Monday, 29 September 2008

Sumico do Zambeze nas ruas: tera sido este homem o responsavel?



Traficantes de droga têm estatuto diplomático (5)


Peças do «puzzle» do narcotráfico desaguam nos “diplomatas”

Luís Nhachote

Nestes cerca de dois meses que o semanário ZAMBEZE vem tentado perceber os contornos do narcotráfico “diplomático” em Moçambique e quem mais a ele possa estar ligado, as peças do intricado «puzzle» desaguam, por associação comercial, familiar ou simplesmente de amizade, nos “diplomatas” que representam os interesses comerciais da República das Sychelles em Portugal ou Moçambique.
Em parte da proeminente comunidade asiática residente em Moçambique e a caminho da «riqueza absoluta», segundo apurou o ZAMBEZE de várias fontes, orais e documentais, há grupos com cadastro em Portugal, onde estiveram detidos devido ao narcotráfico de estupefacientes. E tudo isto já vem desde a década de 80.
O Zambeze trás hoje, no seguimento das suas investigações jornalísticas, o retrato de Mohamed Macsud Ayoob, seu passado e presente e quiçá futuro. A Procuradoria-Geral da República começou esta semana a proceder, entre quem possa estar, no seio de grupos já aqui retratados e outros afins, com fortunas não convenientemente explicadas. A sua acção, como soube o ZAMBEZE na PGR de uma das suas «gargantas fundas», tem em vista encontrar precisamente a legalidade de algumas fortunas, que nasceram da noite para o dia. Mas vejamos mais algo da história de um segmento em que há matéria que suscita grandes interrogações.

Heroína em terras lusas…

Nos anos oitenta, vários membros da comunidade de origem asiática hoje em Moçambique, já estiveram detidos em Portugal, devido ao tráfico de estupefacientes.
Segundo soube o ZAMBEZE, de Steven Russel em Joanesburgo, essas drogas eram levadas de Moçambique, para Portugal e o seu principal comprador era um tal de Faizal Abdala.
Este Faizal Adbala acabou sendo encontrado morto, em 1995, no interior da sua viatura, próximo da «Casa Branca», entre a Machava e a Matola.
Reporta a Interpol que “Faizal Abdala, era um jovem indiano, que acabou indo para Portugal, muito jovem, na década oitenta, onde se casou com uma britânica de origem asiática e enriqueceu muito rapidamente com o tráfico de drogas”.
Ele tinha contas em vários países da Europa e também adquiriu vários hotéis em Portugal, nomeadamente, o Hotel Europa, o Hotel África do Sul, o Hotel Kalomé do Areeiro e era proprietário da firma Vidrotel. Além de possuir muitos bens, Faizal Abdala tinha contas na Suiça e na Inglaterra. Steven Russel conta que Faizal “era muito inteligente. Usava sempre o nome do seu sogro nestas contas. E em 1986, quando este foi surpreendido com 3,5 quilogramas de heroína pura, tentou subornar agentes da Policia Judiciaria portuguesa, com 20 mil contos portugueses, na altura o equivalente a 400 mil dólares. Nunca chegou a ser condenado. Sempre que caiu nas malhas da polícia, voltava sempre à liberdade por insuficiência de provas, pois aparecia alguém a assumir o crime”.
Ainda em 1986, quando este esteve detido com mais três moçambicanos, um dos seus sobrinhos, de nome Mohamed Riaz, assumiu o crime, e Faizal Abdala e seus parceiros, acabaram sendo absolvidos pelo tribunal da Boa Hora, em Portugal.
A fonte do Zambeze tem a forte convicção que se Faizal estivesse vivo a Interpol já o teria prendido, porque o seu nome estava naquela altura na lista daquela Policia e em quase todos aeroportos da Europa. O ex-agente da «Scorpions», actualmente na «Scotland Yard» disse ao Zambeze que aquelas unidades policiais estavam informadas que quem teria mandado eliminar Faizal Abdala, foi um jovem que na altura era proprietário da «Electro Mundo», Mohamed Asslam.
Mohamed Asslam viria a ser assassinado em Maputo, em Abril de1997, crivado de balas, defronte do prédio onde morava, na avenida Vladimir Lenine, na fronteira entre a Coop e a Malhangalene. “Isto é assim, todos os que entram no narcotráfico sabem disso”, comenta, entretanto, o agente.
A inestimável fonte deste semanário disse que a desmedida ambição de Faizal é que lhe terá levado à morte, “por envenenamento”. Ajustes de conta estarão ligados ao seu envenenamento, que se supõe ter origem na recusa de pagamento. “Muita gente devia a ele e para se furtarem ao pagamento ele foi retirado do mundo dos vivos”. A fonte deste jornal refere que no 1 de Agosto de 1986, Faizal foi detido em Portugal, por ter recebido cerca de 3,5 quilogramas de heroína pura, com mais três indivíduos de origem asiática. “Dois deles se encontram em Moçambique e são donos de um grande shopping”.
Russel disse também que Abdala tinha fortes ligações com um outro contrabandista, de nome Aziz Khan, que vivia no Paquistão. Este Khan tinha um seu familiar que estava a viver em Moçambique e acabou também sendo envenenado, também na década 90. Disse tratar-se de Mohamed Akil, que foi encontrado morto na zona da Costa do Sol. Este Mohamed Akil, segundo a fonte, é quem entregava a droga em Moçambique e os moçambicanos é que a levavam até Lisboa, a capital lusa. Quisemos saber de Russel a história da família da «Ayoob Comercial», sobretudo os que estiveram detidos.

A detenção Maqsud Ayoob em Portugal

Os factos: No dia 25 de Julho de 1990, uma quarta-feira, um empregado da família «Ayoob Comercial», chamado Rafik Juma Suleimane, fazendo-se transportar num voo das Linhas Aéreas de Moçambique, com destino a Lisboa,
levava consigo uma mala contendo cerca de dois quilos de heroína. Rafik Suleimane, à sua chegada ao Aeroporto Internacional da Portela, às 07h30 da manhã de quinta-feira, foi imediatamente detido. Vendo-se em apuros, ele confessou que a droga vinha de Moçambique, alegando que a mesma tinha-lhe sido entregue por Omar Faruk Ayoob (NR: este é cunhado de Umar Surathia, antigo cônsul honorário da Libéria em Moçambique e actualmente nas mesmas funções mas agora em representação da República da Sychelles, e aqui várias vezes retratado).
Rafik Suleimane, no acto da sua detenção em Lisboa, disse que a droga tinha que ser entregue a Mohamed Maqsud Ayoob, residente no Largo Mouzinho da Silveira, nº 13, 4.º andar Direito, Laranjeira, Almada.
A confissão espontânea de Rafik Suleimane, não foi suficiente para convencer as autoridades portuguesas.
A Policia Judiciaria (PJ), a partir daquele momento deixou-o sair do aeroporto, mas controlando todos os seus movimentos. À sua saída do aeroporto da Portela, ele foi ao encontro de Mohomed Maqsud Ayoob. A PJ, acto contínuo, deteve imediatamente estes dois indivíduos, por crime de tráfico de estupefacientes.
O processo foi parar ao Tribunal Criminal de Lisboa, 4.º Juízo, 2.ª Secção. O número do processo é 4855/90 (559). Na época, Maqsud tinha apenas 19 anos e na altura usava passaporte paquistanês, onde a profissão constante era “gerente hoteleiro” e alegadamente exercia-a numa residencial pertença da sua família.

Do julgamento para ilibação

Maqsud Ayoob e Rafique Juma Suleimane, em Fevereiro de 1991, foram submetidos ao tribunal criminal de Lisboa, para serem julgados. No julgamento, Rafik muda de versão e diz que não sabia o que a mala continha e que a mesma tinha que ser entregue a um tal de Mohamed Anif, um dos cunhados de Omar Faruk Ayoob e Maqsud Ayoob.
Nessa produção de prova, apurou o Zambeze de fontes na capital portuguesa que foram verificar os arquivos da época dos factos atrás descritos, Maqsud jurou a pés juntos que não sabia o que a mala continha. Disse também que quem teria enviado a mala era Mohamed Anif, seu cunhado. Para o investigador Steven Russel, isto era uma jogada para se verem absolvidos. O tribunal absolveu-os, apesar da opinião contrária do Ministério Público.
Maqsud e Suleimane estiveram cerca de 210 dias nos calabouços. O Zambeze está na posse do registo criminal, que publica nesta edição.

Lavagem de dinheiro

Reincidente: No dia 26 de Março de 2002, Mohamed Maqsusd, foi surpreendido, no Aeroporto Internacional de Mavalane, com mais de um milhão de dólares em «Cash».
A Policia da República de Moçambique (PRM) e as autoridades alfandegárias, na posse de informação fornecida pela sua congénere sul-africana e da Interpol, detiveram-no imediatamente. Após a abertura e contagem, foi apurado que o valor certo era 1.015.000 dólares americanos. Hoje o equivalente a cerca de 25 milhões de meticais.

O historial da apreensão

De acordo com a fonte, após os atentados do 11 de Setembro nos Estados Unidos da América, o Federal Bureau of Investigation (FBI), (NR: Ver artigo da semana antepassada) fez uma investigação minuciosa nos Emiratos Árabes Unidos, mais propriamente na sua capital Dubai, onde se acabou por mandar encerrar várias casas de câmbio ligadas a lavagem de dinheiro. Na lista do FBI, constavam nomes de cerca de 40 indianos residentes em Moçambique, nos quais nomes da família «Ayoob Comercial», estavam nos cinco do topo – “top five”.
Esta lista do FBI foi partilhada com a Interpol. Esta lista foi entregue a Almerino Manheje, ex-ministro do Interior e também ao ex-Procurador Geral da República, Joaquim madeira. Nessa missiva as autoridades moçambicanas eram informadas que 40 cidadãos de origem asiática em Moçambique estavam a fazer lavagem de dinheiro, mas as autoridades moçambicanas não agiram. “No dia 15 de Janeiro de 2002, um agente do FBI, que estava a trabalhar em Dubai, fez-nos chegar um fax a informar que cerca de três milhões de dólares estavam a vir para Dubai, por semana. Esse dinheiro saía de Moçambique com trânsito na África do Sul”, refere a nossa fonte.
A «Scorpions» então, na base dessa informação deslocou-se à agência da «Emirates», na África do Sul, onde descobriu que todas as semanas a família «Ayoob» viajava para Dubai. “Soubemos pelas passagens aéreas o que aquela família comprava semanalmente”.
“No dia em que Maqsud foi preso, enviámos um fax, para as autoridades moçambicanas, a informar que à tarde, haveria de viajar um tal de Mohamed Salim Ayoob, na posse de muito dinheiro. O fax foi enviado às 9 horas da manhã. Até às 13h30 não tínhamos recebido nenhuma resposta de Moçambique. Tivemos que ligar para o director do SISE (NR: O falecido José Zumbire) e este tomou as devidas medidas. “Graças a ele é que foi neutralizado a pessoa e o montante”.
“Surpreendentemente ficámos a saber que não era Mohamed Salim Ayoob, mas, sim, Maqsud Ayoob. Ele estava com o passaporte do irmão”.

As rotas do movimento do dinheiro que sai de Moçambique

O Zambeze apurou que a rota da lavagem do dinheiro, era feita de várias formas. Os narcotraficantes usavam as rotas nos voos da LAM, Maputo-Comores e depois Comores-Dubai. Só que esta rota não continuou mais e depois começaram a usar Maputo-Adis Abeba- Dubai, da companhia «Ethiopia Airlines». Também usaram e segundo apurámos, ainda se usa, a via Maputo-Pemba-Tanzania, e depois Tanzânia-Quénia e Quénia-Dubai. Outra rota frequente, mas dada como “bastante arriscada” é Maputo-Joanesburgo-Dubai.

A soltura e a contraversão cambial

O Zambeze apurou junto ao Banco de Moçambique que qualquer cidadão, não pode sair do país com moeda em valor superior a cinco mil dólares em «Cash».
“Nós confirmamos que houve um depósito no valor de 1.015.000 dólares em Março de 2002, esse dinheiro foi depositado nos nossos cofres pelas alfândegas, numa apreensão feita no aeroporto. Não conhecemos o desfecho deste caso” disse fonte do BM que preferiu o anonimato.
Maqsud ao ser detido nesse dia, violou a lei cambial nos artigos 13, 15, 16, 17 alíneas a.), b.), c.), 2 e 3 da Lei do Banco de Moçambique. Alem disto, ele teria mentido ao juiz de instrução no dia da legalização da sua prisão, que o seu nome era Mohamed Salim Ayoob.
Apurámos junto do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo (TJCM) que ele foi restituído a liberdade no dia 25 de Julho de 2002 mediante uma caução de 800 milhões de meticais, cerca de 32 mil dólares. Portanto ele esteve detido cerca de 90 dias. As autoridades judiciais, até hoje, ainda não se pronunciaram sobre o desfecho deste caso. Não houve qualquer sentença que se conheça.

Um milhão de dólares é muito dinheiro

Economistas contactados pelo Zambeze disseram que um milhão de dólares em «Cash» é muito dinheiro para quem se dedica ao tipo de negócio que se lhe conhecia. Um dos economistas ouvido pelo Zambeze considera que a pessoa que foi encontrada com 1 milhão de dólares é um comerciante que se dedica na venda de celulares e brinquedos e como tal “sem justificativos, esse dinheiro, em qualquer parte do mundo, é de proveniência duvidosa e pode ser ilícita”.
De recordar que Maqsud Ayoob teve como seu advogado nesse caso o advogado Máximo Dias que anos antes fora advogado de nove cidadãos indianos e um paquistanês, no famoso «Caso Trevo».

Modas Niza

Emerge entretanto, tal como outros grandes empreendimentos, na capital moçambicana, a «Modas Niza». Lá se pode encontrar Maqsud Ayoob. Aliás, há duas semanas, andámos por lá às voltas a tentar falar com ele. Sem sucesso, diga-se. Pretendíamos ouvi-lo para respeitarmos o princípio do direito ao contraditório.
A escritura da «Modas Niza limitada», na posse do Zambeze, e as suas respectivas nuances publicitadas em Boletim da República, atiçaram a nossa curiosidade. Após alterações, esta sociedade passou a denominar-se «Niza Limitada». Aquando da sua constituição, lavrada no 2º Cartório Notarial, a 25 de Novembro de 1991, a «Modas Niza», era uma sociedade composta por três irmãos sócios, nomeadamente Mohamed Maqsud Ayoob, Mohamed Khalid Ayoob e Ibraimo Ayoob. Nessa escritura ficou determinado e acordado entre os sócios que a administração e gerência da sociedade e a sua representação em juízo e fora dela, activa e passivamente seria exercida, pelo sócio Maqsud Ayoob.
Porém, Maqsud Ayoob, viria a ser surpreendido aos 26 de Março de 2002 com um milhão de dólares. No mês anterior, mais concretamente no dia 20 de Fevereiro de 2002, altera-se o pacto social e Maqsud aparta-se da sociedade, ficando apenas os seus irmãos. A alteração só foi publicitada em BR, em 2 de Outubro de 2002. E curiosamente a alteração não foi feita em Maputo mas sim na Conservatória dos Registos de Boane. Uma fonte da PGR disse ao ZAMBEZE que tiraram o nome de Macsud da sociedade mas fizeram-no depois de ele estar preso. Estes registos do notário de Boane, estão adulterados. A fonte adiantou que a PGR já mandou fazer um exame grafológico da assinatura de Macsud, para ver se a mesma confere. “Já solicitamos as cópias de Boane. Não se entende porque foram alterar o pacto social em Boane se a «Modas Niza esta baseada na cidade de Maputo. Aqui há algum mistério” disse a fonte. (Luís Nhachote)

1 comment:

Anonymous said...

De acordo com as fontes das policiais e procuradorias sul-africanas e swazi, (desapontadas com as suas congéneres da PRM-Polícia da República de Moçambique e PGR-Procuradoria da República de Moçambique), a mercadoria apreendida estava avaliada na altura (no ano 2000), a preços por atacado, em 200 milhões de rands e, a retalho em 300 milhões de rands. Ao câmbio da altura isto equivalia a cerca 50 milhões de dólares americanos ($US 50.000.000,00).