"Regime de Mugabe não devia realizar eleições"
"Um regime de ditadura comandado por Robert Mugabe, não pode, nem deve realizar eleições. A situação naquele País está bastante complicada… Robert Mugabe, sempre apontou o dedo acusador a Tony Blair mas Blair já se retirou do cargo de Primeiro-ministro, no entanto a crise continua naquele País. Como é que Mugabe explica isto?", Mia Couto, escritor moçambicano
Maputo (Canal de Moçambique) - Numa altura em que começou a contagem decrescente para a realização, no Zimbabwe, das eleições Legislativas e Presidenciais agendadas para o dia 29 de Março corrente, o biólogo Mia Couto, ao mesmo tempo um dos conceituados escritores moçambicanos, cuja obra está traduzida em cerca de 13 idiomas, e que acompanha de perto a evolução do panorama político, económico e social daquele País a braços com uma profunda crise económica, considerou que a situação zimbabweana espelha bem a tendência de certos lideres africanos de se colocarem no lugar de vítimas e culparem os outros por seus fracassos.
Em entrevista exclusiva ao «Canal de Moçambique», Mia Couto começou por dizer que no seu entender o regime da ZANU-FP (União Nacional Africana do Zimbabwe-Frente Patriótica) liderado por Robert Mugabe, à frente dos destinos do Zimbabwe desde a independência em 1980, não está em condições de realizar eleições ideais que constituam uma bandeira do exercício da democracia.Africanos são vitimas da ingerência externa?Depois das supostas reformas agrárias do regime de Mugabe marcadas pela expropriação das terras ocupadas por fazendeiros brancos alegadamente para as atribuir aos camponeses nativos negros, o Zimbabwe entrou numa crise sem precedentes. Actualmente a inflação naquele Pais vizinho de Moçambique, está na ordem dos 25 mil por cento e o desemprego ronda os 90 por cento.
Este quadro negro é considerado pelo interlocutor do «Canal de Moçambique» como sendo inconcebível.
De acordo com Mia Couto, trata-se de uma recessão que tem como causa “a tendência de certos líderes africanos de se colocarem no lugar de vítimas e de culparem os outros pelo seu insucesso”.
Mia Couto disse ainda que o controverso líder do Zimbabwe, em detrimento de um trabalho aturado e sério, sempre procurou criar bodes expiatórios para explicar à sua maneira a crise do seu País ao afirmar que “a causa da crise económica é devido a ingerência externa”.
Outra maneira de dizer de outros líderes muito parecida com a de Mugabe é falar quando há problema de “mão externa”… O presidente do Zimbabwe fala de “ingerência externa”…
A dado passo da entrevista, Mia Couto fala-nos de uma das figuras que nos últimos anos andou na ponta da língua de Robert Mugabe: o ex-primeiro ministro britânico, Tony Blair, que sempre foi citado por Mugabe como sendo o principal orquestrador da crise zimbabweana.
“Robert Mugabe sempre apontou o dedo acusador a Tony Blair mas Blair já se retirou do cargo de Primeiro-ministro e, no entanto, a crise continua naquele País. Como é que Mugabe explica isto?”, questiona Mia Couto que de seguida opina: “Não é justo culparmos os outros pelos nossos fracassos!”.
“Contornos alarmantes”
Couto explica depois que “Mugabe, em nenhum momento procurou, objectivamente, a solução do problema dentro de Zimbabwe, e por isso é que a crise continua a ganhar contornos alarmantes”.
Fuga de cérebros
O Zimbabwe, segundo opina o escritor, está a perder, anualmente, muitos cérebros para diversos países devido à crise que iniciou aquando da decisão do Governo que obrigava os agricultores brancos a entregarem as suas terras a negros.
No entender da nossa fonte, a fuga de cérebros naquele país é justificada pelas políticas erradas impostas pelo regime da ZANU-FP liderada pelo Robert Mugabe.
Acusações a Moçambique
Mia Couto, afirma que mesmo perante a situação actual, Mugabe, continua, num acto de desespero, à procura de possíveis causas fora do País deixando de olhar para o que está errado internamente afim de solucionar o problema. “Ele já começou, inclusive, a acusar Moçambique de estar a aliciar os professores locais para abandonarem aquele País com promessas de auferirem no país altos salários”, afirmou o escritor reiterando que para além de Mugabe, em Africa há sempre uma tendência das pessoas se isentarem das suas próprias responsabilidades. “Para mim, isto é muito errado”, disse sublinhando que “tal tendência tende a alastrar-se para o povo, o que é igualmente errado”.
Para além dos cérebros que tendem a fugir daquele pais, sabe-se que muitos zimbaweanos, sem posses, entram actualmente em território moçambicano para comercializarem os seus produtos, situação que antes não passava pela cabeça atendendo a que o seu país era um dos mais bem sucedidos casos de governação pós-colonial.
Um regime de ditadura não deve realizar eleições
Muito recentemente, o comandante da Polícia local, Augustine Chihuri, apoiado pelo Governo, dirigiu-se ao povo zimbabweano para garantir que a Polícia vai disparar a matar e reprimir os partidos e grupos da oposição que segundo ele “tencionam levar a cabo violentas manifestações pós-eleitorais caso percam com a ZANU-FP”. Mia Couto, reagindo a este pronunciamento de quem faz o prognóstico dos resultados das eleições e adivinha o que vai suceder na sequência da divulgação dos mesmos, começou por afirmar que essa posição não lhe causa nenhuma estranheza, pois a acontecer, apenas “será a repetição daquilo que vem acontecendo nos últimos pleitos eleitorais naquele País”.
“Um regime de ditadura comandado por Robert Mugabe não pode, nem deve realizar eleições. A situação naquele País está bastante complicada”, alerta Mia Couto.
Mia lamenta divisões no MDC
Por outro lado, Mia lamenta seriamente o facto do Movimento para a Mudança Democrática (MDC) liderado pelo Morgan Tsvangirai estar a fragmentar-se devido aos desentendimentos internos. “Isto não é bom para o partido muito menos para o povo que precisa de uma alternativa democrática”, diz o escritor moçambicano.
Na semana finda, o Governo Zimbabweano veio a público através da imprensa estatal acusar a Grã-Bretanha, Estados Unidos e a oposição de pretenderem desencadear manifestações como as que se verificaram no Quénia. Esta posição, igualmente não espanta o nosso interlocutor. “Em Africa há sempre esta tendência de se acusar o outro pelo nosso fracasso. É uma atitude muito errada”.
Fogo do Zimbabwe alastra-se para Moçambique
Questionado sobre o papel dos líderes africanos face à crise e tensão Zimbabweana, Mia Couto foi peremptório: “Há uma profunda necessidade de, em nome dos princípios democráticos, os presidentes encontrarem uma nova estratégia para a resolução da crise no Zimbabwe”, na medida em que, ainda de acordo com o escritor, “Thabo Mbeki, em representação da Comunidade de Desenvolvimento da Africa Austral, ensaiou várias fórmulas para pôr termo à crise naquele País, mas tudo foi por água abaixo”. “Neste momento parece que não se está a fazer nada para a resolução do problema que ainda persiste”, acrescenta Mia Couto.
Para o interlocutor do «Canal de Moçambique» os líderes africanos não podem continuar a olhar impávidos e serenos para a situação daquele país que equipara-se ao fogo que deflagra na casa do vizinho.
Fogo pode alastrar-se para Moçambique
“Não é justo ver a casa do vizinho a queimar e ficar de braços cruzados a olhar como se nada estivesse a acontecer, na medida em que depois pode se alastrar e atingir a sua casa”, salienta Mia Couto para quem “Moçambique já começou a se incendiar com o fogo que vem se alastrando desde as terras de Mugabe”.
“Nós temos que dar emprego aos nossos irmãos zimbabweanos no nosso país. A par disto são as dívidas que o Zimbabwe já não consegue pagar devidamente pelo consumo da energia da Hidroeléctrica de Cahora Bassa, entre outras situações que são, obviamente do domínio público”, acrescenta Mia Couto.
Paralelamente sabe-se que a dívida do Zimbabwe à Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) está agora na ordem dos 16 milhões de dólares norte-americanos apesar de já ter sido bem maior até há pouco tempo em que parte da dívida foi paga. O «Canal de Moçambique» sabe ainda que presentemente, a dívida tem vindo a ser amortizada, em tranches, semanalmente, e que se espera que o pagamento seja concluído nos próximos seis (6) meses.
CPLP
Mas voltando a Mia Couto, ele faz de novo um apelo aos líderes africanos para que olhem para a situação do Zimbabwe de uma forma muito mais séria e responsável.
Refira-se que para as eleições legislativas e presidenciais que se avizinham, o Governo do Zimbabwe já convidou formalmente a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para enviar uma missão de observadores.
O último escrutínio naquele Pais realizou-se em Marco de 2002.
A imprensa, um dos mais importantes alicerces da construção de qualquer Democracia que se preze e de estados de direito, tem sido severamente silenciada pelo regime de Robert Mugabe. Aliás, serve de referência dizer que o «Daily News», uma publicação independente do Zimbabwe viu as suas portas encerradas, depois dos déspotas do regime terem feito explodir a gráfica da publicação. O seu então Editor, Geofry Nyorata, acabou por ter de se exilar nos Estados Unidos da América.
(Jorge Matavel)
2008-03-04 06:45:00
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