- Godfrey, o mordomo
Quis o fortúnio que casualmente conhecesse Godfrey e tivesse contacto com uma bizarra estória de aventura de um moçambicano em terras frias da Suíça, que é uma espécie de empregado numa mansão de campo de uma família real. Foi difícil convencê-lo a autorizar que cronicasse a sua estória. Mais difícil ainda foi aceitar que o nomeasse. Nem sequer consegui que fizesse alusão ao seu verdadeiro nome, que segundo ele só aos seus defuntos interessa.Maputo, Quinta-Feira, 18 de Dezembro de 2008:: Notícias
Quis o fortúnio que casualmente conhecesse Godfrey e tivesse contacto com uma bizarra estória de aventura de um moçambicano em terras frias da Suíça, que é uma espécie de empregado numa mansão de campo de uma família real. Foi difícil convencê-lo a autorizar que cronicasse a sua estória. Mais difícil ainda foi aceitar que o nomeasse. Nem sequer consegui que fizesse alusão ao seu verdadeiro nome, que segundo ele só aos seus defuntos interessa.
Vamos lá então saber quem é Godfrey.
Godfrey nasceu há quarenta e nove anos lá para as bandas de Gaza e naturalmente que os pais não o chamaram Godfrey. Como aparece esse enigmático nome? Mais à frente desvendarei.
Aos 15 anos vendia amendoim cozido na zona baixa da cidade de Maputo, para onde os pais migraram. Num desses dias fez amizade com um velho marinheiro, cozinheiro num navio mercante. Como o velho marujo não acreditasse que do amendoim também se faziam belos cozinhados, o miúdo levou-o a casa e apresentou-o aos pais, que entretanto trataram de confeccionar um belo caril de amendoim. O velho marinheiro gostou e convidou-o a preparar o pitéu para o almoço da malta do navio no dia seguinte. O pai de Godfrey confiou a tarefa ao puto, que afinal era também um exímio cozinheiro. Pois é, a verdade é que a malta do navio gostou do prato. Pediram mais e o garoto não se fez de rogado e confeccionou outra especialidade. Os marujos lambuzaram os dedos e pediam sempre mais. Quando o miúdo deu por si, estava já na sexta especialidade culinária e o navio zarpava por mar alto. Era uma estrela a bordo e o comandante queria-o sempre por perto. Tinha quebrado a rotina e por isso todos gostavam dele. Não o sequestraram como se pode pensar. A ideia era dar uma volta a Durban e voltar com o cozinheiro clandestino. A verdade é que quando voltaram o Comandante foi pessoalmente negociar com os pais a permanência definitiva de Godfrey no navio e que tudo o resto ficaria às suas expensas. E, pronto, o garoto partiu para novas aventuras, a bordo de um navio onde todos o veneravam. Alguns anos depois, já cansado do mar e porque o comandante que o protegia entretanto esticou o pernil, decide desembarcar definitivamente na Espanha. Senhor de altas referências culinárias não tardou que se empregasse num restaurante de primeira categoria na zona chique de Madrid. Conta que chegou a ser convidado para preparar banquetes do mais alta grã finúria e quase sempre mandava vir amendoim e outros ingredientes da comida tradicional moçambicana e não só. Fixou-se em Barcelona e comprou (atenção comprou, não arrendou) um belo apartamento e um portentoso Volvo. Casou-se com uma mexicana de quem teve dois chiqos. Adquiriu o epíteto de Chief e passou a frequentar, como convidado, uma das mais altas sociedades do mundo. Conhece banqueiros, bancários, senadores, antigos governantes, é sócio do Barcelona, amigo pessoal de Zubizarreta e Del Pierro, assinante do Gazeta de lo Sport e da Marca. Habla espanhol com uma fluência que é uma coisa doida. Há cinco anos um amigo da alta roda convidou-o a trabalhar na Suíça como chief de criados numa casa de campo de uma família real. Aceitou e partiu. Coincidentemente a realeza estava em casa quando o nosso gazense chegou. O príncipe perguntou como se chamava. Rápido e com um raro faro de oportunidade disse: “Godfrey, senhor. Mordomo pronto a serví-lo.” Foi logo contratado. A partir daí passou a chamar-se Godfrey, um nome que escolheu por ser típico de mordomo, aliás, um dos mais famosos mordomos é Godfrey, o mordomo do filme My Man Godfrey, de 1936, interpretado por William Powell, e do remake do mesmo filme, realizado em 1957, interpretado por David Niven. Hoje Godfrey é o administrador dos interesses internos do palácio e trata dos negócios da família real na Suíça. E ganha uma pipa de dinheiro!
Esta é a estória de um homem, que até dava para ser encenada em filme. A biografia de um gazense que encontrei casualmente pelas bandas da Catembe distraído e no anonimato, calçado de uns vulgares chinelos e com um velho chapéu de palha.
Um tipo cheio de virtudes, despretensioso mas rico. Um exemplo de vida e de persistência.
Ciao.
PS. Ah, Godfrey convidou-me a visitá-lo, quer a Barcelona ou à Suíça. Aceitei, claro. Só não sei como ir...fazer o quê!l
Leonel Magaia-leoabranches@yahoo.com.br in Noticias, 18.12.08
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54 minutes ago
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