Wednesday, 29 October 2008

Continente ou conteudo? Infrastrutura, turismo e desenvolvimento em Africa

No preterito Sabado tive o (des) prazer de viajar de Nairobi para a famosa cidade de Arusha por via terrestre na companhia de mais 50 colegas de Africa, America Latina e Europa. A viajem que tinha como objective mostrar a Africa real aos meus amigos europeus e latino americanos, acabou sendo o ‘pao que o diabo amassou’!

Arusha, foi a 'cidade sonho' do primeiro presidente da Tanzania, Mwalimu Julius Kambarage Nyerere, que queria transformar, aquele povoado turistico na ‘Suica de Africa’. Infelizmente parece que o sonho do Mwalimu, nao passou disso mesmo, um sonho!

Apesar do fluxo de turistas internacionais, que pretendem visitAr ou escalar o cume de Africa, O KILIMANJARO, Arusha, nao parece ter muita coisa para oferecer para alem da linda infrastrutura para conferencias e acomodacao. Os 5879 metros do Kilimanjaro sao certamente um cartao de visitas inolvidavel, mas para promover o turismo nao basta ter um cartao de visita. E preciso trabalha-lo, molda-lo, do mesmo modo que nao basta ter um bom chocolate, e preciso que o involucro do chocolate esteja a altura de conteudo. E que o marketing quer comercial como politico ensina-nos que o involucro, ou o ‘packaging’ como os ingleses preferem chama-lo, e tao importante quanto o produto.

Dizia eu que a viajem de Nairobi para Arusha, que teoricamente deveria durar nao mais que quatro horas ‘comeu-nos’ o dia todo. Partimos de Nairobi as 09.00 da manha (deveriamos ter partido as 08.00), e so chegamos a Arusha cerca das 17.00 horas. Isto incluindo, a hora e meia, que investimos no Lodge fronteirico do lado Queniano, para aquilo que os nossos ‘conterraneos’ Queniano-Tanzanianos chamaram de ‘refueling’, e mais hora e meia na fronteira para os ‘vistos’. A viagem durou nada mais e nada menos que oito horas! Ora, oito horas para fazer uma viagem Nairobi-Arusha de Estrada me parece um exagero. Pela distancia, e se a estrada estivesse boa nao deveria levar mais do que 4 horas!

Se se pode dizer que do lado Tanzaniano a Estrada era ‘tragavel’ o mesmo nao se pode dizer do lado Queniano, onde esta se encontra em pessimas condicoes, com muita poeira e muitos buracos pelo meio (apesar de alguns trocos estarem a ser reabilitados, enquanto que outros estao a ser construidos de raiz). O estado da estrada Nairobi-Maputo, nao poucas vezes levou-me a minha cidade natal, trazendo-me a memoria as estradas dos meus amigos Pio Matos e Carvalho Muaria!. Numa postagem recente sobre o 'Festival e Zalala' perguntava eu como e que se poderia falar em turismo em Zalala ou Supinho, se a estrada que sai de Quelimane par aquelas lindas praias nao passa de um fio dental com buracos que so fazem-nos lembrar o diabo!

E este e que e o busilis da questao. Como e que um governo responsavel pode deixar uma rota tao importane para o turismo nacional e regional naquelas condicoes?

Voltemos a viagem Nairobi-Arusha. Se para nos africanos a viagem foi um pesadelo, nao quero imaginar, o que tera sido para os meus amigos de outros continentes, habituados a comodidade das suas estradas e ao frio!.

Enquanto escrevo esta cronica a cerca de tres mil pes de altitude, por cima dos territoros da Tanzania e Mocambique, veem-me a memoria as imagens dos meus colegas Albaneses e Suecos, Piro Lutaj e Winback! O Piro, de dez em dez minutos tirava do colman um lencinho gelado para coloca-lo ao pescoco, de tanto calor! Estou tambem a rir-me (me desculpem a malicia) de um dos meus colegas, que estava trajado a rigor como mandam as regras: calcas de seda engomadisimas, camisa branca e gravata! Ainda nao tinhamos percorido cinquenta quilometros e o pobre do casaco jazia abandonado e penduradissimo numa cadeira solitaria do minu-bus que nos transportava, enquanto que as mangas da ‘camisa branca’ essas reclamavam silenciosamente de tanto terem sido dobradas! Alias, para ser fiel ao quadro tragicomico da cena, nem sei porque e que teimo em chamar de ‘camisa branca’, a camisa do meu amigo, pois como podem imaginar, a ‘ex-camisa branca’ do meu amigo sueco a horas que deixara de ser branca, tendo absorvido alguns centigramas de poeira!

Como se o martirio do calor, da poeira e dos buracos nao bastasse, a burocracia na fronteira Tanzaniana e incrivel, apesar de os postos de controlo fronteirico estarem equipados com a mais sofisticada tecnologia, provavelmente 'fruto' dos atentados terroristas as embaixadas dos EUA em Nairobi e Dar-Es- Salaam. Mesmo assim, nao percebo porque e que os turistas ou passageiros tem que perder tanto tempo na fronteira sendo obrigados a fazer duas bichas, uma do lado Queniano para a saida ou entrada e a outra do lado Tanzaniano. Sera que nao se poderia estabelecer um posto fronteirico unico, poupando recursos finaceiros, humanos e tempo consumido?

A unica ponta de satisfacao (malefica) nesta odisseia toda, foi ver os meus amigos europeus a experimentarem aquilo que passamos quando nos africanos entramos na Europa ou nos EUA: longas bichas na migracao, termos que tirar foografias na fronteira, e termos que deixar nossas impressoes digitais no exterior!

Quando atonitos e certamente aborrecidos com tanta brocracia me perguntaram porque e que tinham que passar por tudo aquilo, encolhi os ombros e disse-lhes simples e diplomaticamente que os homens da migracao eram iguais em todo o mundo (com excepcao de Dublin na Irlanda, onde pela primeira e unica vez fui recebido por um oficial de migracao simpatico e com o sorriso na cara). Alias educadamente recordei aos meus colegas europeus que sempre que entro na Europa ou nos EUA sou sujeito ao mesmo tratamento! Portanto aqui se faz, e aqui se paga!

Claro que isso era de boca para fora, pois no ‘fundo no fundo’ eu proprio estava revoltadissimo e perguntava-me: sera que somos serios quando falamos da necessidade de atraccao do turismo como estrategia para o nosso desenvolvimento? Com aquele ratamento quem e o turista que servira de embaixador das nossas estancias quando tudo o que fazemos e colocar-lhes dificulades e mais dificuldades na entrada nos nossos paises?

A esta hora, que faco o trajecto Nairobi-Johannesburg-Maputo, imagino os meus amigos a fazerem a viajem de regresso Arusha-Nairobi naquela estrada cheia de buracos, poeira e calor!

Felizmente a minha agenda de trabalhos ‘salvou-me dessa odisseia', pois no Domingo, tive que fazer o trajecto Arusha-Narobi por via aerea, trocando o calor, os buracos e a poeira pelos belos e simpaticos prestimos das aeromocas da ‘Precision Airways’!

Que diferenca! Para ja fica a minha estupefaccao: Que cartao de visitas para Africa meu Deus!

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