EDITORIAL
A SEMANA passada foi rica em debates sobre o ensino, tomando-se a oportunidade de os professores celebrarem mais um aniversário da criação do seu sindicato. Voltou à ribalta a questão da qualidade de ensino no nosso país. Volta-se a questionar se, efectivamente, o nosso ensino terá ou não baixado de qualidade, tendo como ponte de comparação, na maioria dos casos, os anos anteriores e os imediatamente a seguir à independência nacional, que antecederam a introdução do Novo Sistema Nacional de Educação.
Coloca-se a questão de que antes um aluno que estivesse, por exemplo, na quarta classe, já era capaz de ler e, sobretudo, entender uma notícia de jornal ou um conto numa obra literária. Este aluno era já capaz de escrever, ele próprio, uma estória da sua lavra ou que lhe tivesse sido contada. A quantidade de erros que este aluno cometia numa cópia ou num ditado era ao nível do tolerável.
Hoje a situação é outra. De uma forma geral, verifica-se que um aluno que tenha terminado a sétima classe apresenta uma qualidade de conhecimentos de longe inferior ao primeiro. Em primeiro lugar, a caligrafia não é cuidada. Isto é, não há, da parte do professor, a exigência de que o aluno escreva claro, com uma caligrafia legível. Segundo, quando se sobe de nível, já no ensino secundário, chega-se ao ponto de, por exemplo, um professor de História dizer: “Não estou aqui para ensinar Português”. E deixa os erros passarem.
É facto indesmentível que hoje em dia quadros moçambicanos há formados em universidades nacionais, que nunca viveram fora do país, a “atropelarem” a língua oficial de forma gritantemente grosseira. E quando vamos para a cultura geral, a situação afigura-se mais grave. Já não é coisa de outro mundo um aluno não saber o que significa 25 de Junho para os moçambicanos, mesmo que a sua escola ostente esse nome. Esta ignorância estende-se a professores e mesmo indivíduos com formação superior.
Em programas televisivos ou radiofónicos virados simultaneamente para o entretenimento e educação, as enormidades que muitos concorrentes cometem são de bradar aos céus. Infelizmente, neste particular é deveras confrangedor constatar que não raras vezes os próprios apresentadores dos programas demonstram não dominar as matérias com que estão a lidar.
Depois, torna-se simplesmente caricato quando determinadas individualidades proferem discursos em escolas com uma linguagem e conceitos que mesmo adultos são incapazes de entender. Não menos risível é quando os adultos escrevem a “mensagem dos continuadores” e a entregam a uma criança para a ler em cerimónias públicas, quando essa criança não entende patavina daquilo que está a ler.
Posto isto: há ou não decrescimento da qualidade do nosso ensino? Em havendo, de quem é a responsabilidade? Será do professor ou somente do professor?
É nossa convicção que, de facto, a qualidade do nosso ensino deixa muito a desejar.
Responsabilidade por esta situação? Para nós, a primeira responsabilidade recai sobre os currículos e a escola escola, ao contrário do que acontece quando se trate da transmissão de valores éticos e morais às nossas criança, onde a responsabilidade primeira é dos pais e encarregados de educação. De facto, deve-se exigir que a família eduque os seus filhos na observância dos valores culturais, sociais, éticos e morais, mas não se pode esperar que um pai que não teve oportunidade de estudar ou apenas deu os primeiros passos na escola ensine Biologia ao seu filho. Essa responsabilidade é inteiramente da escola, do professor.
Conhecedores e respeitadores das enormes dificuldades que os professores enfrentam no exercício da sua actividade (salários baixos e atrasados, não progressão na carreira, não integração de muitos docentes no quadro, más condições de trabalho, etc., etc.) aflige-nos que altos responsáveis do sector da Educação se furtem sistematicamente a aceitar que o nosso nível de ensino baixou. No lugar de se colocarem constantemente na defensiva, deveriam escutar a voz da sociedade e procurar o remédio para a doença. Porque, para nós, respeitando embora todos (e são muitos) os ganhos que já obtivemos no sector da Educação, o nível de ensino no nosso país está em baixo.
In
Maputo, Sexta-Feira, 17 de Outubro de 2008; In Notícias
Five guilty of boys' mistaken identity murders
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Mason Rist and Max Dixon were stabbed to death just yards from Mason's
front door in Bristol.
19 minutes ago
1 comment:
Realmente, ja sequer tenho memoria da ultima vez que vi um editorial no NOTICIAS, trata-se mesmo de um caso a assinalar. Sera que assim sera para semre ou trata-se apenas de uma efemeride? Pois seria mais uma janela de opiniao bastante interessante...
PS: Welcome back to the home
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