'ESTE É UM LIVRO À JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS'
JOÃO CÉU E SILVA
Lançamento. Não existe autor em Portugal que escreva tanto e tão rápido como o jornalista que edita hoje mais um novo romance: 'A Vida Num Sopro'. São 613 páginas com uma história camiliana entre a tragédia e a paixão, que pretende retratar também a política na década de 30
Que tipo de leitor é o do maior autor de best- -sellers em Portugal desde o tempo em que Fernando Namora fazia sucessivos êxitos com os seus romances? Quem compra 640 mil livros com histórias que vão desde o paladar à Camilo Castelo Branco, passando pelo sabor Dan Brown e acabando numa cobertura à Michael Crichton? Quem sugere que ultrapassa as vendas de António Lobo Antunes, persegue os números de José Saramago e está quase a atingir o número de Margarida Rebelo Pinto? A resposta a estas questões é, respectivamente, as mulheres, os portugueses e José Rodrigues dos Santos.
E, por essa razão, aí está mais um "tijolo" com 613 páginas com o seu nome, que conta a história de um amor impossível passado na Península Ibérica nos anos 30 e que corre solto pelo universo de emoções, respaldado em factos políticos que marcaram esses tempos em Portugal e que fazem alguns juízos de valor sobre a ditadura que se estava a instalar no nosso país por 48 anos.
O regresso de José Rodrigues dos Santos ao romance dá-se num género que tem alternado com os seus thrillers, nos quais se destaca como o único autor capaz de publicar bons e interessantes livros em Portugal, que se deduz ser um brinde para a grande maioria dos leitores portugueses, o sexo feminino. O retrato que executa neste romance vai decerto agradar-lhes e, como já habituou, fá-lo numa prosa que não se engasga nem tem tempos mortos. Há aqui campo fértil para fazer as leitoras recordarem momentos da sua adolescência e criar uma identificação com acontecimentos políticos que ouviram contar dos seus parentes, tudo "cozinhado" de um modo que o próprio define nesta entrevista como sendo o estilo "à José Rodrigues dos Santos".
Quatro anos após A Filha do Capitão, regressa ao mesmo género literário. Porquê?
Porque não quero ser um autor previsível. Acho que é muito importante termos capacidade de surpreender os leitores, de dominar géneros diferentes e de ter uma certa versatilidade literária. A Vida Num Sopro é uma história de amor, mas também um romance histórico, um retrato de época, um ensaio filosófico, de facto um pouco na linha de A Filha do Capitão. No entanto, não há assim tão grandes diferenças em relação aos meus outros livros, porque procuro que se compreenda a ascensão e popularidade do Estado Novo na década de 30. E no fundo é isso o que faço em todos os romances: uso a ficção para explicar a realidade.
Se tivéssemos de encontrar paralelismos, podia dizer-se que Codex, Fórmula e Sétimo Selo eram à Dan Brown. Este é à...
À José Rodrigues dos Santos?
Mas acho que há aqui um pouco de influência temática de Camilo Castelo Branco...
Não, de modo nenhum. Os meus romances são muito meus. Não conheço nenhum autor que escreva os romances como eu os escrevo. Esta escrita faz parte da minha identidade, é como se fosse uma espécie de impressão digital literária. Não quer dizer que não haja influências. Se calhar temos aqui um pouco de Somerset Maugham, um pouco de Isabel Allende, um pouco de Jeffrey Archer, um pouco de Eça, mas isso não é consciente.
A saga do professor Noronha chegou ao fim ou foi só uma forma de respirar do thriller?
Após uma trilogia com o Tomás, achei que era altura de deixar o rapaz descansar um pouco. Irrequieto como ele é, todavia, é possível que volte daqui a uns tempos, quem sabe?
Foi o género que o impôs. Porquê abandoná-lo por uma história de costumes?
Porque me pareceu que era o momento certo de fazer uma pausa na sequência dos thrillers históricos e científicos e dar algo de diferente, embora sempre assente na mesma ideia-base: procurar que os romances não sejam passatempo, mas ganhatempo. A História é escrita pelos vencedores e a verdade é que muitas vezes os vencidos têm dela uma versão diferente, embora essa versão tenda a permanecer silenciada. O Estado Novo foi derrotado pela Revolução de Abril e, no discurso contemporâneo, tornou-se uma espécie de demónio do século XX português. Mas o facto incontornável, embora convenientemente escondido, é que Salazar foi um homem muito popular durante a década de 1930. Muitos portugueses viam-no como uma espécie de Messias, visão que só mudou a partir de 1945 com a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial. E a questão é esta: se Salazar era assim tão mau, por que razão uma importante parte das pessoas no País gostava dele? O que trouxe ele de novo? Essa foi a pergunta que me levou a escrever o romance, em que espero dar um contributo para uma melhor compreensão da ascensão do Estado Novo.
Este Sopro vai ter continuação?
Caramba, acabei de o publicar e já está a pedir continuação? Ainda é cedo para tomar decisões!
Em que género se sente mais à vontade?
Sinto-me à vontade com qualquer género, o que importa é que eu e o leitor tenhamos prazer.
Que pesquisa fez para este?
Essencialmente pesquisa histórica e sobre usos e costumes da época. Para além de livros de História e dos arquivos documentais da época, naturalmente que consultei os jornais da década de 1930. E falei também com familiares, porque há uma forte componente da história da minha família.
Nunca sente falta de inspiração?
Nunca. Desconheço o que seja o famoso bloqueio de escritor. Não estou a duvidar que exista, mas realmente nunca passei por tal experiência. Construo o livro na minha cabeça e o problema é os meus dedos serem suficientemente rápidos para acompanhar as ideias que fluem da minha mente. |
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