Tuesday, 6 January 2009

Oficiais da Polícia na fuga de Anibalzinho

Estranhamente ainda não foram detidos

Por Raul Senda

Tal como o SAVANA já havia reportado em edições anteriores, o Ministério do Interior (MINT) confirmou, esta segunda-feira, o evolvimento de altas patentes na fuga de três perigosos cadastrados das celas do Comando da Cidade de Maputo. Ao que o nosso jornal apurou, os indiciados ainda não foram formalmente detidos, mas têm os seus movimentos limitados, uma medida decretada pela chefia do MINT enquanto o processo ganha contornos judiciais.

Segundo o MINT, o falecido director da Ordem e Segurança Pública de Maputo, Feliciano Juvane, José Domingos Tomás, que na altura exercia funções de Comandante da PRM na cidade de Maputo; Clemente Nhacula, responsável pelo departamento de Protecção no mesmo Comando; William Tivane e Jorge Torrezão, chefes de Departamento de Operações e das Celas, estavam a par das movimentações que culminaram com a fuga daquele trio. Aliás, em entrevista ao semanário Magazine Independente, Benedito Zinocacassa, General da Polícia, havia denunciado a cumplicidade de altos oficiais da corporação na operação que terminou com a saída de Anibalzinho, Todinho e Samito. As reacções não se fizeram esperar: Zinocacassa foi duramente criticado nos círculos restritos da bufaria.

Liberdade

Contudo, ao contrário do que se verificou com os guardas estagiários que foram imediatamente presos depois de se “descobrir” a fuga, o MINT não agiu da mesma forma quando o inquérito indicou o envolvimento de altas patentes.

O comunicado divulgado esta segunda-feira, 29 de Dezembro, refere que, durante dez dias, uma equipa liderada pelo director Nacional da Polícia de Investigação Criminal (PIC), Carlos Comé, e não Benedito Zinocacassa como anteriormente Pedro Cossa tinha anunciado, averiguou as circunstâncias que culminaram com a fuga de Anibalzinho, Todinho e Samito.

Nas investigações feitas chegou-se à conclusão de que José Domingos Tomás, que na altura exercia funções de Comandante da PRM na cidade de Maputo; Clemente Nhacula, responsável pelo departamento de Protecção no mesmo Comando; William Tivane e Jorge Torrezão, chefes de Departamento de Operações e das Celas respectivamente no Comando da PRM na cidade de Maputo, terão facilitado a saída daqueles três indivíduos.

Entende a equipa de Comé que os cinco elementos de alta patente da PRM tinham conhecimento de que aqueles três cadastrados tencionavam sair da cadeia.

Sublinha que mesmo com essas indicações, os cinco responsáveis ignoraram a informação dos seus subordinados, ou seja, não tomaram qualquer medida tendente a reduzir o risco de fuga.

Conta o relatório da Comissão que aqueles elementos foram informados do plano de fuga dos três cadastrados por escrito.

No seu ponto número dois, o documento da Comissão de Inquérito sublinha que dois dias antes da saída dos três malfeitores, (5 de Dezembro) a direcção da PRM na cidade, ora suspensa, foi informada (por escrito) da movimentação de instrumentos contundentes, perfurantes e cortantes dentro das celas; da comunicação entre os reclusos, apesar de estarem em celas diferentes e cada um deles com a sua hora do banho de sol bem como da abertura do buraco, mas estes ignoraram a informação e, estranhamente, a mesma não foi reportada no relatório de ocorrências diárias tal como se opunha.

A comissão de Inquérito chegou à conclusão de que os seis polícias, muitos deles estagiários, que compunham o turno de guarnição e que foram imediatamente presos, não têm nenhuma culpa. Assim, foram restituídos à liberdade e ordenados a regressar aos seus postos de trabalho.

Na sequência desta negligência que culminou com a fuga do trio, José Pacheco demitiu os cinco elementos que dirigiam a PRM na cidade de Maputo e mandou instaurar processos disciplinares e criminais. Estes oficiais aguardam em liberdade, mas com movimentos controlados, ao contrário do que se verificou com os seis guardas.

Questionado acerca deste facto, Pedro Cossa recusou tecer qualquer comentário alegando que a sua missão limitava-se à apresentação do relatório e não responder a perguntas.

Referir que as conclusões da Comissão de Inquérito já tinham sido adiantadas pelo SAVANA na sua edição de 12 de Dezembro e confirmaram também as declarações de Benedito Zonocacassa que referiam que a saída dos três cadastrados foi orquestrada por altas patentes da PRM, os chamados generais de saque.

Nessa altura, o SAVANA dizia que Anibalzinho, Todinho e Samito estavam em celas individuais com portas blindadas e trancadas com dois cadeados cada uma delas. Cada um destes enclausurados tinha a sua hora de banho solar, mas estranhamente no dia da fuga, as suas celas foram abertas ao mesmo tempo.

Outro ponto apresentado pelo SAVANA é que devido ao perigo que aqueles três cadastrados representam, as suas celas eram inspeccionadas todos os dias. No entanto, o pessoal encarregue de fazer a vistoria, estranhamente no sábado bem como no domingo não executou este trabalho.

Fontes policiais indicaram-nos que Juvane e outras altas patentes eram suspeitos de ter ligações com Samito e Todinho, dois perigosos cadastrados acusados de assassinatos selectivos a membros da Polícia.

Feliciano Juvane era ainda conotado como sendo um indivíduo que tinha fortes relações com Agostinho Chaúque. Juvane disse publicamente, em Julho de 2007, que avistou-se várias vezes com Chaúque, mas sem saber que era procurado pela Polícia.

SAVANA - 02.01.2009

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