Friday 7 November 2008

A Opiniao de Jafar Buana, em Vancouver, Canadá *: A vitória de Obama festejada do outro lado da fronteira

O matutino nacional canadiano The Globe And Mail, escrevia na Terça-Feira passada, em manchete da sua edição de Vancouver, que a América estava a balançar entre o risco e o renascimento, fazendo alusão à histórica corrida presidencial jamais havida no território norte-americano, opondo frente-a-frente um homem que aspirava ser o primeiro a ser eleito pela primeira vez como o mais velho a entrar na Casa Branca (72 anos), e o primeiro a sair do Estado de Arizona, o senador republicano John McCain, e o democrata Barack Obama, este na sua condição de primeiro
negro americano com fortes possibilidades de ser Presidente do país.
Já confirmada, a vitória do candidato democrata às eleições presidenciais desta Terça-Feira nos Estados Unidos da América, Barack Obama, é matéria de multiplicadas
conversas de quase todos os cantos do sub-continente Norte da América, destacando-se o vizinho Canadá, onde milhares, se não milhões de canadianos, brindaram em bares, restaurantes e saÍram à rua para festejar o feito conseguido pelo primeiro homem negro a ocupar a Casa Branca na história, mais concretamente nos próximos quatro anos. A curiosidade, ou até mesmo a ironia, que caracteriza esta comemoração
da vitória do candidato democrata dos EUA no passado dia 4 de Novembro não reside exactamente na origem de Obama, já que enquanto o Continente africano e os cidadãos afro-americanos vão celebrando, em primeiro lugar, o facto de este ser um negro, os Canadianos, e até mesmo os Mexicanos, fazem-no numa outra perspectiva, que é
de este homem ser visto como o salvador da região, do ponto de vista politico-comercial. A saturação pelas políticas de Washington é muito patente nas faces dos demais cidadãos canadianos e das organizações sindicais e da sociedade
civil, incluindo dos partidos da esquerda e liberais.
Durante todo o período que antecedeu a eleição do novo presidente norte-americano as preces e vaticínios multiplicavam-se, de forma aberta e assumida, e atirando culpas
para os republicanos do país vizinho como sendo os causadores da actual situaçao sócio-económica e financeira que a região e o mundo atravessam. Daí que a única saída era a aposta em Barack Obama, mesmo conscientes de que isso era assunto meramente dos próprios norte-americanos.
Barack Obama, muito cedo, já tinha conquistado muitos corações canadianos, como é o caso da classe trabalhadora, que aponta a nova conjuntura sócio-económica por
que passa o norte do continente americano como inconcebível para os cidadãos, porque as novas parcerias comerciais estabelecidas no âmbito de acordos bilaterais são descritas como anti-sociais. O apoio dos sindicatos canadianos a Obama já era oficial no Canadá e a respectiva vitória muito brindada por estes logo que os resultados o confirmaram como o futuro Presidente dos Estados Unidos da América.
A perspectiva de muitos cidadãos canadianos, e o mesmo deve acontecer em relação aos mexicanos, é que Obama, fazendo leitura ao seu projecto eleitoral apresentado durante
a campanha, apresenta-se como o único capaz de alterar o rumo dos acontecimentos na sub-região e repor a verdade politico-social que ficou afectada pelas políticas comerciais desniveladas em vigor que, alegam os sindicatos, só contribuem
para a degradação das condições de vida dos cidadãos, porque os empregos estão a cair e os salários para os quem os têm tendem cada vez mais à precariedade. Apontam
a indústria mineira e extractiva como sendo aquela que está a conhecer uma queda vertiginosa, com a entrada de mais multinacionais estrangeiras, encerramento de outras empresas, em resultado das respectivas reestruturações, bem como pela monopolização do mercado regional por empresas estrangeiras que ao Canadá, por exemplo, só trazem tudo feito, consequenciando assim que os trabalhadores
estejam sem trabalho, porque tudo foi feito fora do país.
O Canadá realizou recentemente as suas eleições, mais concretamente no dia 14 de Outubro, ganhas pelo Primeiro-Ministro Stephen Harper, do Partido Conservador, eleito
para o segundo mandato, mas sem ter conseguido a maioria que fortificasse o seu governo, segundo a constituição do país. Sthepen Harper é um homem mais da direita e
é apontado como pró-Bush, daí a explicação de todo o receio que caracterizou os canadianos mais moderados em caso de vitória de John McCain, do Partido Republicano
dos Estados Unidos da América, indiciado de, em caso de vitória, vir a ser o fiel seguidor das políticas de George Bush introduzidas na sub-região. Aqui residiu exactamente, o segredo de toda a ansiedade de os canadianos quererem ver Obama na presidência da maior potência mundial, em detrimento do seu rival republicano, na expectativa de que Barack Obama jogará um papel muito importante, como líder
da maior potência não só da região como também do mundo, na reposição da ordem geo-económica da região.
Os analistas locais são de opinião que a confiança dos cidadãos dos países que fazem parte da sub-região norte-americana (EUA, Canadá e México) caiu sobremaneira
em relação aos regimes actualmente no poder, porque ainda não fizeram o suficiente, até aqui, para mostrar que estão engajados na busca de soluções dos problemas mais essenciais dos cidadãos, sobretudo os sociais, porque tratam-se de governos capitalistas. No Canadá a história não foge à regra. Muitos são os cidadãos que ainda duvidam dos avanços que o novo Governo conservador poderá registar, porque
nesta sub-região, diferentemente da Europa, onde os Governos tendem a assumir cada vez mais uma função social, a degradação social não é menos visível.
Ajuntando a isto, a vitória de Obama nos EUA também teve outra razão de festa nos países vizinhos, nomeadamente no Canadá e no México, relacionada com a
problemática dos imigrantes, cujos receios recaem sobre as políticas implementadas pela administração Bush, descritas como duras face aos cidadãos que entram ou se encontram a residir nos EUA sob o estatuto de imigrantes. O México é o mais visado dos dois vizinhos.
* Colaboração

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