Sunday, 7 December 2008

A OPINIAO DE EGIDIO VAZ

Três varinhas de maçaniqueira e um peixe-preto para Fernando Mazanga

Este comentário vem a propósito do programa televisionado ontem na STV, de nome Debate Aberto e moderado por Atanásio Marcos – parabéns Atanásio por tão bela prestação!


O programa pretendia debater a retumbante derrota que a Renamo acaba de consentir nas recentes eleições autárquicas e as implicações que esta pode ter nas próximas eleições provinciais e gerais do próximo ano. Pretendia também debater o conteúdo e significado das recentes afirmações de alguns deputados e membros seniores da Renamo, que são por um Congresso Extraordinário, de forma a “salvar” o partido e reorientar as estratégias, actos que também passariam pela eleição de uma nova liderança.

Estavam presentes Fernando Mazanga, porta-voz da Renamo, Dionísio Quelhas, quadro sénior da Renamo e a primeira pessoa que publicamente clamou por um Congresso Extraordinário e Dr. José Jaime Macuana, docente universitário.

Confesso que assisti ao programa com muito interesse, dada a peculiar forma como os componentes do painel de debate expressavam seus pontos de vista.

O que se segue não é uma reflexão sobre a Renamo, muito menos uma crítica ao debate. É pura e simplesmente uma homenagem ao porta-voz da Renamo, Fernando Mazanga, homem de inesgotável capacidade regeneradora e de grande imaginação.

Ponto Prévio

Achei politicamente gravíssimo o facto de a Renamo ter estado naquele programa representada por dois membros, embora que cada um tivesse ideias diferentes por defender!

Sou de opinião que um deles não tinha que participar naquele programa. Dois membros do mesmo partido político, presentes num debate e com ideias conflituantes, é no mínimo prova clara de quão à deriva anda a Renamo. E, como era de esperar, Mazanga e Quelhas lavaram roupa suja no lugar impróprio. Independentemente do facto de cada um deles ter se expressado bem e não terem se insultado como era de esperar, acho na mesma que os dois passaram um mau atestado à mensagem que pretendiam fazer passar: de que na Renamo há democracia interna, coesão e debate aberto.

Um partido que se quer político e organizado devia acautelar ao Sr. Mazanga a não se dirigir ao debate, e encontrasse uma outra altura – quem sabe, uma Conferência de Imprensa – para reagir as palavras que o Dr. Dionísio Quelhas iria proferir naquele debate. Do ponto de vista de imagem, a Renamo saía-se bem, teria seu tempo de antena e muito mais tempo para melhor tentar rebater o sentimento do caos, geralmente partilhado por todos os cidadãos atentos à política moçambicana.

Ao terem se digladiado às câmaras de STV, os dois passaram a mensagem de que sim, na Renamo há um caos, uma desorganização insuportável e que de facto, os funcionários da Renamo não respeitam os militantes, apesar de serem eles que sustentam financeiramente o partido. Passaram a mensagem de que a liderança faz vista grossa e ouvidos de mercador aos conselhos dos seus assessores e amiúde, todos os que ousam em ter uma opinião diferente são liminarmente expulsos; daí, as famosas expulsões mensais e anuais que Quelhas mencionou no programa.

Importa sim referir aqui que a Renamo deve ser dos poucos partidos políticos do Mundo onde membros seniores são expulsos com recurso a meios simples e informais, como sms, fax, conferências de imprensa, boato e chamadas telefónicas:



Exemplo: Apesar de o Conselho Nacional ter se reunido em Quelimane para deliberar sobre o caso Daviz Simango, ele até agora ainda não recebeu nenhum papel oficial dando conta da sua expulsão. Bastou Dhlakama dizer em plena conferência de imprensa que ele “saiu sozinho” ao ter recusado acatar as decisões “das bases”. E assim ficou. Isequiel Modlde Gusse e Raimundo Samuge (este já se filiou a Frelimo), depois de terem servido à anterior CNE pela Renamo, receberam sms orientando-os para que aguardassem futuras ordens em casa. E assim foi, até que um dia Samuge decidiu filiar-se à Frelimo. Outros receberam dos seus gabinetes de trabalho, faxes demitindo-os das suas funções. Só que na verdade, essas demissões sabiam à expulsão.

Portanto, Dionísio Quelhas simplesmente refrescou-nos a memória sobre assuntos tão candentes que urge resolver dentro da Renamo. Assim, aquela noite não era de Mazanga, era isso sim, de Dionísio Quelha e de milhares de cidadãos que nutrem o mesmo sentimento ao do Quelhas. Por isso Mazanga, vai a primeira vara de maçamiqueira para ti.

Um estômago peculiar, o de Mazanga

É genial a forma como Fernando Mazanga consegue rapidamente sair duma situação aparentemente complicadíssima e colocar o adversário na defensiva. Só que o seu lado triste é que fá-lo sem ter em conta a história dos seus pronunciamentos. Um exemplo:

Foi Mazanga que 2007 anunciou que Renamo decidira que Daviz Simango e outros 4 presidentes dos Conselhos Municipais sob a gestão da Renamo seriam automaticamente candidatos à sua própria sucessão. Depois que Manuel Pereira encenou a sua candidatura, foi Mazanga que veio desmentir, tendo inclusive dito que Manuel Pereira tinha agido sem aval da presidência da Renamo. E dito e feito, Pereira acabou mesmo pedindo desculpas por este erro. Muito pouco tempo depois, depois de Pereira ter sido oficialmente confirmado candidato pela Renamo, Mazanga chamou a Daviz Simango de rebelde. E dí-lo em nome da Renamo.

Acaridado em Quelimane, Dhlakama desmentiu o facto tendo inclusive aconselhado aos jornalistas para não levarem a sério as palavras de miúdos; que se ele Dhlakama quisesse falar coisas sérias, fâ-lo-ia pessoalmente e nunca por intermédio de um miúdo.

Não tardou para que Mazanga se inspirasse e viesse a terreiro defender que “miúdo” foi a forma carinhosa que o Presidente Dhlakama teria usado para chamar aos seus colaboradores mais próximos, da mesma forma que ele Mazanga e outros, chamam de velho ao seu Presidente! Melhor reviravolta que esta nunca testemunhei!

Porém, salta à vista um elemento inegável: Fernando Mazanga está ao serviço do líder da Renamo e não ao Partido Renamo. Segunda vara para ele!

Não há crise na Renamo

Sim, não há crise. Como é que haveria, uma vez que as instituições e estruturas que a Renamo clama possuir não funcionam; não passam de uma mera decoração? Neste momento em que vos escrevo, tenho imensas dúvidas se por exemplo, o Secretário-geral da Renamo sabe alguma coisa sobre as fianças da Renamo, a não ser ELE; tenho imensas dúvidas se as delegações provinciais têm suas contas e despesas regularizadas; aliás, é só rever o cortejo de reclamações de falta de apoio que muitos candidatos da Renamo alegaram como factor de derrota nas últimas eleições.

O que há na Renamo não é crise, é caos. Sim, há crise quando o respectivo presidente fica doente, por exemplo, ou se ausenta para fora do país, em missão de serviço, tal como ELE Dhlakama reconheceu numa entrevista dada ao Zambeze, na altura em que a dupla Moyana/Jossia geriam aquele jornal. Por isso mesmo; por pensar sempre e acima de tudo na mão que o alimenta, vai um peixe-preto para Mazanga.

Os intelectuais não são a mais valia. O que conta em política é quantidade e não qualidade

Ano passado, durante uma das suas reuniões, o líder da Renamo congratulou-se com o trabalho feito pelos deputados da Renamo na Assembleia da República, tendo mesmo dito “desta vez sim, vocês conseguiram por de joelhos à Frelimo”, numa alusão à constantes recursos interpostos ao Conselho Constitucional feitos por deputados da Renamo, capitaneados por Ismael Mussá, Carlos Colaço, Manuel de Araújo, António Namburete, Maria Moreno, entre outros. Hoje, porque estes têm uma opinião diferente sobre a liderança, já não prestam; não são mais valia, pois, o “que conta é a quantidade para votar, e não qualidade”! Boa aula de ciência política. Merecia um prémio! Já que não o tenho, vai a última vara.

Essa é a minha homenagem a ao Grande Mazanga, homem inteligente e de uma capacidade regeneradora inestimável! Bem-haja e que 2009 seja melhor que 2008.

Retirado do blogue de Egídio Vaz em 15:58 4 comentários.

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