Friday, 5 December 2008

Quiterajo: Populares cobram a Machava promessas do antigo governador

O COMICIO que se previa durasse uma hora e trinta minutos, na aldeia Mitacata, Posto Administrativo de Quiterajo, distrito de Macomia, em Cabo Delgado, dirigido pelo governador Provincial, Eliseu Machava, acabou precipitado para durar menos de metade deste tempo em razão do embaraço que intervenções populares criaram ao dirigente e sua comitiva ao condicionarem a realização cabal da reunião à satisfação completa das promessas feitas pelo seu antecessor, Lázaro Mathe, numa das suas visitas àquele povoado.

Maputo, Sexta-Feira, 5 de Dezembro de 2008: Notícias

O primeiro a falar, dos cinco que haviam sido pedidos para intervir, foi um aldeão de nome Sumail que lamentou que o posto de saúde local não estivesse a servir convenientemente às populações por ser pequeno e pediu ao governador para que lhe indicasse quem era o dono dos elefantes que todos os dias fazem estragos em bens e vidas humanas.
Sumail disse a Eliseu Machava que não gostaria que o governador falasse mais nada antes que se comprometesse a acabar com a fome naquele momento ou viagem, se bem que todos os esforços das populações são desvalorizados pela acção dos animais bravios, em particular os elefantes, entretanto defendidos pelo Governo.
“Enganaram-nos dizendo que conservassêmos os elefantes, porque seriam fechados e em consequência disso teríamos um hospital, uma escola, uma estrada melhorada. Disseram-nos aqui que por sermos criadores de elefantes teríamos todas estas condições, mas nada está a aconecer. Hoje vem o governador falar-nos da luta contra a fome! Por favor, acaba o senhor hoje! Não sai daqui sem acabar a fome”, disse o orador, para terminar pedindo que a delegação de Machava não voltasse a enganar as populações.
Seguiu-se-lhe Mohamed Abubacar que repisou os aspectos ligados à exiguidade do espaço do hospital, a necessidade de localizar o dono dos elefantes e disse saber que há três anos que há fundos para a reabilitação da estrada Mucojo/Quiterajo, que nunca é materializada e sugeriu:
“ O tractor que sabemos que o distrito comprou para quê vai servir, se não o trazem para aqui onde podemos utilizá-lo para a abertura de machambas? Tem que estar claro que com a enxada de cabo curto nunca vamos resolver o problema da fome, queremos tractor, que seja permanente aqui em Quiterajo”.
Mas quem veio a embaçar foi Baptista Buraimo que disse que não estava habituado a que os “brancos” (referência às autoridades) mintam. Condenou o facto de o antigo governador, Lázaro Mathe, ter prometido muitas coisas sobre as quais, conforme as palavras de Eliseu Machava, se voltaria a falar. Disse que a terra era do povo pelo que era estranho que outros mandassem que os elefantes fossem acarinhados, mesmo sabendo dos estragos que estão a causar.
“Tinham dito que por sermos criadores de elefantes beneficiaríamos de 20 por cento sobre os rendimentos que tal actividade teria, até hoje ninguém sabe disso, não podemos pescar em certas áreas, não podemos explorar as riquezas que Deus nos deu, porque temos que conservar e quando vêm para aqui nos mentem. Tudo isso que o senhor governador quer-nos dizer já foi dito por Lázaro Mathe, hoje queremos as respostas concrectas, porque vocês não são diferentes, vêm do mesmo comando”, disse.
O governador provincial, perante estes factos, disse que estava a visitar pela primeira vez a região e estava a se deparar com a população a lhe informar que havia muitas promessas não cumpridas.
“Eu não vou prometer nada, mas entendo que a população é trabalhadora e quer ver o desenvolvimento. Quando a população não nota uma evolução em relação à satisfação das suas necessidades, acaba desconfiando a todos. Têm razão! Não vamos prometer nada, mas se conseguirmos fazer alguma coisa, hão-de ver, se conseguirmos fazer algo hão-de confiar em nós, por favo, trabalhem com as pessoas que vos visitam, pela primeira vez, falem do que não gostaram, mas não desconfiem das pessoas que vos contactam pela primeira vez”, pediu.
Eliseu Machava mais adiante daria por terminado o encontro com as seguintes palavras: “voltaremos a falar dos mesmos problemas, aí sim, falaremos mais, isso quando cá viermos outra vez. Hoje prefiro terminar o encontro por aqui.
Já em conferência de imprensa, o governador, posto perante o embaraço que se criou, respondeu aos jornalistas que prefereria trabalhar para resolver os problemas colocados pela população do que andar atrás de situações passadas que com alguma razão as populações insistem que querem ver resolvidas.
“Prefiro trabalhar para resolver os problemas colocados, que são concretos. Eu não sei se a população entendeu a mensagem do antigo governador ou se de facto é o problema de promessas não cumpridas”.
Já antes e em jeito de introdução, Eliseu Machava havia conseguido fazer passar a mensagem segundo a qual o Governo sabe que ainda somos pobres e que a pobreza não acaba por si, senão com o esforço de cada um.
“Está claro que cada um de nós pode viver conforme o resultado do seu trabalho, Deus dá a quem trabalha e tudo o que temos é resultado do nosso trabalho”.

SIM, HOUVE PROMESSAS


Maputo, Sexta-Feira, 5 de Dezembro de 2008:: Notícias

O nosso Jornal falou sobre o assunto com o Chefe do Posto Administrativo de Quiterajo, Ansumane Anli, sobre a essência da atitude dos populares que intervieram no comício abortado, tendo afirmado que houve na verdade promessas não satisfeitas que o povo tem-nas como mágoa.
“Nada acontece, aos olhos da população em relação à resolução do problema do conflito Homem/fauna bravia, os ataques dos elefantes às populações, machambas e ultimamente celeiros, são frequentes. No ano passado mataram seis pessoas, este ano, felizmente, ainda não houve nenhuma vítima mortal, só assistimos impávidos à destruição de machambas e celeiros. Dizia-se que haveria a abertura de muitos furos de água, mas neste momento a agua potável, portanto de poços equipados com bombas, só é consumida pela população de apenas 4 das 11 aldeias do Posto Administrativo de Quiterajo.
Na verdade, dos 9.022 habitantes de Quieterajo, conforme estes dados, apenas 4550 pessoas consomem a agua potável e em todo o posto administrativo e para toda esta população há um centro de saúde, que, conforme Ansumane Anli, foi concebido como um posto de saúde, com uma maternidade de pequenas dimensões e para piorar o quadro, um posto de saúde encontra-se concluído na localidade de Piqueue, mas não está a funcionar por falta de pessoal hospitalar e medicamentos.
Uma das promessas mais badaladas pela população no comicio foi a reabilitação da estrada Mucojo/Quiterajo, um troço de 39 quilómetros, que conforme os intervenientes, há três anos que sabem que têm fundos disponíveis.
O chefe do posto administrativo disse tratar-se duma promessa do Instituto de Desenvolvimento de Pesca de Pequena Escala, com largos interesses na região. Já em Pemba, contactámos o respectivo delegado, Albino Magona, que confirmou os factos nos seguintes termos:
“É verdade que fomos nós a prometer. Estamos, entretanto, a passar por um processo burocrático, trata-se de fundos dos BAD (Banco Africano para o Desenvolvimento) , que primeiro foi dificil encontrarmos um vencedor do concurso para a adjudicação da obra, todos os concorrentes não reuniam os requisitos exigidos e agora que foi encontrado o vencedor estamos com atrasos nas finanças, o processo está a atrasar nas Finanças”.

Pedro Nacuo

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