A “maka” dos cadernos eleitorais
Na Escola 74, no centro de Malange, há luz e por isso há contagem de votos nas primeiras eleições legislativas registadas em 16 anos.
Rouco e cansado, Manuel Capassa, 32 anos, lê as cruzinhas e os polegares nos boletins de voto da sua mesa eleitoral ao mesmo tempo que são escrutinados por seis pares de olhos dos delegados de lista presentes.
No final da contagem há 316 votos para o MPLA e 13 para UNITA. Nas outras mesas de voto o cenário não é muito diferente. Voto esmagador no “M”, presença do “Galo Negro” e votação inexpressiva nos outros partidos. Nem mesmo o PRS, um partido com apoio nas províncias diamantíferas das Lundas e próximas de Malange logrou “furar” o
cenário bipolar que se desenha em todo o país. Malange é uma praça forte do partido
no poder, o que levou Savimbi a dizer em 1992, que se ganhasse as eleições os
malanginos puxariam o comboio com os dentes. Savimbi foi morto em 2002 e o
comboio apita de novo em malange depois do caminho de ferro ter sido reabilitado
por uma empreitada chinesa.
Nos arredores de Malange há hora da contagem dos votos, o cenário era mais
complicado. Havia falta de luz eléctrica e os “kits” com os materiais eleitorais não
tinham nem candeeiros a petróleo, nem velas. Em Cambonde, o presidente da assembleia
de voto dizia desesperado que já tinha telefonado à comissão eleitoral a pedir auxílio. Em Vila Matilde o cenário era semelhante mas os escrutinadores esperavam
contar com a boa vontade das freiras da missão católica local que tinham um
gerador a funcionar. O delegado de lista do PADEPA, na assembleia da “Carreira
de Tiro” que só quiz registar o primeiro nome Jaime , diz que ali o presidente da
mesa conseguiu dinheiro para irem comprar gasolina e fazer funcionar o gerador.
Acabaram os trabalhos às 23 horas de sexta-feira, mas por volta das quatro da
tarde deixaram de ter eleitores. Jaime diz que o que se passou na sua mesa “foi muito
diferente do que se passou na formação”.
Um dos problemas verificados foi a troca de cadernos eleitorais ou pura e simplesmente a sua ausência. Mesmo sem cadernos, os presidentes das mesas decidiram avançar com a aceitação dos eleitores. Valdomiro Massala, na Escola 74, reconhece que a situação é irregular, mas diz que receberam orientações da comissão provincial para avançar.
O delegado Simão Toco da Unita na Escola Hoji Ya Henda, muletas e tranças “rasta” não vê problemas na ausência dos cadernos eleitorais. Como o seu colega de
militância João Pacheco Manuel. Mas isto era antes de a UNITA em Luanda ter
elencado a falta dos cadernos eleitorais como uma evidência das irregularidades
das eleições desta sexta-feira.
Em Ndalatando, a meio caminho entre Luanda e Malange, José Manteigas, um deputado da Renamo destacado ali como observador do Parlamento Pan-Africano, logo bem cedo anotou
a ausência de cadernos eleitorais. “O cartão de eleitor e o dedo com tinta
são as únicas provas de certificação para se votar”, disse-me através do seu telemóvel. Sem o controle dos cadernos, para além de ilacções mais graves que ainda ninguém pronunciou, torna-se também difícil estabelecer dados estatísticos preliminares, como por exemplo a taxa de abstenção uma vez que deixou de funcionar o princípio do número fixo de eleitores por mesa.
Estes percalços nas províncias e a “mancha organizativa em Luanda” não deixam de ser um grande embaraço para o governo angolano que investiu largos milhões de dólares
na informatização de todo o processo eleitoral e, através da sua poderosa máquina de propaganda, não se cansa de repetir que as eleições vão ser “um grande exemplo para
África e para o Mundo”.
Longe das controvérsias que entretanto subiam de tom em Luanda, os malanginos confraternizavam nos bares e nos “senta abaixo” de muceque. O aperto de mão foi
substituído pelo toque de dedo manchado.
“Toca que tá quente”, repete Américo Boavida para os amigos que cumprimenta no “Triângulo”, uma das conhecidas esplanadas de Malange.
As “makas” sérias são mesmo em Luanda.
* colaboração SAVANA/mediaFAX
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on the protests.
1 hour ago
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