Canal opinião : por Noé Nhantumbo, As nuances da globalização ou neocolonialismo entre nós
Onde está o capitalismo moçambicano?
Beira (Canal de Moçambique) - Se quem produz não somos nós, se as fábricas não nos pertencem, se os meios de produção são dos outros e as finanças também, de que capitalismo falamos realmente em Moçambique?
Pode-se procurar teorizar mas no fim, decerto que teremos que nos render à evidência dos factos: de capitalismo não temos praticamente nada. Há capitalistas em Moçambique mas não são os moçambicanos. Serão apenas alguns!?...
Somos mais uma placa geográfica usada pelos capitalistas para produzir e extrair com vantagens o que lhes interessa.
O sistema vigente oficialmente chamado de economia de mercado, portanto capitalismo, é na essência um neocolonialismo económico às vezes até com cariz de político-económico. Se tivermos que ler conforme o que se passa no terreno e o posicionamento do governo moçambicano na arena internacional, não será difícil concluir que mesmo politicamente o alinhamento que ele tem é conforme a decisão de outras entidades e que habitualmente opta pelo silêncio. Quando a fraqueza é de tal modo que condiciona todo e qualquer posicionamento de um governo estamos em presença de uma dependência que não deixa agir com a independência necessária para precaver os interesses nacionais. Esta é a realidade nua e crua embora possa ser doloroso admitir.
Os modelos económicos movem-se e regem-se por leis próprias. Na sua dinâmica não entram em linha de conta sentimentalismos e caridade. Falar de globalização numa situação em que somos meros consumidores do que os outros fazem não faz muito sentido. Falar de integração que é parte da mesma coisa é portanto uma falácia política para consumo internacional. A economia é algo que sustém os países e quem não produz corre o risco de desaparecer do mapa. As pretensões de integração a maneira como estão decididos a avançar algumas pessoas vai ser tão lesiva como as receitas impostas pelo Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional há alguns anos atrás. Seria de esperar que as lições do passado servissem para alguma coisa mas parece que este não é o caso. Porque Angola se nega a avançar para a integração ao nível da SADC? Alguém do nosso governo já se preocupou em analisar isso? A mera imitação do que os outros decidem segundo os seus interesses concretos não pode servir de critério para aceitarmos seguir o mesmo caminho. Isso não é política nem governação. Estou convencido de que a África do Sul logo que concluir que não lhe interessa esta integração sairá dela.
É muito difícil compreender como é que pretendem integração económica quando os mecanismos de circulação e permanência de pessoas nos diferentes países não estão completos e quando semanalmente há deportação de cidadãos ilegais em algum país da SADC.
Não se pode brincar aos sistemas económicos. Um país é aquilo que produz e se nós não produzimos perdemos peso e o nosso poder negocial diminui até desaparecer. Beneficiar da globalização passa por fazer alguma coisa do interesse dos outros. A facilitação da operação das multinacionais em nosso país não é mais do que a confirmação da realidade neocolonialista. Quando se monta uma indústria como a MOZAL que os outros não quiseram, quando até o fornecimento de energia eléctrica que afinal é moçambicana passa por arranjos que diminuem a margem de lucro nacional só se pode estranhar. Que capitalismo é este? Poderíamos aceitar montar a MOZAL mas porque se tem de aceitar que a energia tenha que ser comercializada pelos sul-africanos em consórcio connosco? Não seria possível ter a mesma MOZAL em Moçambique e com energia totalmente comercializada pela EDM mesmo que se tivesse que implantá-la noutro local? O capitalismo faz-se de mais valias e se nem em situações como esta não conseguimos explorar as vantagens, que esperar? A facilidade com que os negociadores governamentais cedem às imposições dos parceiros deixa muito poucas esperanças quanto à nossa capacidade de proteger o interesse nacional e fazer progredir a economia local. O empowerment que existe, o de que se fala e o que seria de desejar, são bastante diferentes. Sem capacidade genuinamente nacional de produzir pelo menos alguma coisa, sem apropriação de tecnologias que levem a diminuição progressiva da dependência tecnológica; sem o aparecimento de moçambicanos na esfera produtiva, agrária e industrial, sem o surgimento de uma banca que incorpore cada vez mais as poupanças locais e que trabalhe no sentido de retenção dos lucros neste país, continuaremos perdidos na ilusão teórica de capitalismos que não temos e de integração ilusória numa economia regional onde não passamos de peões e consumidores.
(Noé Nhantumbo)
2008-01-17 06:16:00
'I don't like crisps, but I collect the packets'
-
Frank Munford's collection ranges from 1970s packets of Tudor Crisps to a
Walkers tracksuit top.
2 hours ago
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