Monday, 4 August 2008

A OPINIAO DE GREGORIO PILILAO

CERTIFICADOS, PRIVADAS E PROFESSORES

Meu amigo, espero que estejam todos bem aí em Bruxelas! Por cá vamos indo, ao ritmo
d’África.
Prezado Ossilo Murupa, quero antes lhe dizer que irei comentar publicamente as questões que me colocaste, na nossa última conversa, para permitir que as pessoas com outro, talvez melhor,
entendimento sobre o assunto possam acrescentar algo, caso o pretendam é claro.
Recentemente a Universidade Pedagógica, em Maputo, expulsou cerca de uma centena de
estudantes que haviam ingressado para àquela instituição de ensino superior com certificados falsos.
Podemos tomar o gesto como uma acção concreta que visa suster a onda crescente, e notória, de gente que pretende ascender ao nível de licenciatura à todo custo. Uma avalanche de falsidade e falsificação para a qual urge uma atitude firme, coerente, consequente e coordenada por
parte de todas instituições intervenientes no sistema de ensino em Moçambique.
Lamentável porém é o facto de gestos idênticos não serem realizados pelas universidades, e
escolas privadas, espalhadas pelo país. Não se entende porquê? Será que nelas nunca se inscrevem (ram) estudantes com certificados forjados?
Fernando Lima, jornalista moçambicano recém galardoado pela CNN, num dos seus Espinhos da micaia, no semanário Savana, dizia que em Moçambique “até David Beckham é mais conhecido do que o melhor professor universitário”.
Veja que em Moçambique a expansão das universidades para as províncias ocorre mais rápido
do que a expansão dos grandes supermercados. Como dizia Sérgio Vieira, na sua intervenção no IX congresso da Frelimo em Quelimane, “ criam-se universidades sem bibliotecas,
sem laboratórios (...) formam-se semi-iletrados”. Sabes qual é o resultado disto meu amigo?
São os semi-iletrados que de lá saem. Não são capazes de fazer uma redacção, daquelas que se
fazia nas provas, na quarta classe, na escola primária, há uns tempos e que a nossa modernidade e modernização já não fazem. Não conseguem sustentar uma conversa, por dez minutos, num
nível de linguagem aceitável.
Como referia Ungulani Ba Ka Kossa, “começam logo a falar de carros luxuosos”.
Sabes meu caro Murrupa, algumas pessoas acham confrangedora a falta de fluência na sua própria língua oficial, por parte de alguns estudantes universitários. A cultura geral de alguns estudantes deixa muito a desejar.
A terminar meu caro amigo vou te deixar com um extracto da intervenção da Maria Alexandre
Dáskalos no dia 12 de Novembro de 2006, no programa Debate africano da RDP-África, que vai ao ar aos Domingos, que falando dos professores universitários em África, dizia que geralmente são “ indivíduos com cargos políticos, funcionários públicos que viajam três vezes por mês, não têm muito tempo para acompanhar os estudantes” e no fim das contas “as teses de licenciatura são plágios”.
Não concordo plenamente com estas afirmações meu caro, tragoas para aqui porque, creio eu, dão muito que pensar.
A sociedade já não dá as universidades o valor que sempre teve. Como oficina de ideias, de
soluções para os seus diversos problemas. Aos professores muito menos. Mas estes são os
orientadores, que moldam a forma de pensar, moldam a “agilidade” no pensar e no solucionar
problemas.
Prezemos as universidades, embora surjam algumas encarnando características de hipermercados de conhecimento, ainda há outras cujo excelente valor do seu trabalho é
inquestionável, e aos professores pois, embora alguns sejam turbos (como alguém qualificou outro dia) ainda há tantos cuja entrega ao trabalho e sua competência são dignos de louvor, como nos velhos tempos.
Abraço fraterno!
gregoriopililao@yahoo.com.br in Diario da Zambezia

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