Tuesday, 16 December 2008

Produzir ananás para vencer pobreza

- aposta de um empreendedor de Nicoadala, na Zambézia

HERDOU a actividade do seu pai que era um pequeno produtor de anánas na região do Quinta Girassol no distrito de Nicoadala. Antes de abraçar a produção de ananás experimentou outras actividades, nomeadamente a de carvoeiro. Abandonou-a por duas razões, nomeadamente, a escassez de árvores no local de corte, o que já tinha começado a provocar a destruição do ecossistema e pelo facto do trabalho de carvoeiro ser muito pesado com poucos ganhos para sustentar a si e os seus dependentes.
No longínquo ano de 1996, abraçou a enxada para iniciar com a produção de ananás numa área de menos de meio hectare mas devido aos resultados da venda que ajudaram-no a melhorar as condições sociais da família foi, aos poucos, aumentando a área até atingir os actuais sete hectares. Apesar de estar associado com mais dois membros, ele ocupa parte significativa da porção de terra, o que lhe tem proporcionado bons rendimentos que vão acima dos 130 mil meticais. Fruto da produção e venda de ananás construiu uma casa melhorada, uma motorizada e três viaturas, uma das quais, a que foi burlado porque segundo explicou à nossa Reportagem as pessoas que lhe venderam a referida viatura tinham roubado e o proprietário apareceu a reivindicar com documentos comprovativo. Para além disso já começou a criar gado bovino, tendo já no seu terreno um casal que espera aumentar o efectivo através de multiplicação e compra de outros.

Trata-se de Mário Joaquim, camponês, quarenta anos de idade, casado e pai de quatro filhos, dois dos quais, a frequentarem o nível médio na Escola Secundária Geral de Nicoadala. Emprega quatro trabalhadores permanentes e dez sazonais. É um exemplo dos poucos exemplos de empreendedor empolgado na província da Zambézia, pois com escassos recursos financeiros, trabalhando sozinho com enxada e catana está a fazer maravilhas.

Começou a actividade com fundos próprios mas no contexto do investimento de iniciativas locais, vulgo sete milhões ele os seus colegas receberam 180 mil meticais para alargar a área de produção. Em conversa com a nossa Reportagem, Mário Joaquim afirmou que está disposto a trabalhar terra fértil de que Nicoadala tem disponível para combater a pobreza.

Mas nem tudo está a correr como era o seu desejo. O pequeno empreendedor enfrenta dificuldades próprias de quem está a começar uma actividade que no futuro poderá trazer altos rendimentos para si e seus dependentes. Trabalha sol-a-sol desbravando a mata com catana e machado em punho, alargando a área de cultivo mas está dependente da chuva. Apesar de um pequeno curso de água passar a escassos metros da sua machamba não tem motobomba para puxar a água para irrigação. Se o sol continuar assim forte, poderei ter problemas de colher e vender o suficiente para começar os reembolsos, disse o nosso entrevistado para quem a outra preocupação é o Governo começar a pensar em máquinas para o processamento da produção.

Explicou que os produtores estão a produzir em grandes quantidades e são obrigados a vender a preços de bagatela por falta de condições de conservação. Com a fábrica de processamento teríamos sumos, doces e farelo para galinhas, observou o nosso entrevistado.

Os maiores compradores são revendedores que comercializam nas cidades de Quelimane e Mocuba, na Zambézia e outros para as cidades de Nampula, Cuamba e Lichinga na província do Niassa. Muitas vezes são apenas revendedores que vêm das provinciais de Nampula, Cabo Delgado e Niassa que aplicam o preços. Segundo explica, neste negócio todo quem sai a perder é o próprio produtor que não vem o seu esforço compensado.

Muitas vezes são os próprios revendedores que aplicam o preço e perante a situação nós os produtores temos das duas uma saída: ou vendemos a esse preço, ou ficamos com produto a apodrecer e, aí saimos a perder mais, disse o nosso entrevistado quando questionado pela nossa Reportagem a propósito dos preços.

Maputo, Terça-Feira, 16 de Dezembro de 2008. In Notícias

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