Já é tradicional, em cada final de ano, o SAVANA eleger a figura, instituição ou grupo de cidadãos que mais se destacou no desempenho das suas funções. No 2008, elegemos como nossa Figura do Ano os Jovens de 5 de Fereveiro e o padre Latino Caetano Ligonha. Para a pior figura do ano, os jornalistas desta casa não perderam tempo em discussões: elegeram por unanimidade e aclamação Afonso Dhlakama pelo seu comportamento na preparação da máquina renamista para as eleições autárquicas, onde a “Perdiz” saiu praticamente com uma mão cheia de nada, depois de, em 2003, ter
ficado no controlo de cinco autaquias.
Porquê heróis do 5 de Fevereiro?
O ano 2008 foi, tal como foram os outros, marcado por vários acontecimentos que, por sua vez, marcaram profundamente a vida do povo moçambicano enquanto comunidade de destino. Nessa cadeia de acontecimentos, de factos que marcaram profundamente a vida do país, destacamos a revolta popular (outros dirão tumultos, revolta…) de 5 de Fevereiro. A mesma teve à sua retaguarda o anúncio do aumento dos preços de transportes semi-colectivos nas cidades de Maputo e Matola. Os transportadores decidiram agravar as passagens, após o Governo rever em alta os preços dos combustíveis, sobretudo o gasóleo.
Naquela terça-feira as artérias das cidades de Maputo e Matola estavam dominadas por grupos de pessoas, a maioria jovem, que reivindicavam a manutenção dos preços do transporte semi-colectivo. Os nossos chapas.
Para nós, aqueles jovens foram os verdadeiros heróis do ano, são a figura do ano 2008. Foram eles, melhor do que ninguém, que souberam usar a manifestação de rua, uma das armas que a democracia dá aos mais fracos para se defenderem, para restabelecer aquilo que no imaginário popular representava a ordem.
É preciso deixar claro que ao distinguirmos estes jovens, não estamos a homologar a acção daqueles que, em nome da revolta, saquearam lojas e armazens, assaltaram e queimaram viaturas. Não estamos a sancionar a violência que presidiu o 5 de Fevereiro. Estamos, isso sim, a distinguir aqueles que saíram à rua para dizer BASTA.
E, com efeito, foi o seu BASTA que obrigou o Governo a negociar com os transportadores a manutenção do preço de transporte nas cidades de Maputo e Matola. Foi o seu BASTA que obrigou o Governo a compensar os chapeiros com um valor equivalente à fixação de 31 meticais o preço de um litro e diesel até finais de 2008. Foi com receio de um segundo BASTA que o Governo foi consentindo uma série de “sacrifícios fiscais” para manter estável o preço de combustível no mercado interno. Isso numa altura em o barril de petróleo era transacionado acima dos 100 dólares norte-americanos no mercado internacional.
Mas, mais importante ainda, os jovens-actores do 5 de Fervereiro lançaram um recado ao Governo no sentido de tornar o Estado menos distante do povo e mais interventivo. Do 5 de Fevereiro o executivo aprendeu, cremos, a ter mais sensibilidade ao tratar de assuntos com impacto directo e imediato na vida de pessoas. Aprendeu que ao agravar o preço do combustível, não está apenas a alterar números. Está também
a mexer com a dinâmica da vida de pessoas. Porque, por detrás dos números, estão vidas humanas, está o futuro da nação.
Gesto de cidadania
De Fevereiro a esta parte, o Governo nunca veio a terreiro anunciar o aumento de preço de diesel, o combustível mais usado em Moçambique. Sempre anunciou a sua diminuição. Mesmo quando o barril estava a ser transacionado acima dos 140 dólares norte-americanos. Isso é um sinal positivo, é um sinal de que o executivo não pensa apenas em termos aritméticos, mas também humanos. A estatística não deve sobreporse
ao humano. O Estado não deve agir como um comerciante que agrava o preço dos produtos sempre que sobe o preço da mercadoria ou/e de outros variantes determinntes na fixação do preço. O Estado deve agir na base do contrato social que o vincula ao povo.
As pessoas que saíram à rua para manifestar o descontentamento face ao aumento do preço de transporte representam as classes desfavorecidas. A consciência que elas foram adquirindo da sua marginalização do cenário político, da distância que lhes separa do Estado, é que lhes permitiu tornar-se sujeitos e actores históricos. As lutas e inconformismos sociais, de que o 5 de Fevereiro é disso exemplo, são algumas das formas de os excluídos conquistarem a cidadania. Porque ela, a cidadania, tal como a liberdade, não é uma doação do Estado, não é algo que se dá aquém não tem quando a pede, ela conquista-se através de lutas de reivindicação. A violência que presidiu o 5 de Fevereiro é de todo condenável. Mas não devemos nos esquecer que quando grupos sociais se sentem excluídos e sem alternativas de negociação, fazem da
violência a sua ferramenta privilegiada para protestar.
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47 minutes ago
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