Tuesday, 2 December 2008

A Opiniao de Noe Nhantumbo

ATAQUE A MINIBUS NA ENI 1 : A vez do Conselho de Estado reunir-se?

Beira (Canal de Moçambique) – Um simples ataque por homens armados na estrada pode ter muitas implicações e significar diferentes coisas para muitas pessoas. O que se sabe sobre os que perpetraram o ataque de há dias a uma viatura transportando passageiros na Estrada Nacional 1 (EN1), entre Caia e o cruzamento de Inhamitanga com a Estrada de Inhaminga, é quase nada ou simplesmente nada.
Muita especulação pode resultar do ataque e decerto que certas correntes de opinião vão correr e considerar que os atacantes são parte dos homens armados da Renamo que vivem perto da região onde se verificou o ataque.
Banditismo existe muito no país e não tem sido os ditos homens armados da Renamo que o tem protagonizado. Muitos dos delinquentes encontrados e detidos pela Polícia como se sabe provém até das fileiras do exército governamental e mesmo da PRM. Mas quando convém politicamente a recorrência tem sido acusar os homens armados da Renamo.
Mas o facto é que a reinserção social que se esperava e que era necessária para os antigos soldados dos exércitos beligerantes durante a guerra civil não aconteceu.
Nem o dossier dos antigos da luta de libertação está fechado. Pensões de reforma continuam por atribuir passados mais de trinta anos. Tantos a homens do ex-exército governamental que serviram durante a guerra civil, como do exército da Renamo que se desmobilizou depois do acordo geral de paz de Roma.
Pessoas sem outros meios de sobrevivência mas com conhecimentos militares e com acesso a armas podem muito bem recorrer a ataques na estrada para resolver seus problemas. Tudo é possível quando o governo não lida convenientemente com um problema que como se sabe está em efervescência. A tendência de usar armas para arrecadar dinheiro é bem conhecida entre nós e a multiplicação de ataques a bancos e a viaturas com recurso a armas de fogo põe à mostra as fragilidades das forças policiais em lidar com o crime violento.
Julgo que este ataque ocorrido na EN 1 deveria constituir uma oportunidade para o governo e a Renamo se sentarem e conversarem sobre o dossier dos homens armados de uma vez por todas. E também para o dossier com os antigos combatentes de todos os lados ser convenientemente tratado.
Quando não se aproveitam as oportunidades para resolver os problemas que temos e que todos sabemos que são problemas, adiam-se soluções mas os problemas não desaparecem.
Há que encarar os factos. E, com coragem, desenhar os mecanismos que permitam que as possibilidades de crimes violentos, ataques a viaturas e outro tipo de violência sejam colocados na caixa de lixo da história, como algo que os moçambicanos não desejam. Deixar o problema escondido é que não.
Há que resistir as análises simplificadas e aos discursos de aproveitamento político que surgem em ocasiões como esta. Há que mostrar sentido de Estado e fazer tudo o que seja necessário para desmontar fantasmas que impedem o país de progredir.
Há inclusivamente que se deixar de fazer política provocando acções com carácter militar para depois se poder tirar os dividendos de conveniência.
Porque não convocar o tal Conselho de Estado que nunca reuniu?
Joaquim Chissano, Afonso Dlakama, Armando Guebuza e outros integrantes daquele orgãos têm experiência de lidar com conflitos e poderão oferecer ideias que sirvam para tirar protagonismo a pessoas interessadas em desestabilizar o país.
Quem atacou sabe que não havia possibilidade de resposta pelas forças policiais.
Quem atacou pode repetir o mesmo sobretudo depois de não ter conseguido imobilizar a viatura e proceder ao seu saque. Ataques do mesmo género podem voltar a acontecer a qualquer momento. É preciso resolver urgentemente o que possa estar por trás do que sucedeu há dias.
A prevenção de ataques futuros carece de medidas meramente policiais e militares mas é também uma oportunidade de colocar em serviço um orgão de consulta do Chefe de Estado que até agora só preencheu o quadro orgânico nacional. Tomaram posse e entraram em letargia permanente.
Não se deve dar oportunidade a que o crocodilo cresça. Precisa-se urgentemente quem dê caça ao crocodilo…

(Noé Nhantumbo)

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