Monday, 22 September 2008

A Talhe de Foice de Machado da Graca

Ram-ram

Os Dignos magistrados da Procuradoria Geral da República são, sem a menor dúvida, leitores atentos do jornal Zambeze.
Se alguma dúvida houvesse a esse respeito, ela teria ficado completamente ultrapassada com a extraordinária perspicácia com que a PGR detectou a terrível ameaça contra a segurança do nosso Estado, representada por três tenebrosos facínoras acoitados na Redacção daquele jornal.
Felizmente a vigilância apertada dos tais magistrados impediu que as coisas fossem mais longe e que hoje estivéssemos sabe-se lá em que horrível conjuntura. Talvez como a Somália, que não tem um Estado credível há dezenas de anos.
Mas tudo isto para dizer que a atenção que a PGR dedica à leitura do Zambeze não lhe terá permitido passar por cima da série de artigos que aquele jornal tem dedicado ao fenómeno do tráfico de drogas entre nós.
É que aquilo são páginas e páginas cheias de nomes, datas, quantias, factos e todo o tipo de coisa que não permite que se ignore um tal trabalho.
E nem sequer disfarçam. Não publicam lá dentro, numa qualquer página esconsa do jornal. Pelo contrário colocam chamada na primeira página e títulos a rasgar a toda a largura nos espaços dedicados ao tema.
Um outro aspecto que deverá espicaçar os dignos procuradores na sua leitura dos trabalhos sobre o tema é o facto de haver várias testemunhas que afirmam que a PGR tem sido regularmente informada do que se esta a passar, mas nada tem sido feito sobre isso.
É claro que eu não posso acreditar que tal afirmação seja verdadeira. A nossa PGR a não actuar perante acusações concretas, baseadas em documentação concreta, em provas concretas, apresentadas por forças policiais internacionais de reconhecida reputação?!!!
Totalmente impensável! Quem poderá acreditar numa tal atoarda?
Por isso estou certo de que a PRG, com a rapidez fulminante que todos lhe reconhecemos no caso dos jornalistas que queriam destruir o nosso Estado, vai surgir a público, nos próximos dias, contra todos os traficantes de droga denunciados na série dos artigos do Zambeze.
Não pode deixar de o fazer, se não quiser passar por um grupo de fantoches ao serviço de uma casta de traficantes que enriquecem escandalosamente à custa da saúde da nossa juventude e da juventude de outros países vizinhos nossos.
E este é um assunto que parece feito de propósito para ficarmos a saber quem é, de facto, a nossa PGR.
Já agora aproveito para dar mais um exemplo.
No último número do Zambeze, veio também publicada uma noticia sobre abusos inacreditáveis praticados na empresa dos Aeroportos. Abusos a favor do seu Conselho de Administração, a começar, é óbvio, pelo seu Presidente, e com beneplácito do anterior Ministro dos Transportes, igualmente acusado, pelos trabalhadores da Aeroportos, de ter comido uma grossa fatia do bolo.
Também aqui são apresentados factos, datas e nomes, o que facilita enormemente o trabalho da PGR.
Dai que eu espere, também neste caso, uma abertura rápida do respectivo processo criminal. E, quando refiro a abertura, é com a esperança de que o encerramento também seja rápido e não fique adiado para o dia de S.Nunca, à tarde, como é nosso costume nestas coisas.
O actual Procurador Geral da República, o Dr. Augusto Paulino, é uma pessoa que respeito e estimo. Esse respeito e essa estima, no entanto, estão sujeitos àquilo que for a sua prática no cargo para que foi nomeado e aceitou.
Até aqui, lamento dizê-lo, o saldo é amplamente negativo. Nenhum dos grandes corruptos e criminosos foi minimamente incomodado e, pelo contrario, as baterias da PGR voltaram-se, da forma ridícula a que assistimos, contra os órgãos de informação independentes, numa clara tentativa de intimidação.
Talvez seja a altura do digno PGR fazer uma escolha. As hipóteses são três: Ou continuar por este caminho e juntar o seu nome à longa lista dos seus predecessores, que acabaram demitidos sem honra nem gloria; ou levantar-se e entrar em choque com as forças da corrupção e do crime; ou, se achar que não tem poder suficiente para seguir esta segunda hipótese, pedir demissão e dizer publicamente por que o fez.
Agora ficarmos neste ram-ram, acho que não vai dar.

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