Dom Jaime Gonçalves reage implicitamente ao líder da Renamo
“Pai, perdoe-lhes porque não sabem o que fazem” – Arcebispo da Beira
Beira (Canal de Moçambique) - O Arcebispo da Beira, Dom Jaime Pedro Gonçalves, afirmou numa conferência de imprensa, sábado, na Arquidiocese da Beira, que “Jesus resolveu a questão do mal da pessoa humana na sociedade, no mundo”. Numa alusão implícita à ofensa de que foi alvo da parte do líder da Renamo, Afonso Dlhakama, que lhe chamou de “traidor”, referiu que “agora sofremos muito com os males morais que nos atingem a todos, mas estes tem o seu perdão. Foi assim que Jesus no calvário afirmou: “Pai, perdoe-lhes porque não sabem o que fazem.”
A acusação de Dhlakama, segundo o próprio líder da “perdiz”, tem fundamento num hipotético apoio que Dom Jaime Pedro Gonçalves terá oferecido à candidatura independente de Daviz Simango às eleições autárquicas do ano passado e ao partido MDM, que acaba de se constituir, manifestando outro posicionamento político após a sua expulsão da “Renamo”.
O “Canal de Moçambique” insistiu junto daquele prelado e perguntou a D. Jaime se tinha uma resposta directa à acusação de Dhlakama, mas ele referiu que preferia não ir mais a fundo, por causa da Páscoa, um dia Santo, o que o obrigava a descurar questões menos relevantes para a Igreja.
Na sexta-feira Santa, data da morte de Jesus Cristo, a sociedade cristã moçambicana, em geral, e beirense, em particular, acordou estupefacta ao confrontar-se com o ultraje dirigido a Dom Jaime. Pela boca do líder da Renamo, este chamara-lhe Judas e traidor. Na homilia deste mesmo dia na Catedral da Beira, bastante concorrida, pelos menos mil pessoas, aquele prelado, embora não respondesse directamente ao “pai da democracia”, referiu algo implícito que “há pessoas que tem dificuldades de entender a democracia em Moçambique”.
“Às vezes aquilo que assistimos no mundo e à nossa volta dá-nos a tristeza de que não temos saída nenhuma, porque o mal é tão forte, persistente. Vamos acreditar que o sofrimento de Moçambique passe a uma alegria de Jesus. Este Moçambique tem muito que ver com a injustiça entre nós mesmos. As injustiças nas nossas instituições, cidades, de indivíduos entre si. As instituições de vida pública têm dificuldades de entender a democracia e traz muito sofrimento. Há diversa compreensão de democracia em Moçambique, e pior ainda, de sua actualização”, frisou Dom Jaime Gonçalves, Arcebispo da Beira e um dos principais obreiros da Paz assinada em Roma há cerca de 17 anos.
De acordo com as suas palavras, o sofrimento não nos pode levar ao desespero, nem o desespero de sujeição à morte, nem o de praticar assassinato e morte de outras pessoas. Não se pode pensar que a justiça é impossível. “A solução da igreja é a justiça, a nossa reconciliação. Moçambique é um país que tem muito sofrimento. Todos nós sabemos das nossas desgraças, algumas endémicas, que se repetem a cada ano, que dizimam pessoas neste país. Temos regiões que estão a morrer de fome.”
“Não há Justiça neste País” – Dom Jaime
Dom Jaime rebateu a história de democracia neste país atacando o problema dos dias que correm, o que tem custado sangue, muita prisão. “Estamos a dizer que não há Justiça neste país. As cadeias estão cheias de presos que não são considerados. Todos falamos disso. Sofremos, alguns têm mais riqueza, outros nada quase. E para isto a nossa mensagem é de esperança, tendo em conta o sofrimento que Jesus passou no calvário, antes da morte. A nossa função, como Igreja, é ajudar a vencer estes males.”
“Há gerações de homens e mulheres nossos no país que estão convencidos de que a injustiça não pode continuar em Moçambique, estando a desenvolver um trabalho benéfico para esta sociedade. É preciso melhorar este País. As Igrejas todas, temos uma força moral porque estamos unidos, para buscarmos a reconciliação. Outras religiões também têm uma certa visão para a vitória sobre o sofrimento que nos aflige em Moçambique.”
Sobre a situação da Nacala-Porto, Dom Jaime disse que não pode pronunciar-se, uma vez que “surgiu fortemente politizada”. “E nestas questões temos que estar muito atentos, para sabermos da realidade”. “Tenho que estudar para saber o que aconteceu lá.”
Sobre a morte de presos numa cela prisional em Mongicual, em Nampula, deplorou que tal tenha ocorrido numa prisão do Estado. “Não podemos justificar mortes daquela maneira por razões políticas, de outra natureza, que não seja razões de defesa da vida, justiça. Não podemos consentir que estes casos aconteçam porque afecta famílias.”
Sobre as eleições até agora realizadas no País, ele referiu que “a realidade é de sofrimento, mas o caminho está ir em direcção a luz, alegria”. “O desespero não nos pode levar a praticar o mal. O caminho é defender a vida dos presos. Estar ou não satisfeito daquilo que acontece no País depende de cada um.”
Relativamente ao mundo, Dom Jaime disse que tem a sua história de dores: o genocídio, mortes, crimes de guerra e as próprias guerras. O mundo está cheio de desalojados. “No mundo há figuras viradas para a prossecução do bem de toda a humanidade. Temos tribunais penais internacionais para reprimir crimes de guerra, genocídio. O mundo está consciente de que não pode ser assim. É o espírito de Cristo que leva os homens para este caminho da vitória da ressurreição. E para o continente africano, finalmente, onde estamos, queria me referir a contribuição da igreja católica. Reuniu-se este Igreja, junto do Santo Padre, para estudarmos o compromisso maior da Igreja na sociedade africana, procurando levar o continente à reconciliação, à justiça, propor-lhe a Paz, para uma convivência humana e fraterna”.
Novo Sínodo africano em Roma
No próximo mês de Outubro em Roma teremos a segunda assembleia do Sínodo africano em Roma, e vamos estudar o compromisso da igreja em todo o continente, ao serviço da Paz, da reconciliação e justiça. Sabeis que a Igreja está comprometido com essa realidade. O Santo Padre esteve no dia 19 de Março em Camarões para trazer esta mensagem de justiça ao povo africano. “A imagem da África no concerto do mundo é: terra de fome, miséria, SIDA, tuberculosos. É preciso trazermos esperança para África”, disse Dom Jaime.
Cresce a lista dos detractores de Dom Jaime
Entretanto, desde 1992 que a Frelimo o vinha acusando insistentemente de parcialidade em favor da Renamo, para quem Dom Jaime estava nas suas graças.
A lista dos detractores de Dom Jaime tem vindo a crescer. Segundo dados em nosso poder, o primeiro a lançar uma acusação forte ao Dom Jaime foi Manuel Tomé, da Frelimo, que o aconselhou a não se meter na Política. Depois foi a vez de Felisberto Tomás, ex-Governador de Sofala, que o recomendou a não se meter na política, e ao invés disso, rezar o pai-nosso. O actual SG da Frelimo, Filipe Paunde, também entrou em rota de colisão com o arcebispo da Beira, D. Jaime Pedro Gonçalves, a quem acusou de promover campanha em prol da RENAMO, nas vésperas das eleições gerais de 2004.
Agora a rota de colisão Dom Jaime/Dhlakama mostra que o prelado é uma personalidade de ideias próprias e não um militante da Renamo, como o tentaram conotar, sabido que as suas relações com a Frelimo nunca foram cordiais, em virtude daquela, nas suas palavras, ter “agredido o povo” após a independência do país.
A conotação de Dom Jaime com a Renamo de Dhlakama tem que ver com o papel desempenhado por aquele prelado na busca da paz, na medida em que foi ele quem contactou Dhlakama, em plena guerra civil, a fim de se iniciarem a negociação com a Frelimo, que culminou com o AGP de Roma, em 1992.
O que é a Páscoa?
A Páscoa é dia ressurreição de Jesus (cuja morte foi assinalada na sexta-feira santa). A data tem importância tendo em vista a redenção (salvação) da humanidade, pois de acordo com Dom Jaime, Jesus iluminou o mundo sobre o problema da morte e do pecado.
(Adelino Timóteo)
Hezbollah media chief killed in Israeli strike in Beirut
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The head of Hezbollah's media office, Mohamad Afif, was one of the group's
few remaining public faces.
53 minutes ago
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