Thursday, 10 January 2008

MARCO DO CORREIO

Com a devida venia e sem comentarios reproduzimos o artigo de Machado da Graca no Correio da Manha

MARCO DO CORREIO
Por Machado da Graça
Olá amigo Sousa

Como foi a passagem do ano? No meu caso foi calma e agradável.
Mas não é da passagem do ano que te quero falar hoje e sim do horror que está a acontecer no Quénia, depois da divulgação dos resultados eleitorais.
Através da Rádio ouvi a notícia de que cerca de 200 pessoas, que se tinham refugiado numa igreja, terão sido mortas pela violência descontrolada que varre aquele desgraçado país.
Mais tarde recebi uma mensagem que dava conta de que os mortos serão já vários milhares e não as poucas centenas que as autoridades reconhecem. As morgues dos hospitais estão guardadas por forças policiais que impedem a entrada de jornalistas para evitar a divulgação dos números reais. As testemunhas oculares falam de milhares de mortos só nos subúrbios de Nairobi.
E, como acontece tantas vezes no nosso continente, a violência parece estar a seguir padrões étnicos, sendo a maior parte das vítimas membros da etnia do Presidente reeleito, Mwai Kibaki, os kikuyu.
Segundo a mesma mensagem, cerca de 5 000 membros das etnias kalenjin, pokot e marakwet, armados, estavam a avançar para uma zona de floresta onde se tinham abrigado cerca de 1000 kikuyos.
A situação parece estar a atingir níveis de guerra civil com todo o seu cortejo de horrores.
Mas já não é só o Quénia a sofrer as consequências desta violência. O vizinho Uganda, país sem saída para o mar e que é abastecido a partir dos portos quenianos, está a ficar paralisado porque os combustíveis deixaram de passar devido à violência.
Tudo isto, meu caro Sousa, porque parece ter havido uns tipos que decidiram brincar com o conteúdo das urnas de votos.
Em países como os nossos em que a estabilidade política é precária e as divisões étnicas ainda são muito marcadas, brincar levianamente com as regras da democracia pode ter efeitos trágicos.
E sabemos que não é só no Quénia que essas coisas acontecem. Casos como o do sr. Albuquerque, na Beira, apanhado em flagrante delito de falsificação de números a favor da FRELIMO, ou dos distritos de Tete em que houve muitos mais votos a favor da FRELIMO do que o número de votantes no seu total, são recordações que não podemos deixar de ter em conta.
E que assustam quando vemos, no Quénia, até onde podem levar um país aparentemente calmo e pacífico.
No nosso caso, Sousa, talvez o mais preocupante tenha sido o facto de que os criminosos ficaram impunes, protegidos por aqueles a quem favoreceram com os seus actos. Ninguém puniu o sr. Albuquerque, ninguém puniu os responsáveis das mesas de voto, em Tete, de onde previamente tinham sido expulsos os representantes da oposição.
De resto, a nova lei eleitoral parece feita de propósito para que actos destes se repitam. Se a memória não me falha, diz que, nos casos em que os números de votos na urna e de votantes registados nos cadernos sejam diferentes, prevalece o número de votos na urna. Isto quer dizer que se, numa mesa de votação, tiverem votado 30 pessoas mas aparecerem na urna 500 votos, esses votos são considerados válidos.
Há um provérbio antigo que diz que, ao vermos as barbas do vizinho a arder, o melhor é metermos as nossas dentro de água.
Neste momento as barbas do Quénia estão a arder violentamente. Tenhamos o bom senso de, nos próximos processos eleitorais, mantermos as nossas barbas dentro de água.
Um abraço para ti, do
MACHADO DA

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