Saturday, 30 August 2008

A opiniao de Manuel de Araujo




Sera a democracia em Mocambique'poder do povo, pelo povo para o povo?

Eram cerca de 14.30 de Quinta Feira, dia 28 de Agosto de 2008, quando recebi a confirmação de que Manuel Pereira acabava de ser 'eleito', 'nomeado' ou 'indigitado' candidato da Perdiz para a Cidade na Beira! Confesso que me ri, pois as coincidências seriam quase que milimétricas com a derrota da Comiche na Cidade de Maputo. Ou seja, que algo de anormal estava a acontecer no seio dos dois maiores partidos no parlamento, nomeadamente a Renamo e a Frelimo.

Confesso ainda, que nada tenho contra Manuel Pereira, contra Davis Simango, contra David Simango ou Eneas Comiche. Apenas, acho que há falta de transparência e de credibilidade nos processos eleitorais, o que demonstra que algo não vai bem na nossa democracia.

A primeira vez que soube da candidatura de Manuel Pereira foi no dia seguinte ao do anuncio da sua candidatura. Por coincidência, nesse dia, eu e ele, colegas da mesma bancada parlamentar, apanhámos o mesmo voo e, quando o fui cumprimentar, ele mostrou-me o Diário de Moçambique, cuja capa tinha uma foto sua com os dizeres ' Manuel Pereira candidata-se ao Município da Beira'.
Como mandam as regras de boas maneiras, congratulei-o pela aposta e regressei ao meu lugar, estava perplexo, pois até ai, pensara eu, que o candidato da Perdiz para a Cidade da Beira era o actual edil da Cidade, Davis Simango. Achei estranho, apesar de saudável em democracia.

Para mim, na altura, quatro razões poderiam estar na origem da candidatura de Manuel Pereira:

1- Que a democracia era o pão de cada dia no maior partido da oposição;
2- Que havia uma grande insatisfação das bases, essencialmente da facção Sena da Renamo na Beira, com a governação de Davis Simango (Ndau);
3- Que o líder do partido pretendia diminuir a popularidade interna e externa de Davis Simango e, assim, garantir a sua continuidade na liderança no partido;
4- Que Davis Simango havia demonstrado que o poder local era importante (uma vez que fontes partidárias alegam que, em 2003, Manuel Pereira quando convidado a concorrer havia negado assumir a candidatura;
5- Que era no interesse do partido no poder, dividir a Renamo para fazer passar a candidatura de Lourenço Bulha.

Por um lado, achei que não era nada de anormal que houvessem vários candidatos às eleições internas, pois em democracia, os líderes não devem apenas mostrar serviço na base, mas também, devem periodicamente submeter-se a vontade popular. Confesso que não concordo com a metodologia da 'consulta' no lugar da eleição directa dos candidatos, quer aos órgãos autárquicos, quer a outros órgãos! Democracia é democracia e tem as suas regras. E como disse Afonso Dhlakama, em recente entrevista, não há 'democracia europeia ou democracia africana: há apenas uma e unia democracia: democracia!

O que achei estranho foi o facto ter sabido de fontes seguras que Manuel Pereira havia retirado a sua candidatura, uma vez que havia uma directiva partidária, confirmada pelo líder do partido, segundo a qual nas eleições internas para a escolha de candidatos aos municípios governados pela Perdiz, não haveria concorrentes!

Apesar de não ter concordado com a directiva partidária que definia que os candidatos nos poleiros municipais não deveriam submeter-se as eleições internas, por achar isso antidemocrático, a ser verdade o que soube de fontes internas do partido afirmam, subestimei o nível de insatisfação da facção Sena na Beira, da popularidade e quiçá do prestígio de Davis Simango e daí a ameaça a liderança, bem como a forca e pujança política de Manuel Pereira, na Cidade da Beira.
E (será?) que como a maioria dos observadores da política nacional deram uma 'carte blanche' a David Simango pela folha de serviço impecável que apresentara ao longo do seu mandato, do mesmo modo que deram 'carte blanche' a Eneas Comiche, pelas mesmas razoes?

A ser verdade, questões fundamentais devem ser colocadas sobre o tipo de democracia que temos no país e, fundamentalmente, nos dois partidos com assento parlamentar.

Esquecera-me, por momentos, de que em política, pelo menos em alguma política terceiro mundista e/ou africana, quanto mais incompetente se for, melhor para as lideranças, pois menos ameaças eles sofrerão. Ora, essa é a causa fundamental do atraso económico e em termos de desenvolvimento em que o nosso continente se encontra; dai a necessidade urgente de as forcas vivas da nossa sociedade erguerem suas vozes para que haja democracia interna nos partidos, nas ONG's, no estado, nas empresas e em tudo o que e pretende representar interesses quer minoritários quer majoritários.

Ao receber a noticia de que Manuel Pereira fora 'eleito' ou 'nomeado' candidato da Perdiz vieram-me a memória vários momentos, como o da festa da bancada parlamentar da Perdiz com a população de Sofala residente em Maputo, no Kaya Kwanga, onde achei interessante o convívio fraternal entre o líder da Perdiz e Manuel Pereira. Na altura achei, que das duas uma, ou era motivo de orgulho, pois significava que de facto a Perdiz era uma democracia adulta e que o seu líder era de facto 'o pai da democracia!' ou então que Manuel Pereira agia sob mandato superior.

Afinal de contas o que terá de facto acontecido na Beira? Será a Frelimo tão igual a Renamo? Terá de facto sido a democracia a ditar a vitoria de Simango em Maputo e da 'derrota' de Simango na Beira? Foram as duas eleições verdadeiramente democráticas?

Penso que é altura de os partidos passarem a ser muito mais transparentes para connosco pagadores de impostos, pois os cerca de mais de dois biliões mensais que recebem do nosso orçamento são fruto do nosso suor!

A ser verdade o que aconteceu, quer em Maputo, quer na Beira, então pensamos nos que temos que redefinir as regras da nossa democracia, por democracia que eu saiba é ou pelo menos deveria ser 'Poder do Povo, Pelo Povo, Para o povo'.

Será que só o facto de Comiche em Maputo ter perdido as eleições internas e Simango parecer não ter ganho na Beira é razão para mudarmos as regras de jogo? Não queremos acreditar e enquanto não tivermos a certeza sobre o que de facto estará a acontecer ficamos nas duvidas metódica.

As Opções de Davis Simango


A ser verdade o que ouvimos, restam cinco alternativas a Davis Simango:
- Umas ferias em Chibabava e terminadas as eleições regressar a sua profissão de engenheiro, respeitando a posição de quem tomou a decisão;
- Lançar uma candidatura independente a presidencia do municipio da Beira;
- Juntar-se ao pequeno grupo da versão do 'Juntos pela Cidade' de Maputo.
- Continuar no partido e aguardar pela realização do Congresso onde poderá lançar uma candidatura ao mais alto nível da liderança do partido.
-Aceitar o resultado das ‘internas’ e montar uma maquina para a criacao de uma alternativa politica nacional, um movimento transpartidario visando concorrer para as proximas eleicoes presidenciais e legislativas.
Para terminar perguntar: democracia interna partidária em Moçambique, quo vadis?
E mais não disse!

Manuel de Araujo

2 comments:

Anonymous said...

@Connecting...

Ou o Davis Simango fez bujarda ou então é truque da RENAMO para sentir se a Beira continua com a RENAMO ou então é truque da RENAMO para afastar Manuel Pereira uma vez que não lhe vai dar tempo de reunir documentação!

Ou então É VERDADE Davis Simango deve ir fazer outra coisa.

Democrácia: Trabalho bem primeiro mandato deve continuar?
Temos que mudar essas ideologias.

Se é que alguém trabalhou bem no primeiro mandato e é membro do partido irá ajudar a 100% o novo colega membro.

Mugabe, trabalhou ou não bem nos seus mandatos antes de começar a carnificina?

Ter um cargo não significa comprar um País. Trabalhar bem no primeiro mandato não deve significar que deve continuar bem para o segundo e se segundo bem então para o terceiro.

Boa entrada de blog e esperemos que a RENAMO vença as eleições por mérito do anterior mandato do Davis que bem municipou a Beira (Onde nasci e cresci vesse pelos dizeres :-))

Abraço,

@Disconnecting...

Anonymous said...

Na verdade, parece nos que os partidos nao tem agendas. Seria necessarios que os partidos formulassem politicas estrategicas que vao ao encontro do eleitorado e nao sempre andar em zigue-zagues. A Renamo nunca podia nunca perder Beira. Ao que me parece ainda o eleitorado da Beira nao esta consolidado pela Renamo e de repente esta viragem! Oxa-la que vencam...