Friday 27 March 2009

Frelimo pode continuar em crise na Beira

Alegada “fraude” mancha eleição do novo 1.º Secretário da Cidade
- referem fontes que contactaram o «Canal de Moçambique»
Jó Capece, ex-director do UP na Beira, é o novo timoneiro do “n’goma e maçaroca” na capital de Sofala

Beira (Canal de Moçambique) - Jó Capece foi ontem eleito 1.º Secretário do Comité da Cidade do Partido Frelimo, na Beira, num processo que deixou os membros locais do “n’goma e maçaroca” ainda mais divididos entre si do que estavam antes de um autêntico batalhão de figuras de proa da numenklatura da referida organização ter aparecido na capital de Sofala de rompante, para depor Lourenço Bulha, que até então era o 1.º Secretário Provincial; todo o elenco do secretariado a nível de Sofala; e o 1.º Secretário da cidade e respectivo órgão de direcção a nível local.
Jó António Capece o novo 1.º Secretário do Comoté da Cidade do Partido Frelimo deverá dirigir a primeira sessão ordinária do
Comité da Frelimo ao nível da Cidade
da Beira amanhã, sábado, para então se poder passar a conhecer quem serão os outros
membros do secretariado, designadamente os secretários para as áreas de Organização e Mobilização e de Administração e Finanças,
O escrutínio visando reorganizar esta formação partidária ao nível da Cidade da Beira, seguiu-se à suspensão do mandato do anterior ocupante da vaga deixada em aberto com a vassourada dada a Manuel Couziminho e outros seus correligionários a quem foi cobrada de forma abrupta a derrota de Lourenço Bulha por Daviz Simango na corrida ao cargo de presidente do Município local.
O ambiente interno depois da eleição de Capece, ficou mais complicado para a Frelimo, segundo fontes internas do partido, do que estava antes destas eleições. As “novas confusões”, de acordo com várias fontes com quem estivemos em contacto, sobrevém do facto de se estar a alegar de forma intensa que “houve fraude”.
Com “fraude”, como alegam fontes que contactaram o «Canal de Moçambique», ou sem fraude, Jó Capece obteve 32 votos, Manuel Vieira Gumançanze 15 e Fátima Batalhão 4 e é o novo secretário do Partido Frelimo na cidade da Beira.
O «Canal de Moçambique» apurou que a eleição de Capece resulta da conferência extraordinária da cidade, mas muitos membros questionam a transparência do processo e falam mesmo de “manipulação de resultados pela Comissão Política” do Comité Central do partido. Acusam a Comissão Política de ter decidido “em contrário à escolha que os delegados à conferência extraordinária haviam feito”. Segundo as fontes, os delegados escolheram Gumançanze mas este acabou sendo vencido num conclave restrito em Maputo e depois de divido o cenário e das pessoas terem entendido a mensagem então a votação acabaria por ser realmente como foi, favorável a Capece.
O que aconteceu, de facto, segundo as fontes, é que por exemplo João de Castro Nhassengo que estava na lista de Gumançanze foi obrigado por “força maior” (“leia-se da Comissão Política”) a concorrer contra Gumançanze. Acabou derrotado. Foi deste modo que quando se pensava que Gumançanze era o virtual vencedor e novo 1.º Secretário do Comité da Cidade, “repescaram” Jó Capece, que acabou vencendo Gumançanze como mostram os resultados atrás referidos.
As fontes da Frelimo que nos contactaram para “denunciar a fraude” disseram-nos que “a fraude foi orquestrada quando eram zero horas de quarta-feira, após a votação”.
Referem as fontes que quando tudo estava resolvido a favor de Gumançanze, membros da brigada central do partido que se deslocaram de Maputo à Beira decidiram interromper o processo de contagem de votos para que o escrutínio se realizasse no dia seguinte, contrariando as normas do partido. Já no dia seguinte, trouxeram aquele resultado, “bastante suspeito”.
As mesmas fontes afirmam que a sua suspeição tem que ver com o tipo de conduta, uma vez os votos “foram tomados pelo membro da brigada central Lucas Chomera”, também ministro da Administração Estatal.
Contaram-nos as fontes que a regra é os delegados elegerem o comité da cidade, que é composto por 50 a 60 membros e que o candidato a 1.º Secretário deverá fazer parte daquele número de membros. Gumançaze passou por esse processo, tendo vencido outros concorrentes como são os casos de Lino Chicoce e João de Castro Nhassengo, Lourenço Magaço, entre outros. Mas Capece nunca chegou a ser votado para o comité da cidade. “Caiu de paraquedas”, tal como sucedera antes em que já haviam, como nos contam fontes várias, tentado colocar alguns directores provinciais no posto, que só não foram preencher a vaga porque se manifestaram desinteressados em render Couziminho.
Capece foi a “pedra do dado” que jogaram, contornando eficazmente o fenómeno Gumançaze que é tido como “regila” e por isso pouco do interesse de Maputo.
Dias antes do evento, a manipulação do pleito, de acordo com as fontes, já tinha sido decidida, uma vez que já havia indícios de que Gumançaze iria vencer as eleições internas e isso não era do interesse do partido a nível central.
Na noite da quarta-feira, quando a vitória de Gumançanze, descendente de uma importante família de autoridades tradicionais do vale do Zambeze, era um dado adquirido, houve quem lhe tivesse pedido que apresentasse o seu registo criminal, o que nunca até então havia acontecido. Isso agora é visto como uma autentica rasteira que foi colocada a Gumançanze.
Gumançanze não era desejado para aquele posto, em virtude de haver quem o considere “reguila”.
Dizem os membros que nos contactaram que vários “camaradas” a nível local aconselharam Gumançanze a concorrer a fim de testar a fundo o método democrático frelimista e as verdadeiras intenções da brigada que foi de Maputo à Beira. “E comprovou-se o resultado”. “O resultado está à vista!”. “Gumançanze aceitou concorrer. Foi proposto pelo órgão central, próprio para esses efeitos. Só que, mau grado, quando o Chipande se ausenta, a equipa da brigada central, mais outros locais, juntaram-se e baralharam os procedimentos, e aí tendes o resultado” afirma bastante desapontado um camarada que abordou o «Canal de Moçambique» para o efeito.
“Qual é a diferença entre uma nomeação do delegado político da Renamo por Afonso Dhlakama e uma eleição do secretário do comité na Frelimo? Estamos a ver que não há nenhuma diferença. A Frelimo e a Renamo não diferem em nada uma da outra,” frisa esta fonte que nos pede rigoroso anonimato. E sentimento semelhante obtivemos de outras fontes que também individualmente nos contactaram. A “trama” que montaram para remover o fenómeno Gumançanze foi tido como “imperativo nacional” do partido de Armando Guebuza. Fala-se agora numa desavença entre Chipande e Guebuza como sendo a verdadeira causa do que aconteceu. “Mera luta pelo poder”, afiançam-nos. “Chipande é da ala Chissano e Guebuza quer os seus homens”.
Já em 1998, quando Chivavice Muchangage disputou com o candidato do Grupo de Reflexão e Mudança, Francisco Masquil, a presidência da autarquia da Beira, nas 1.ªs eleições autárquicas, e venceu, Gumançaze também venceu uma eleição interna do partido Frelimo para ser presidente da Assembleia Municipal da Beira, mas, como nos recordam, uma ordem vinda da Comissão Política decidiu que Lourenço Bulha era quem deveria ocupar aquela função, o que levou Gumançanze a ser preterido em favor de Bulha que agora também caiu totalmente em desgraça a nível provincial.
Depois das autárquicas em que Bulha saiu derrotado, contam-nos que “quando a Comissão Política agora suspendeu o secretariado provincial constituído por Lourenço Bulha (secretário provincial do Comité Provincial de Sofala), Chaki Aboobacar (secretário para a área de organização), Zandamela Juga (secretário para Mobilização e Organizações Sociais), Tomás Loiane (secretário do departamento de Administração e Finanças) e Bernardete Roque (secretária para Assuntos Autárquicos e Angariação de Fundos), além de Manuel Couziminho como 1.º secretário da Cidade, julgávamos que depois da vassourada, as coisas viriam ao normal. Mas nada disso”, disse-nos uma das nossas fontes. “Maputo decidiu pela Beira, e as coisas não vão funcionar”, comenta outra. “Nas próximas eleições teremos o resultado, porque estamos desapontados”, remata um outro “camarada” que entrevistámos.

A versão oficial do Partido Frelimo

Chamamos à atenção dos leitores para o facto de não termos conseguido a versão oficial do partido Frelimo sobre estes acontecimentos que importantes figuras locais nos procuraram para contar. Quer a porta-voz da referida conferência extraordinária, Cremilda Sabino, quer o chefe da mobilização e propaganda do CC, Edson Macuácua, a quem telefonámos, não nos atenderam. Iremos continuar a tentar ouvir a versão que tenham para nos dar, de modo a que na próxima edição possamos voltar ao assunto.

Quem é Jó Capace?

Jó Capece é Doutor pela pontifica Universidade de São Paulo, do Brasil, professor na Universidade Pedagógica, na Beira, onde também já exerceu a função de director. É actualmente o presidente da Direcção do Clube Náutico da Beira.
Foi substituído na direcção da UP a nível da Beira de forma até hoje não devidamente esclarecida. Pesam sobre ele suspeitas de “má gestão” do fundo de investimento para edificação do anfiteatro ou futuro Centro de Conferências da Universidade Pedagógica no antigo edifício do Cinema 3 de Fevereiro ou ex-Cinema S.Jorge, na Beira. As obras pararam há vários meses. Estão interrompidas sensivelmente desde quando Capece deixou de dirigir a UP na Beira.

(Adelino Timóteo)

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