Wednesday 8 August 2007

A Diplomacia Gastronómica de Tony Blair ou seja Um Olhar Sobre a Presidencia Britanica da Uniao Europeia

Por Manuel de Araújo, Londres

Os seis meses da Presidência Britânica da União Europeia, recentemente terminados, ficaram marcados na historia, pelo menos na forma, pela ‘redescoberta’ de um novo termo na diplomacia moderna, a chamada ‘diplomacia gastronómica’, fruto da imaginacao da dupla Straw & Blair lda. E que a dupla iniciou a sua presidência bem como o terminus com sumptuosos jantares, com objectivo único de somar alguns pontos diplomáticos através do uso de dotes e artimanhas gastronómicas. Em questões substantivas os seis meses ‘britânicos’ ficaram marcados, pelo inicio da discussão do acesso da Turquia a União Europeia bem como, como nao deixaria de ser, pelo lendário conflito Paris-Londres sobre dois assuntos de importância transcedental para cada um dos dois países - a questão de ‘rebate’, uma artimanha conseguida ha cerca de 20 anos pela diplomacia do ‘stick and carrot’ da então Dama de Ferro da politica britanica, a nao menos controversa Lady Thatcher, e a consequente relutância de Chirac de ceder naquilo que alguns observadores internacionais chamaram da ‘mais estúpida e imoral politica de subsidios que alguma vez existiu na face da terra’-a Politica Agrícola Comum, mais conhecida pela sigla CAP. O CAP e um sistema da União Europeia que visa subsidiar a agricultores Europeus (maioritariamente Franceses).

Quando Blair tomou a liderança do barco europeu, a Europa ainda nao tinha um orçamento, como resultado de disputas orçamentais entre Londres e Paris, e Blair achava que era ‘uma loucura’ que cerca de 40 por cento de tal orçamento fosse para o CAP. Este viria a ser o seu cavalo de batalha, e quica de Tróia!

Apesar do final com sabor amargo, a presidência britânica nao poderia ter iniciado de forma mais brilhante! Para inaugurar o seu reinado, Blair convidou para o Hampton Court, o palácio onde residiu Henry VIII, um palácio nada modesto e convenientemente perto do aeroporto (para minimizar inconveniências e maximizar o prazer dos visitantes), a todos os lideres da União Europeia (25), incluindo os novos membros do Leste Europeu, para um jantar regado de vinho francês e ingles, e cujo prato principal nao deixaria de ser o famoso salmao inglês, naquilo que observadores chamaram de uma autentica ‘diplomacia gastronomica’. Os resultados dessa ‘diplomacia gastronómica’ nao se fizeram esperar, pois foi possível reverter a memoria do desastroso ‘Jantar do Inferno’ entre Blair e Chirac, que marcou o terminus da anterior presidência. Como diria algum observador da politica europeia, a Cimeira de Hampton Court, serviu de ‘terrapia colectiva’ para os lideres europeus e serviu para dar uma lufada de ar fresco e inspirar confiança nas instituicoes europeias. Mas como nao e possível agradar a gregos e troianos, os lideres do Leste Europeu saíram da Cimeira meio desiludidos, pois para eles o mais importante era o inicio do debate sobre o orçamento, convenientemente ignorado nesta Cimeira!

Apesar destes louros da diplomacia de ‘Downing Street’ ainda nao foi desta em que se passou da ‘Discordiale Entente’ para a ‘Cordiale Entente’entre Paris e Londres. De facto, enquanto que de um lado do ‘Canal da Mancha’ Blair bradava aos Ceus e prometia aos seus correligionários que nao cederia em nenhum centímetro na questão do rebate, Chirac, por sua vez ‘parlava’ em bom francês que rever o CAP nao estava na sua agenda nem a sonhar! Alias Chirac e citado como tendo dito algures que ‘a única contribuicao Britânica a Europa foi a doença das vacas loucas’. Alias e conhecida a aversão de Chirac a cozinha Britânica, tendo-a considerado de a ‘pior do mundo, depois da finlandesa!

Face a estas posicoes irredutíveis das duas partes, estavam lançados os ingredientes para um ping pong que no final teria a noviça Chancellor Alemã, Ângela Merkel, como a única (?) vencedora!
Com tais promessas iniciava aquilo que viria a ser a dor de cabeça de Jack Straw e Blair- conseguir um compromisso que salvaria a honra da diplomacia e quica da presidência britânica!

Porque nestas coisas de ping pong alguém tem de lançar a bola, coube a Blair a tarefa de lançar os dados do jogos. Foi neste andar de coisas que Blair fez uma proposta do orçamento que apesar de oferecer cerca de 8 bn Euros foi unanimemente rejeitada. Por exemplo José Manuel Durão Barroso, afirmou categoricamente que a ‘proposta britânica era inaceitavel’.

Outro desafio que a diplomacia britânica teve de gerir foi o duelo entre Downing Street e Áustria! Enquanto que a dupla Straw & Blair apostava no inicio da discussão da acessão da Turquia a União europeia, a áustria bradava aos seus tentanto a todo o custo prevenir a entrada do primeiro estado nao cristão da Europa! E que Turquia serve de espaço divisório entre a Europa e a ásia e a sua populacao e maioritariamente islâmica.

O Ministro dos negócios estrangeiros turco nao deixava seus créditos em mãos alheias ao desafiar a União Europeia a provar que esta organizacao nao era apenas uma organizacao de estados cristãos! Apesar das emocoes de ambas as partes a questão acabou sendo resolvida e a entente cordiale entre Áustria e UK por um lado e entre a Europa e a Turquia por outro, foi alcançada com a cedência na decima primeira hora da gigantesta Ministra dos Negócios Estrangeiros Austríaca-marcando assim o único golo de consolacao da diplomacia britânica durante a sua presidência Europeia.

Na Cimeira de Bruxelas, Blair sofreu ataques tanta na Europa como no Reino Unido, o que marcava aquilo que observadores chamariam de ‘capitulacao progressiva’, pois Chirac estava disposto a nao dar garantias de revisão sobre o CAP.

Na ultima hora foi Merkel que saiu a ganhar: investiu cerca de 100 ms de euros, claro para a sua Alemanha do Leste, salvando deste modo as caras tanto de chirac como de Blair!

Mesmo derrotado Blair ainda conseguiu dar um suspiro no parlamento Europeu, ao redefinir o conceito de interesse nacional, que na sua óptica nao deveria apenas ter ingredientes internos mas também e sobretudo interesses europaus: Com este acordo conseguimos ter uma Europa Unida, uma visão de desenvolvimento económico comum, um pacote de reformas sobre o CAP e o Rebate, um um ambiente conducente a um debate frutuoso sobre a reforma. Alguém entendeu? Duvido, mas Balir sendo Blair ainda conseguiu sair com um ar jovial e com algo remotamente parecido com uma vitoria.



Como diria Jack Straw, sem a intervencao a ultima hora de Merkel, nao haveria acordo e nao havendo acordo a Cimeira teria sido um fracasso!-uma licao para Tony Blair, o optimismo e a retórica são uma coisa e a pratica e a realidade são outra, alias como muito bem o disse na hora de despedida o nosso ex- agricultor, agora em terras Obasanjianas, ‘Uma coisa são discursos, e outra e a pratica!’

Para terminar uma pergunta: Onde ficou a prioritária Africa? Talvez a resposta repouse nos desafios da Presidência Finlandesa, que pelas características gastronómicas poderá continuar a criar indigestões ao Monsiur Chirac! A ver vamos!

1 comment:

Anonymous said...

Obrigado por Blog intiresny