Thursday, 13 November 2008

N'UM VAL'PENA!

- Yes, we can ou a (neo)obamização de convicções?

Ponto de ordem.

O último N´um Val´Pena teve o condão de despertar mentes e, sobretudo, de provocar comoções emocionais colectivas. Amizades dos tempos de crise, mas de infâncias e juventude espectaculares. Tempos que não tendo sido dourados, foram de ouro. Profundas amizades ainda hoje enraizadas, contudo perdidas nessa selvática e violenta procura de sobrevivência. Os tempos são outros. Os valores da amizade e da família confundem-se com a brutal sobrevivência humana e à vénia a valores materiais. Money, hoje todos nós só pensamos em money. Nós não éramos assim. Éramos pobres, mas felizes e amigos. Amizades que hoje se confundem com laços de família

Um muito obrigado a todos que emotivamente reagiram a N´Chuabo, o último N´um Val´Pena. Um abraço a Quelimane. De coração e com muita saudade.

Vamos lá ao que me trás hoje.

Antes devo dizer que não sou analista político, sei muito pouco disso. Hoje atrevo-me a fazer uma incursão pela política. Perdoar-me-ão as gaffes se as houverem.

A vitória de um jovem cidadão afro-americano à presidência da nação mais poderosa do mundo ( será que ainda é? e a China?) já era colocada há mais de 60 anos pelo escritor norte-americano, de origem russa, Irving Wallace, no seu livro "O Homem". Hoje o facto não é pura ficção, um negro vai mesmo ocupar a Casa Branca, na derradeira oportunidade de os americanos provarem ao mundo que a sua democracia é multirracial e com igualdades de oportunidades para todos, ultrapassando os velhos chavões da supremacia de uma única raça.

Um amigo congratulou-se com a vitória de Obama e disse claramente porquê: "este negro vai-nos safar!" Fiquei perplexo e perguntei se não estava a confundir os países e presidentes. A resposta: "não meu, este gajo é negro. Agora estamos porreiros." Bom, a verdade é que muita boa gente festejou a vitória de Obama acreditando piamente na hipótese do presidente que vai resolver os problemas de África, justamente por ser afro-americano. Está aí um grande erro, acho eu. Alguns correm o ingrato risco da decepção uma vez que estão a elevar muito alto a fasquia das suas expectativas pessoais face à eleição de Obama. Justamente porque Barack foi eleito Presidente dos EUA e não de África. De africano só tem a pele um pouco mais escura, o pai e avós. Mais nada. Nem sequer conhece, na verdadeira acepção da palavra, África. Não conhece os cheiros e mistérios de África. Sempre esteve em meios elitistas. Nasceu no Hawai, viveu na Indonésia, estudou em prestigiadíssimas universidades, no Occidental College de Los Angeles, na Collumbia University e depois na Harvard Law School, onde obteve uma elevada distinção honorífica que corresponde a uma graduação não menor de dezoito valores. Um rapaz com currículo não tenhamos ilusões. Um homem habituado a grandes elites. Aliás, sempre que andou nas lides do Senado demonstrou possuir posições bastante conservadoras, igualzinhas às defendidas pelos abastados do norte.

Por outro lado, alguns aspectos da política económica de Obama têm causado sensação pela negativa, como o anúncio de medidas proteccionistas ao nível doméstico nos Estados Unidos, com promessas de reduções nos impostos das empresas, se estas trocarem o investimento no estrangeiro, pelo investimento na economia doméstica. E onde ficámos, nós africanos? Isso só demonstra que Obama vai privilegiar acções proteccionistas às empresas americanas e desencorajar que invistam no estrangeiro. Contudo, penso que quem acumula um percurso histórico, ainda que elitizado, está preparado para enfrentar os desafios que o aguardam como presidente. De Obama respeito a sua juventude, as suas qualidades, qualificações e motivações. Agora, o que é que isso e a sua afro-descendência trazem de novo e de bom para África? this is a question. O que acho é que, estando o mundo a atravessar uma das maiores crises a todos os níveis, político, financeiro e moral, e sendo os EUA um país poderoso, Obama é sem dúvida o homem certo em resultado das suas convicções, carácter e clarividência. Sê-lo-ia Mcain se tivesse as mesmas convicções. Sê-lo-ia Bush jr. não fosse a sua arrogância com o "quero, posso e mando" e propensão para a guerra. O mundo está farto de guerras e convulsões políticas e sociais.

Resta é saber o que fará Obama em relação ao Iraque, Irão, Afeganistão, Síria e à política expansionista e neocolonialista do seu antecessor. O paradigma do modelo norte-americano já não passa por aí. O tempo de expansionismo de modelos, ideias e de domínio sobre tudo e todos já era.

Agora, acreditar que Barack Obama é o Messias dos africanos, porque é negro, nisso não acredito. Que o será pela promessa de ventos de mudança e uma nova ordem mundial, nisso acredito.

Falta saber é se cumprirá e se os ventos de mudança ser-nos-ão realmente favoráveis a médio e longo prazo.

Ciao

Leonel Magaia - leoabranches@yahoo.com.br

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