de facto, há um imbróglio em torno daquele imóvel, o qual está a ser tratado pelo gabinete jurídico da UP. Ele não avançou mais nada.
Na sexta-feira, telefonamos para Madalena Chiconela, acessora jurídica da UP, em Maputo, a qual afirmou que nada poderia adiantar sobre o caso da disputa de imóvel que opõe o estabelecimento de ensino ao Jó Capaece, uma vez o reitor daquela universidade se encontra ausente do país. Ela solicitou o nosso contacto, tendo dito que algum responsável da UP poderá vir a contactar-nos em breve a fim de tecer quaisquer considerações sobre o caso.
Todavia, ainda na Sexta-feira passada a nossa Reportagem contactou a Procuradoria da República de Moçambique em Sofala a fim de saber do número do processo, ao que o chefe dos serviços provinciais desta instituição nos aconselhou a remetermos um pedido por escrito nesse sentido, juntando a nossa credencial de jornalista.
Naquela mesma sexta-feira, depois de uma aturada investigação, soubemos que a casa em referência foi vendida à Universidade Pedagógica (UP) por uma senhora chamada apenas por Jamila, a quem contactamos, em vão, no sentido de apuramos factos relevantes do negócio, uma vez as nossas fontes dizem ter sido ela quem vendeu o imóvel em disputa.
Fomos a casa de Jamila, que nos atendeu através do intercomunicador, escusando-se a ir mais longe porque o assunto só poderia ser tratado pelo marido, que entretanto estava ausente.
Seja como for, conforme soubemos, o imóvel foi já registado na conservatória do registo predial em nome de Jó Capece, tornando-a oponível contra terceiros.
Contactado Jó Capece, este confirmou ter renunciado ao cargo de 1.º Secretário do Partido Frelimo na Beira.
Capece alegou que o fez devido a questões profissionais, pois tratando-se de ano eleitoral, teria dificuldades para exercer cumulativamente a sua actividade de primeiro secretario da Frelimo na Beira e ainda ser docente em Maputo, Xai-Xai e Beira.
Capece, que se manifestou bastante tranquilo, disse da sua parte, que no exercício da sua função no partido, é que encontrou a incompatibilidade, e preferiu quanto antes, renunciar para não defraudar os objectivos do partido, que tem na mira ganhar as três eleições deste ano.
Entretanto, a posição de Capace vem deitar abaixo a teoria de que ele ocupara aquela função para ganhar protecção da parte do partido, em torno da disputa sobre o referido imóvel.
Segundo Capece, nada sabe quando à questão do imóvel e processo que recai sobre ele na Procuradoria. “Este assunto estou a ouvi-lo consigo pela primeira vez”, rematou Capece quando falava ao «Canal de Moçambique» na Beira.

A curta metragem de Capece
Capece ascendeu ao cargo de 1.º Secretário da Frelimo na Beira numa eleição a 26 de Março de passado. O processo de revitalização do Partido Frelimo na Beira e na província de Sofala fora dirigido por Alberto Chipande, um ex-ministro da Defesa de Moçambique. Visava reorganizar esta formação partidária ao nível da Cidade da Beira, o que seguiu-se à suspensão do mandato do anterior ocupante da vaga deixada em aberto (Manuel Couziminho) e outros seus correligionários a quem foi cobrada de forma abrupta a derrota de Lourenço Bulha imposta por Daviz Simango na corrida ao cargo de presidente do Município local.
A convicção da Frelimo ao ter escolhido Capece tinha em vista colocar um jovem (Capece é professor doutor) “dinâmico e formado”, que pusesse contrapor a popularidade de Daviz Simango. A escolha foi desastrosa, como agora se comenta em vários círculos na Beira.
Contra todas as expectativas, segundo referimos na edição de 27 de Março, o ambiente interno depois da eleição de Capece, ficou mais complicado para a Frelimo, tal como nos afiançaram as fontes internas do partido. As “novas confusões”, de acordo com várias fontes com quem estivemos então em contacto, sobrevém do facto de se ter alegado de forma intensa que “houve fraude”. Entretanto, Edson Macuácua corroborado por Capece desmentiu que a sua renúncia tenha que ver com certo mal-estar interno. “O partido analisou o caso do camarada Capece e decidiu dar cabimento à sua decisão, bastante compreensível”, palavras de Macuácua, secretário do Comité Central da Frelimo para a Mobilização e Propaganda.
Com “fraude”, como alegaram fontes que contactaram o «Canal de Moçambique», ou sem fraude, Jó Capece obteve 32 votos, Manuel Vieira Gumançanze 15 e Fátima Batalhão 4 e assim tornou-se o novo secretário do Partido Frelimo na cidade da Beira. Foi uma passagem efémera pelo cargo, deixando a Frelimo na Beira sujeita aos mais irónicos comentários.
Para resolver a questão delicada em que agora se encontra refira-se que a Frelimo irá organizar brevemente um nova eleição para “revitalização” do seu aparelho na Beira.

(Adelino Timóteo)

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