Saturday 12 January 2008

Mocambique: crise na educacao!

“Façamos da educação uma arma para o povo tomar o poder” - Samora Machel

Maputo (Canal de Moçambique) – O Ministro da Educação e Cultura Aires Aly afirmou em voz viva e para quem o quis ouvir, que no decurso deste ano escolar, e para aquelas crianças que ficarem de fora dos esquemas oficiais de matrícula para frequência normal, o MEC tem desenhada e bem, uma estratégia de aprendizagem, consubstanciada no ensino à distância. Isto dito por um ministro dum país onde há seriedade, falamos daquelas sociedades bem lavadas, este enunciado pode deixar sossegados os progenitores destes meninos mal abençoados, porém, para sociedades do género da nossa, guiadas pelo deixa andar e desnorte total, a afirmação do ministro, que se pretende didáctica e encorajadora, assume-se como uma verdadeira grosseria e mentira do tamanho da própria nação, dita apenas para boi dormir, enquanto as centenas de jovens sem vaga, vagueiam no mundo abstracto da incerteza académica.
O facto de ser uma ideia ainda em embrião, que vai ser aplicada pela primeira vez, e pelas razões atrás descritas quanto ao tipo de sociedade a que pertencemos, deixa-nos algo desconfiados de ser esta, à semelhança de outras, mais uma trapaça das tantas a que estamos habituados a ver e a sentir nas entranhas do ensino educacional desta pérola do Índico.
O ensino à distância caso vingue a sua aplicabilidade, (estamos cépticos quanto a isso) vai ser um verdadeiro desastre em termos de resultados, pois, para aquilo que tem sido a realidade, os alunos graduados da sétima classe, possuem lacunas elevadíssimas ao nível da assimilação de matérias, que tem como base, a falta de educação de leitura convencional e capacidade de redacção, para não falar das frágeis habilidades paras as ciências exactas. E esta faceta acontece no sistema presencial. Quanto mais à distância, adivinham-se os bocejos para a sua adaptação…
Ensino à distância pressupõe elementos didácticos ao dispor. Sabemos das dificuldades que os alunos enfrentam para obter oficialmente o livro escolar. Nos meandros obscuros, a sua compra não se compadece com bolsos furados. Ora, o aluno à distância precisa de dinheiro para a compra destes materiais. Será que o MEC, de parceria com a propalada introdução do tipo de ensino preconizado pelo ministro, tem já definida alguma política de subsidiar esta gente atirada ao abismo por culpa do próprio sistema? Caro ministro: ensino à distância, sem acompanhamento técnico e devido, é o mesmo que vender frigoríficos nos pólos…
Temos para nós, que a medida passa grandemente pela afectação de mais professores às escolas existentes, construção de mais salas de aulas (os chineses fazem isso em tempo recorde) e desenhar horários académicos à altura da situação de emergência, do que atirar para as ruas da amargura milhares de crianças.
Esta constatação, ouvimo-la em conversa, há dias, com alguns professores que procediam às matrículas. Ficámos a saber que existem espaços físicos a dar com o pau, e o que falta realmente são professores, maioritariamente para o ensino secundário geral. Outrossim, a proliferação de professores turbo escangalha toda uma planificação que se pretende abrangente, pois, estes, saltitam de estabelecimento em estabelecimento escolar confundindo tudo e todos, o que dificulta uma boa organização e consequentemente a planificação pedagógica.
Pelo exposto, deduzimos que afinal não é só apenas o PR que está mal assessorado. No MEC também vegeta o espírito feio de deixar o chefe queimar-se. Ora isto é mau, senhores e senhoras, meninos e meninas, idosos e idosas. Mandar gente imberbe estudar para o curso nocturno, e, ou projectar ensinos à distância, é facada nas costas dos encarregados de educação, por causa das nuances psico- sociais que isso acarreta.
À noite, todos os alunos são pardos como os gatos. Senhor ministro, a batalha é dura, mas temos que vencer com outros instrumentos que não com estes por si anunciados. Urge uma reunião nacional de reflexão, em que todos temos de dar as nossas opiniões, e não nos cingirmos às vontades de meia dúzia de gatinhos pingados …

(Ângelo Munguambe)

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