Máquina de produção de «Mandrax» apreendida em 2000 continua no activo
Ex-ministro Almerino Manheje e Inspector Jorge Miguel são as duas pessoas que podem explicar paradeiro da máquina que aparentemente se encontra na zona norte…
Procuradoria-Geral da República e Polícia da República de Moçambique pretendem ir desmantelá-la de uma vez por todas
Estado pode confiscar bens de traficantes de droga
Luis Nhachote
No seguimento da investigação jornalística que o Zambeze está a levar a cabo sobre o narcotráfico “diplomático” que tem o nosso país no seu roteiro, apurámos que a máquina de produção de «Mandrax», apreendida em 2000, pelas policias moçambicanas e sul-africanas no famoso caso «plasmex» pode estar no activo na zona norte do país. Mais concretamente na província de Nampula. Entre as cidades de Nampula e Nacala.
Após a descoberta e neutralização, esperava-se que a máquina fosse destruída publicamente, o que estranhamente não aconteceu e até hoje não se conhece o destino a ela dado.
Lideraram a investigação que culminou com o desmantelamento da fábrica «Plasmex», da parte moçambicana, o inspector Jorge Miguel e da parte sul-africana o antigo comissário nacional da polícia sul-africana Jackie Selebi.
Historial da «Plasmex»
A «Plasmex» - Indústria de Plásticos, Lda, era ex-parte da «Emplama». No quadro das privatizações que estiveram então na ordem do dia no nosso país, o Estado ficou com 20%, sendo o seu representante Alfredo Filipe Sitoe.
O capital privado passou a ser detido em 30% por Jacinto Namunheque e os restantes 50% por André Timana.
Presentemente, estes dois encontram-se detidos numa das cadeias do país, após terem sido julgados e condenados em primeira instância por alegadamente serem os donos máquina de fabricação de «Mandrax». Quem julgou o caso, foi o juiz Augusto Raul Paulino, hoje nas funções de Procurador-Geral da República.
Historial da detenção
No dia 4 de Fevereiro de 2000, pelas 9 horas, unidades conjuntas das polícias moçambicana e sul-africana, desmantelaram a fabrica «Plamex», após informações indicarem que a mesma estava a produzir «mandrax» na capital moçambicana. Nessa manha, o inspector Jorge Miguel e o ex-comissário nacional da policia sul-africana e ex-director da Interpol da SADC, após um rastreio à fabrica, detiveram imediatamente Jacinto Nhamunheque, segundo accionista maioritário da fabrica cuja vocação era a produção de plásticos. Na ocasião, as policiais apreenderam mais de 100 mil comprimidos de «Mandrax» e a respectiva matéria-prima.
O sócio maioritário, André Timana, encontrava-se ausente. Outras sete pessoas, foram detidas.
Timana viria a ser detido, em 2001, na África do Sul depois de ter sido classificado de foragido pela duas polícias, por Steven Russel, agente da extinta «Scorpions» e colaborador da «Scotland Yard».
O julgamento
O julgamento decorreu numa velocidade célere, segundo abundantes crónicas da época, devido, aparentemente, a pressão da imprensa, depois de vários casos relacionados com a droga ilegal terem ficado esquecidos, arquivados e impunes, tal como aconteceu noutro mediático caso que ficou conhecido como «Caso Trevo».
Na décima secção do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo o réu Jacinto Nhamunheque, disse ao tribunal que a máquina apreendida era de “gente grande” e que não podia revelar os nomes, por alegadamente, temer pela sua integridade física.
O então juiz Augusto Paulino, solicitou à Policia de Investigação Criminal que trouxesse a máquina confiscada ao tribunal, facto que o inspector Jorge Miguel disse ser impossível devido à sua grande tonelagem.
Nesse julgamento, o TJCM condenou a 20 anos de prisão maior a Jacinto Nhamunheque e a Jerry Dean, este último de nacionalidade tanzaniana. O tribunal decidiu nessa sessão que Dean, com residência em Londres, fosse imediatamente expulso do nosso país, para cumprir a pena no seu país de nascimento. Foi decidido nesse julgamento, o encerramento da fábrica por um período de três anos e as quotas dos accionistas privados reverterem a favor do Estado.
Foram absolvidos no caso, o representante do Estado, Alfredo Filipe Sitoe e Justino Manjate, este último o serralheiro que montou a maquinaria para a produção de drogas, por não se ter provado os seus envolvimentos.
PRG na AR
O então Procurador-geral da República, Joaquim Madeira, no seu primeiro informe à nação falou do «Caso Plasmex», quando abordava outros casos “quentes”, tendo se referido na ocasião sobre o caso «Trevo», também de produção de «Mandrax», que remontava de 1995.
Sobre o caso «Trevo» Madeira disse que o mesmo já tinha sido acusado e que tinha “arguidos ausentes”. Os “arguidos ausentes” eram 10 indivíduos de origem asiática que “sumiram” do país, e o desfecho deste caso nunca ficou claro.
A condenação André Timana
Steven Russel disse ao Zambeze que em Abril de 2001 “nós capturamos André Timana na África do sul”. Para Russel esse não é o principal cabecilha da produção de «Mandrax». “Existem mais pessoas ligadas a esta produção mas ate aqui nunca reveladas. Acredito que Alfredo Filipe Sitoe, a pessoa absolvida tem muito a dizer, não é possível André Timana arquitectar essa fábrica toda sozinho. Infelizmente os tribunais e a polícia moçambicanas não quiseram aprofundar o assunto. Primeiro o julgamento foi muito rápido. Esta rapidez foi para não aparecer a verdade”
O que é «Mandrax»?
O mandrax é uma substância que, quando ingerida, provoca, alterações no funcionamento do sistema nervoso central e é susceptível de provocar dependência no consumidor.
O preço de mandrax
O Zambeze apurou em Joanesburgo que nos anos 1990 o preço de «Mandrax» era vendido por atacado na África do sul ao preço unitário de 8 rands. Em 2000 o preço unitário subiu para 14 rands. Hoje, o mandrax é vendido na África do sul a cerca de 20 rands. Perto de 50 meticais por unidade (comprimido). A polícia sul-africana, aprende diariamente cerca de 2 a 3 mil comprimidos e esta droga vem de Moçambique, como se alega. Perguntámos a Steven Russel se a droga tinha alguma nome ou cor, ele disse-nos “a droga exportada por Umar Surathia, na década noventa tinha a marca de «MX» e era cor branca”.
Jásobre que se vende actualmente disse-nos: “Agora os traficantes mudaram de cor e de marca. A droga passou a ser azul clara e tem a marca de «BOSS»”.
Maquinaria no norte do país
Fontes da Polícia da Republica de Moçambique, que começam a sentir-se mais seguras para fornecer elementos ao Zambeze, garantiram-nos que a máquina apreendida no caso «Plasmex» encontra-se nas cidades ou de Nampula ou Nacala. As fontes dizem que depois da apreensão da maquinaria do caso «Plasmex», a mesma desapareceu. As quantidades apreendidas e a matéria-prima para fabricação também desapareceram. Presume-se que esta maquinaria esteja a operar numa destas cidades onde é menos controlada e menos visível.
Dizem as fontes policiais que a mercadoria sai via terrestre para a África do Sul com trânsito em Maputo. Outra parte é transportada para a cidade de Pemba e de lá via área para outros destinos de narcotráfico.
Capacidade da maquinaria
Segundo Stevem Russel a maquinaria do caso «Plasmex» é a mesma do caso «Trevo».
Em 1994 a policia sul-africana fez chegar informações ao então procurador-geral da República, Sinai Nhantimima e Manuel António, ex-ministro do Interior, que em Moçambique estava-se a produzir «Mandrax» na zona da Machava, mas as autoridades moçambicanas fizeram ouvidos de mercador.
“Seis meses depois, tivemos que fazer uma pressão às autoridades moçambicanas, que caso eles não desmantelassem a fabrica nós iríamos recorrer às Nações Unidas e as autoridades moçambicanas foram obrigadas a desmantelar. Foram presos dez indianos, alguns paquistaneses. Foram presos, mas o dono ficou impune. alguns meses depois esses dez indianos foram soltos e viajaram para os seus países, sem nenhum obstáculo, apesar de estarem proibidos de saírem do pais”.
“Isto foi uma grande decepção para a polícia sul-africana. Trabalhamos em vão”.
Na altura não havia em Moçambique que penalizasse este tipo de narcótico. A Assembleia da República aprovou pouco depois legislação que hoje já existe.
Salim Jussub na berlinda
Steven Russel disse que o actual cônsul honorário das Syecheles em Portugal, “tinha a ver com o caso «Trevo», pois, através de seus colaboradores é que contrataram o advogado Máximo Dias, para se constituir defensor dos dez indianos capturados em flagrante delito na fabricação de «Mandrax».
O ex-ministro Manuel António, tinha na sua mesa o nome de Mohamed Salim Jussub, desde 1995, como presumível dono.
Jussub estava ligado com outro cidadão paquistanês de nome Shaim. “As autoridades moçambicanas não quiseram investigar” disse Russel para acrescentar que “Ficamos a saber que este Shain, foi encontrado no interior de uma bagageira de uma viatura já morto, aqui em Joanesburgo, há poucos anos atrás”.
Hotéis e fabricas
Steven Russel diz também que Omar Surathia (NR: ex cônsul honorário da Libéria e actual cônsul das Sychelles em Moçambique», além de ter a fábrica de bolachas em Moçambique, a «Mobiscos» está a fazer investimentos na área da hotelaria, precisamente no centro do país.
Ele está ligado a João Matsinhe, vulgo «Zamba Zamba», um narcotraficante baseado no reino da Suazilândia com um cadastro na Interpol. Eles estão ainda ligados a Amad Jassat, da «Expresso Câmbios», na construção de um hotel na cidade da Beira que vai custar cerca de 10 milhões de dólares americanos.
Sabe-se que Jussub também tem parcerias numa fabrica de cimentos, chamada Sunera cimentos.
PGR e MF poderão confiscar bens
O Zambeze contactou com uma fonte da PRG e disse-nos que eles e o ministério das Finanças estão a trabalhar com os notários para descobrir quantos bens tem os colaboradores de Umar Surathia e Salim Jussub.
“Depois de termos os bens arrolados vamos notificá-los para sabermos da proveniência do dinheiro. Caso eles não apresentam os respectivos justificativos, o Estado pode confiscar-lhes os bens. Temos que saber quantos impostos já pagaram ao Estado, para serem donos de tanta fortuna, cuja a origem é duvidosa. “Um hotel não custa cem mil dólares ”, disse a fonte da PGR. (Luís Nhachote)
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