“Sempre vivemos com o preconceito de que somos um povo pacífico e quando acontecem estas situações de manifestações e linchamentos ficamos muito admirados. Eu penso que nunca fomos um povo pacífico” - Mia Couto
Maputo (Canal de Moçambique) - O escritor e biólogo moçambicano, Mia Couto, descreveu o actual cenário de manifestações, linchamentos entre outras situações protagonizadas pelo povo como uma prova inequívoca de que os moçambicanos não são um povo pacífico. Já o Reitor da «Politécnica», Professor Doutor Lourenço do Rosário, poucos dias antes do 5 de Fevereiro de 2008 – o dia em que a população de Maputo e Matola se rebelou – dissera o mesmo em que poucos acreditaram.
Agora é Mia Couto, ao usar da palavra, no 2.º Fórum Humanista Moçambicano, que decorreu sob o lema «Humanismo e Não-violência», a dizer que afimar que os moçambicanos são um povo pacífico “é um mito”. “Isto para mim não é verdade!”.
Mia sustenta a sua posição apoiando-se nos acontecimentos que marcaram a Guerra Civil que devastou o pais durante 16 anos, travada entre a guerrilha da Renamo e as forças governamentais do regime monopartidário imposto pela Frelimo até ao Acordo Geral de Paz de Roma, a 4 de Outubro de 1992.
“Tivemos muitos professores, médicos, crianças, mulheres, idosos, etc. mortos, para não falar de muitas infra-estruturas económicas e sociais destruídas”, recordou o escritor aludindo a Guerra Civil.
São situações, que segundo Mia Couto, elucidam que não somos pacíficos tal como algumas correntes de opinião pretendem fazer crer. “Isto prova que nós não somos diferentes de outros povos”, disse e acrescentou: “sempre vivemos com o preconceito de que somos um povo pacífico e quando acontecem estas situações de manifestações e linchamentos ficamos muito admirados”.
“Eu penso que nunca fomos um povo pacífico”, concluiu.
Falando das manifestações e linchamentos que fazem o dia-a-dia de Moçambique, Mia Couto foi bastante categórico ao afirmar que “temos um sistema de produção de riqueza que não muda a vida dos mais pobres”. E alertou: “Estas situações devem ser vistas como um rio que já transbordou”, na medida em que, adianta, “as manifestações e linchamentos são uma clara resposta do povo que sente a incapacidade das instituições do Estado em dar uma resposta pronta e eficaz aos seus problemas”.
O 5 de Fevereiro de 2008
Ainda de acordo com o escritor, “as manifestações do dia 5 de Fevereiro na Cidade de Maputo e que depois alastraram-se para outros locais, não tiveram como causa apenas a questão do agravamento da tarifa dos transportes semi-colectivos de passageiros”.
“Foram manifestações pela exigência de um transporte rumo a uma boa vida”, sublinhou.
Por outro lado, Mia Couto disse que o actual panorama de descontentamento é “resultado do desespero de ver uma coisa que se chama futuro, mas que vai passando a distancia”.
A dado passo da sua dissertação, Mia Couto afirmou que não se identificava com a violência, pois, “não podemos usar a violência para combater a violência”.
“Que resultados trazem as manifestações e linchamentos?” Foi esta a questão a que Couto procurou responder de seguida. “A violência de Chimoio e Maputo só pode ser considerada de negativa se não produzir respostas para contrapor a violência quotidiana que tende a crescer”, disse.
“Os moçambicanos não podem se considerar um povo pacífico, aquele que é diferente de outros povos do Mundo, pois quando temos manifestações ficamos todos admirados devido ao preconceito de que somos pessoas pacíficas”.
“Em todo Mundo verificam-se manifestações, só que as que assistimos muito recentemente em Moçambique foram muito violentas devido a este mito de que somos um povo pacífico”, salientou o conceituado escritor, um dos mais premiados mundialmente.
A terminar a sua dissertação naquele Fórum, Mia Couto disse ainda que “um País não pode, nem deve ser Governado como um quintal, porque não é. Dirigir uma casa e governar um País são duas realidades diametralmente diferentes”, rematou Couto convidando os jovens presentes no referido fórum para que tenham um papel vital na construção de um País “sem violência e digno para todos”.
(Jorge Matavel)
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23 minutes ago
1 comment:
foi hoje a primeira vez que abri seu blog Manuel Araujo, adorei tem informaçoes ricas, estava com vontade de ver algo escrito em Moçambique, por isso fiquei feliz em ver seu nome, estou no sul de Brasil Porto Alegra, fazendo pós-graduação em direito. pela primeira vez te vi num seminário em Quelimane na ISPU como palstrante e homem rico de visão e palavras. espero que continue assim.
desejo te tudo de bom na vida.
abraço.
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