Congo: Mais de 1,6 milhão sem água nem comida

O MINISTRO dos Negócios Estrangeiros britânico afirmou ontem que “mais de 1,6 milhões de deslocados” no leste da República Democrática do Congo (RDCongo) estão “encurralados pelo conflito” sem que haja forma de lhes enviar ajuda humanitária.
“Mais de 1,6 milhões de deslocados estão encurralados pelo conflito e não podem ser facilmente atingidos. Não têm acesso a alimentos, água e outros artigos de primeira necessidade”, declarou David Miliband à imprensa na capital da Tanzânia, Dar Es-Salaam.

Estas declarações foram feitas após um encontro com o seu homólogo francês, Bernard Kouchner, e com o presidente da União Africana (UA), Jakaya Kikwete, igualmente Presidente da Tanzânia.

“Existe ameaça de epidemias de doenças transmissíveis e de desnutrição na zona”, preveniu o ministro britânico.

A RDCongo é palco há várias semanas de um conflito armado entre o Exército congolês e a rebelião, liderada pelo general Laurent Nkunda.

Os rebeldes chegaram quarta-feira às portas da capital da província do Kivu Norte, a cidade de Goma, e logo de seguida declararam um cessar-fogo unilateral, que aparenta estar a ser respeitado.

Os combates obrigaram à fuga de várias dezenas de milhares de pessoas, forçadas agora a viver numa situação muito precária.

No início da sua visita ao Golfo, no sábado, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, disse que a comunidade internacional não pode permitir que a RDCongo, onde rebentou um grave conflito no leste, se transforme em “um novo Ruanda”.

“Estou muito preocupado com a situação na RDCongo”, disse Brown.

As Nações Unidas devem convocar uma cimeira internacional de paz em que aceitaram participar os Presidentes congolês, Joseph Kabila, e ruandês, Paul Kagame, segundo o Comissário Europeu para o Desenvolvimento e Ajuda Humanitária, Louis Michel.

“Sugeri que seja o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a convocar uma cimeira regional que reúna todos os líderes da região e todas as organizações regionais. Os dois (Kabila e Kagame) responderam “sim” sem a mínima hesitação”, afirmou Michel à imprensa ao chegar a Bruxelas proveniente de Kinshasa.

O Comissário Europeu propôs aos dois Presidentes, cujas relações são más, que esta cimeira seja realizada em Nairobi sob os auspícios das Nações Unidas para tentar resolver de maneira duradoura as tensões na RDCongo.

A cimeira, segundo Michel, reuniria os líderes da RDCongo, Ruanda, Uganda e Burundi, representantes da União Europeia e dos Estados Unidos, assim como organismos regionais - União Africana (UA), Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), Mercado Comum dos Estados da África Austral e Oriental (COMESA) e a Comunidade Leste-africana (EAC).

Um acordo de paz entre todas as partes congolesas foi assinado em Janeiro em Goma, capital da província do Kivu-Norte, mas os combates recomeçaram a 28 de Agosto entre as tropas de Nkunda e o exército regular.
In NOTICIAS, Maputo, Segunda-Feira, 3 de Novembro de 2008.