Sunday, 7 December 2008

A OPINIAO DE PEDRO NACUO

EXTRAS - Estado rende-se em Nangade!
HOJE voltamos a falar de Nangade, uma zona sempre libertada desde quando isso era justificável, durante a luta pela Independência Nacional até aos nossos tempos. Em todo esse período, passe o exagero aceitável, livre do poder instituído, do poder estatal (o colonial e o actual), em função do que está a acontecer no terreno.

É a terceira vez que estamos a lamentar o carácter perdulário com que o poder estatal é exercido em Nangade. Uma área territorial onde qualquer acção da Polícia Popular de Moçambique (PRM) visando manter ou impor a ordem é respondida por uma reacção, aparentemente popular de quem não gostaria que as regras comuns a todos em todo este país fossem extensivas àquele distrito, na fronteira entre o nosso país e a Tanzania. Já o dissemos, por isso a Polícia é todas as vezes e de cada vez que um dirigente quer auscultar a opinião das populações em reunião pública, mal falada, maldita.

Fala-se-lhe mal porque não deixa que as coisas decorram como numa zona libertada, digamos, franca! Onde não se paga imposto, taxa do que quer que seja, licença do que for, autorização de quem quer que seja, um tipo de independência, na verdade, que imediatamente à proclamação da nossa República nalgumas mentes pareceu condizer com a verdadeira razão por que se pegou em armas para lutar.

A ignorância havia feito pensar em muitos moçambicanos que tal é que era o verdadeiro sentido de UHURU, o que foi sendo corrigido à medida que a consciência descobria que não haveria nenhum Estado, país ou governo que se aguentasse em pé sem os impostos dos seus cidadãos e das actividades que dentro do seu território se realizam.

Mas Nangade continua “zona libertada”, onde há 15 viaturas a fazerem o negócio de “chapa”, todas, sem exagero, em estado ilegal, porque circulam sem licença para o exercício da actividade, assim como os seus motoristas não têm autorização para a condução ou muitas vezes recorrem a cartas falsas da Tanzania. Quem assim fala é a própria Polícia (vide “Notícias” de 27 de Novembro de 2008, pág.2). A seguir, a vítima dos pronunciamentos contra são os homens da Migração, depois os polícias aduaneiros e lá à frente os fiscais da Agricultura. Tudo o que seja ordem é detestado!

Quando um chefe das Operações da PRM foi colocado no ano passado, quis estender as leis nacionais à Nangade, foi chamado à atenção, pois corria o risco de ser substituído, como que a corroborar com a ideia de que todos os negócios ilegais em Nangade são de gente “grande” (essa febre de Cabo Delgado: gente grande nos mata, mutila e nos subdesenvolve…). Na verdade, de forma muito efémera, acabaria por ser substituído. Agora vejo-o na sua motorizada, andando pelas ruas de Pemba. Nangade é Nangade, mano!

Os desordeiros “gramaram” e fizeram ver que quem ali manda são eles, ante a vergonha da corporação. Veio colocado um novo comandante, que era chefe das operações, em Montepuez. Não aprendeu a lição dos seus antecessores, porque polícia gosta de aplicar o que na teoria se lhe ensinou a fazer, nem do recentemente transferido chefe das operações. Quis pôr a ordem, foi vilipendiado!

O cúmulo foi quando no dia 1 de Outubro, um jogo de futebol onze, que opunha as arquirivais equipas da Chama da Unidade e da Flórida, termina em escaramuças que condicionaram a entrada em cena de uns tiros policiais, pois estava em causa a vida do administrador, Casimiro Calope, que teve que se escapulir por entre a vedação do campo e no centro do furacão estava o chefe das operações da Tropa de Guarda-Fronteira, Sidro Simuangonga, que teve que levar umas pedradas de gente que não queria a intervenção da Polícia, que lhe valeram pontos, tendo sido transferido para os hospitais, primeiro de Pemba e depois de Nampula.

Os jogadores inconformados foram vandalizar, até à exaustão, a casa do árbitro da partida, Abdulai Mussa, e a Polícia, tendo à frente o novo comandante, achou que era oportuno e justificável a abertura de um processo criminal, sob o nr. 108/PIC/Nangade/08, contra 13 indivíduos que ficaram detidos.

Nangade (talvez como zona libertada) não tem cadeia nem Tribunal, nem mesmo Procuradoria sequer, foram transferidos para Mueda, transportados num “chapa” pertencente a quem estava de alguma forma implicado no caso.

Mueda libertou-os sob termo de identidade e residência e no dia em que regressaram, véspera da visita do governador provincial, combinaram que todos fossem rapar o cabelo para se apresentarem ao comício. Mas antes pegaram num carro dum dos antes detidos, dirigiram-se ao Comando da Polícia, colocaram a cassete do MCRoger que tocaram-na alto e bom som: Patrão é patrão, abre a porta para entrar…. Os polícias ficaram envergonhados! Ficaram não polícias!

No dia seguinte apresentaram-se vítimas, como das outras vezes, em pleno comício. Desfilaram um rosário, segundo o qual alguns dos detidos eram estudantes que perderam aulas, insultaram os polícias, machucaram o Governo dizendo que ele era culpado por o mercado da sede estar cheio de fezes humanas, mas não disseram que havia uma pessoa ferida por eles em algum hospital nem que o seu administrador saiu em debandada do campo de futebol.

Na sequência disso, há uma acção dos responsáveis pela Polícia a nível mais acima que termina na transferência do comandante António Mussa. Vai ser substituído por Assane Siquiri. De novo…patrão é patrão, abra a porta para entrar…. Nangade é Nangade, dizem! Até o Estado rende-se, perante desordeiros!

• PEDRO NACUO
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