Saturday, 1 November 2008

OPINIAO de Joao Mosca

Ensino superior (2): qualidade
A qualidade no ensino superior é um tema sem consenso. O que é qualidade no ensino superior? Os que criticam o conceito, argumentam que qualidade está no interior das pessoas e que essa, teoricamente, depende de um conjunto de factores, muitos dos quais não institucionais. Outros, argumentam que não se podem comparar coisas diferentes: escolas com séculos e universidade recém-criadas. Umas localizadas nos
centros do conhecimento e outras nas periferias onde prevalece o analfabetismo e a iletracia em vários aspectos. Finalmente os que refutam as variáveis e parâmetros de análise que necessariamente beneficiam uns e prejudicam outros.
Para não entrar nesse debate, este artigo parte dos seguintes pontos de partida:
u Na era da regionalização e globalização, as barreiras e limitações ao conhecimento e à informação são cada vez menores e, portanto, os fluxos de trabalho (neste caso refere-se a técnicos altamente qualificados e a cientista) e do conhecimento, geram concorrência e, em princípio, eficiência e competitividade.
u Portanto, as universidades e instituições de investigação terão cada vez mais métodos, pedagogias, opções de investigação, de áreas e escolas de conhecimento convergentes possíveis de intercâmbio.
u Classificadas ou não, as instituições criam imagens que reflectem ou não as suas realidades. A sociedade possui opiniões sobre o ensino.
Para tornar possível o referido, os sistemas de ensino e de investigação nacionais e supranacionais procuram aproximações para se ajustarem às mudanças: criar condições para a internacionalização das instituições, sobretudo através do intercâmbio do conhecimento, de realização de projectos em rede, da mobilidade de investigadores, docentes e estudantes. Significa também convergências das estruturas e curricula dos cursos e um sistema de equivalências.
Os que discordam da globalização, referem a impossibilidade de uniformizar em realidades diversas, são contra o domínio de correntes de pensamento e das convergências dos sistemas de ensino, defendem o confronto de ideias.
O que é qualidade? Defende-se que qualidade tem três pontos de análise: * Os resultantes de avaliações intra e entre instituições.
* A percepção da sociedade através das imagens institucionais.
* Os desempenhos profissionais, no mercado de trabalho, dos técnicos formados.
No lugar de discutir abstractamente, apresentam-se as condições que permitem qualidade do ensino (a investigação que mereceria tratamento diferenciado):
* Existência de um corpo docente qualificado (com formação e graus adequados) e com tempo nas instituições para o desenvolvimento das diversas funções inerentes às profissões académicas.
* Integração da comunidade académica em projectos de investigação em rede e financiados por organizações especializadas na promoção do conhecimento, cujos temas reforcem o ensino e que se medem pelos resultados da investigação, obras publicadas, congressos realizados, etc., (o curiculum institucional e dos seus investigadores e docentes).
* Escala suficiente de académicos e estudantes para gerar massa crítica, debate e intercâmbio.
* Níveis de exigência pedagógica traduzida em tempo de dedicação do estudante, pesquisas,apresentação de trabalhos e graus de dificuldade nas avaliações.
* Infraestruturas adequadas (laboratórios, acesso fácil a redes de bibliotecas on-line e a novas tecnologias, etc.).
* Acções de extensão universitária com base em trabalho na comunidade, respondendo às
solicitações desta e em reforço do ensino e da investigação.
* Desenvolvimento de actividades extra-académicas (associações académicas, actividades desportivas e culturais, etc.), que gerem sentimentos de orgulho, identidade e de pertença a uma instituição.
* Existência de um ambiente estudantil, onde o estudante discute assuntos de natureza pedagógica, participa e organiza debates formativos e sobre assuntos gerais da sociedade.
Externamente, as instituições transmitem imagens de marca que têm de ser desenvolvidas com base em mensagens de qualidade, rigor, exigência, etc., (aqui a “mulher de César além de parecer tem de ser”), prestígio académico (e não político ou outro) dos investigadores e docentes, trabalhos publicados, relacionamento com a comunidade e presença multifacetada na vida da sociedade.
Finalmente, a avaliação da sociedade segundo a percepção da competência, qualificação, atitudes de trabalho, seriedade e profissionalismo dos formandos da escola. Podem existir estudos para estas avaliações.
Admitindo que a qualidade está em permanente transformação, a pergunta é: quais as universidades moçambicanas que estão construindo qualidade? Existem condições para isso? Vejamos apenas alguns aspectos:
* Existem instituições de ensino superior sem local próprio para aulas, alugando edifícios sem condições para o ensino e a aprendizagem.
* Há cursos técnicos sem laboratórios adequados.
* Onde estão as bibliotecas para não falar das ligações bibliotecárias on-line?
* A maioria dos corpos docentes não é profissional do ensino. Há condições para o contrário?
* Quantas universidades possuem centros de investigação, investigadores e projectos conjuntos com outras instituições em rede nacional e internacional?
* Qual a dimensão (escala) das nossas universidades?
* Fala-se tanto do nível baixo do ensino, da má preparação dos estudantes, mas as pautas de avaliação revelam o contrário: notas boas, poucas reprovações, etc.
Sem que esta afirmação seja suportada com conhecimento empírico, pode-se inferir do referido no texto que a qualidade do ensino superior não é boa. Mas o mais grave é a resposta sobre a existência real dessa preocupação? Ou de condições no actual contexto para que exista qualidade. Ou as universidades são uma fonte de negócio e prestígio? Que níveis de incompatibilidade existe entre recursos (negócio) e qualidade?
Felizmente parecem existir sinais positivos de construção de qualidade em alguns casos. Mas muito poucos!

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