Tuesday, 27 January 2015

Homenagem: Prof. Fafali Koudawo, Reitor da Universidade Colinas de Boé da Guiné-Bissau


Por Elisabete Azevedo-Harman, Chatham House, Londres
01/23/2015
Fafali Koudawo, ex-diretor da iniciativa Voz de Paz e INTERPEACEAcabo de saber do falecimento do colega e amigo Prof. Doutor Fafali Koudawo. Conhecemo-nos por volta de 2002 ou 2003 em Bissau. Desde daí mesmo que não falássemos com frequência, íamos sabendo um do outro. Academicamente, Fafali estava entre os melhores cientistas políticos com que eu me fui cruzando no mundo. A primeira vez que o conheci, eu era uma estudante de mestrado meia perdida sobre como estudar África.
Cheguei a Bissau para ‘trabalho de campo’ e sabia a teoria, mas não sabia como fazer a tal ‘ investigação’. Ele, já professor, recebeu-me com o mesmo respeito e paciência como se eu fosse uma conceituada professora doutorada.
Recordo que primeiro falámos num gabinete. Formais. Aproximava-se a hora de almoço e ele convidou-me para almoçar. Com um sorriso de teste, perguntou-me se eu queria almoçar onde almoçam os investigadores europeus ou onde o povo almoça. Lá fomos a uma tasca no meio de um dos bairros pobres. Acho que esta minha escolha foi um teste que passei com sucesso.
Fafali Koudawo, ex-diretor da iniciativa Voz de Paz e INTERPEACE
A conversa entre nós ia desde de lições elaboradas de ciência política como a discussões com humor sobre o que se passava à nossa volta. Durante essas semanas em Bissau deu-me conselhos e livros e encontrámo-nos várias vezes. Num dos “encontros-aula” disse-me sempre meio seguro e tímido que íamos à casa dele. Lá fomos. Era uma “casa-escola” improvisada.
Dr. Fafali era do Togo, mas adoptou a Guiné-Bissau como o seu país com muito carinho. A casa dele nessa altura estava cheia de crianças. Percebi a casa mesmo sem mesas e cadeiras era uma escola. As crianças do bairro ali estudavam e ele que podia ser professor em qualquer das melhores universidades do mundo ensinava o ‘A’ e ‘B’ com a mesma dignidade e respeito de estar a dar uma aula em Harvard. Sem vaidade mostrou-me a ‘escola’. Passei ali um dia e o tempo voou.
Depois foram anos e anos de correspondência. Uma das vezes veio à Europa e conversámos. Nos corredores duma universidade europeia era um distinto Professor, mas sempre modesto. A última vez que o vi foi no dia do golpe de estado em Bissau em Abril de 2012. Eu tinha passado a tarde com ele na universidade onde ele era agora o Reitor, Colinas de Boé da Guiné-Bissau.
Com o mesmo entusiasmo da “casa-escola” de há anos atrás, mostrou-me e apresentou-me alunos. Depois fizemos uma sessão de trabalho para escrevermos um livro em conjunto. Discutimos ideias e ideias. Combinámos reunir nos dias seguintes. Quando saí do encontro, estava a passar na rua da casa do primeiro-ministro quando as bazucas rebentaram. O golpe de estado tinha começado. Confusão, medo, pessoas a gritar, soldados e a incerteza.
O Prof. Fafali calculou pelo percurso que eu tinha sido apanhada na confusão. Nesse dia não conseguimos falar. No dia seguinte falámos ao telefone e como sempre aconselhou-me — sem dramatizar — a ficar quieta. Eu queria voltar a ir ter com ele. Ele disse que não. Nestas alturas quanto menos movimento melhor, disse. E no final do telefonema riu-se e disse teremos muitas oportunidades de falar e trabalhar…não tivemos. Morreu hoje.
Perdi um dos académicos por quem tinha mais respeito. A imagem e o entusiasmo dele naquele dia na pobre casa que era também escola improvisada foi sempre a minha imagem dele. O melhor livro sobre a transição política em Cabo Verde e na Guiné-Bissau é da sua autoria.
A Guiné-Bissau hoje ficou mais pobre, mas também a ciência política. Eu queria estar em Bissau para apresentar os meus pêsames à família e aos amigos.
Pode encontrar esta homenagem aqui.

Para quando um Plano Marshall para a Zambezia? Tres pontos para Carlos Agostinho do Rosario no seu regresso a 'Casa'! 

No nosso artigo da semana passada, pediamos accao energica e flexibilidade ao novo governo no que se refere as calamidades naturais que afectam a provincia da Zambezia! Pediamos, inter alia, que o Novo Primeiro Ministro, visitasse urgentemente a zona para, in loco, verificar as condicoes no terreno, o que lhe permitiria ajuizar os desafios no terreno e o tomar de posicoes face a enormidade da catastrofe! Pedimos muito, e verdade, inclusive que a primeira reuniao do Conselho de ministro fosse em Mocuba, mas como se sabe, em 'tecnicas de negociacao', os pontos de partida devem ser ou estar um pouco acima do realmente desejado ou esperado, por forma a que se consiga o que se quer! 

 Do ponto de vista de resposta institucional, ficamos bastante sensibilizados, quando nos demos conta de que o Primeiro Ministro, nao esperou por protocolos para por maos no terreno! Arregacou as mangas e la veio a Quelimane, mesmo sabendo que a provincia ainda nao tenha Governador! E mais, mesmo sabendo que tanto o Cessante, como o Novo Governador, bem como a Ministra da Administracao Estatal e Funcao Publica, na sua qualidade de mandaratia do Chefe do Estado chegariam no mesmo dia! O Primeiro Ministro, de forma pragmatica 'arranjou' formas de ca vir, antecipando-se em hora e meia a chegada do Governador e da Mandataria! Esta atitude e por nos saudada, pois como afirmaramos no artigo anterior quando estao em causa vidas, as regras protocolares cedem a sua primazia para dar lugar ao pragmatismo! Foi por isso que fizemos vista grossa a grave falha protocolar da Secretaria Permanente da Provincia da Zambezia, que no vazio do poder, entre a exoneracao do Governador Verissimo e a tomada de posse de Razak, nao soube coordenar pragmatismo e protocolo, tendo-se 'esquecido' de informar as autoridades competentes para a cerimonia de recepcao do Primeiro Ministro na sua primeira visita oficial depois da tomada de posse a uma provincia! Uma omissao protocolar grave do lado da Secretaria Permanente, se tivermos em conta nao so que (1) Carlos Agostinho do Rosario desempenhava ate a pouco a funcao de Embaixador Extraordinario e Plenipotenciario de Mocambique em varios paises asiatico, onde o protocolo e seguido a risca, como tambem se tivermos em conta o discurso do Chefe de Estado na Cerimonia de Tomada de Posse, onde apelava a inclusao e competencia ! E que esta omissao protocolar poderia ter manchado a primeira visita do Primeiro Ministro e usada como mais uma prova da dissonancia entre o discurso de Nyussi e a Practica! Felizmente, a simplicidade e informalidade de Carlos Agostinho do Rosario resolveu o problema, mas ca fica o aviso a navegacao: funcionarios nao preparados podem manchar a imagem dos superiores hierarquicos pois em politica nem sempre contam os factos mas sim as percepcoes sobre os factos! A mulher de Cesar nao basta que seja fiel, deve parece-lo!

Como pediramos no nosso artigo, ficamos sensibilizados e quica satisfeitos com o numero de ministros que se deslocaram a Zambezia, para in loco verificar a situacao no terreno, nomeadamente a (1) Ministra da Administracao Estatal e Funcao Publica, a (2) Ministra da Saude, (3) o Ministro das Obras Publicas e Gestao Hidrica! A grande omissao foi a ausencia dos ministros da Industria e Comercio e da Accao Social, Criancas e Genero, que a nosso ver, deveriam ca ter estado, nao so (no primeiro caso) para solidarizar-se com os empresarios da regiao e com eles discutir ideias praticas para minimizar o impacto da crise na actividade economica como a possivel reducao do preco do combustivel, e no caso da ministra do Genero, Criancas e Accao Social, para verificar o impacto da crise nas criancas, mulheres, idosos! E que senhora ministra, se nao sabia, fique sabendo que a provincia da Zambezia e aquela que tem os maiores indices de mortalidade infantil, materno-infantil e juvenil-infantil no pais! Ou seja e aquela provincia onde mais se morre (tirando Cabo Delgado e Manica)! E sendo a segunda provincia mais populosa do pais, esta crise se nao for bem gerida podera afectar a performance de Mocambique nos Millennium Development Goals! 



Satisfez-nos a visita de Carlos Agostinho de Rosario que no seu pragmatismo e simplicidade caracteristicos 'conseguiu inventar' tempo para auscultar uma parte importante da 'Opiniao Publica Zambeziana' sobre aspectos sensiveis da Zambezia, que ele bem conhece e do pais! Alias aqui na Zambezia nos cantamos sempre, os nossos Verdes Campos', o Hino do saudoso Conjunto Primeiro de Maio que inter alia lembra-nos que : 'E preciso auscultar, aquele que vai, realizar! Mas afinal, e o proprio povo, quem vai realizar, e o proprio povo, que ai se encontra o segredo do povo'! 

O unico senao nesta visita, foi o de nao ter aproveitado a ocasiao para cumprimentar o Lider da Oposicao, que se encontrava na cidade de Quelimane! Esta ousadia, quebraria o gelo, criando condicoes favoraveis para as negociacoes em curso! Em politica, nao basta sabedoria, simplicidade, e necessaria alguma astucia e coragem para fazer coisas que nao estao no 'Menu'! Para ja vao tres pontos para Carlos Agostinho do Rosario! 

Somados os pontos, aguardamos por uma accao energica porque de facto, a espinha dorsal da Zambezia esta quebrada! Aquilo que a guerra nao conseguiu fazer em 1986, 87, 88 a natureza responsabilizou-se de o fazer -dividir o pais pela Zambezia, com os impactos ja a vista! Se os ultimos 39 anos transformaram a Zambezia da maior economia provincial do pais para a mais empobrecida, as chuvas conseguiram aquilo que ate aqui nenhum exercito conseguira fazer, esquartejar e por em coma a economia da Zambezia! Nas condicoes actuais, nao se pode sair da Zona Sul para a zona centro da Zambezia, nem da zona centro para a zona norte (com cinco cortes na EN1 (dois cortes no rio Licunco, um corte no Rio Namilate perto da famigerada zona de Morrotone, outro no Rio Nivo e assim por diante entre Mocuba e Nampevo! Nao se pode sair do Ile a Gurue e nem de Milange a Gurue! Nao se pode sair de Gurue a Cuamba! E muito menos de Quelimane a Maganja ou Macuse! Nao se pode sair de Mopeia a Luabo! E nem se pode sai de Ile a Lugela! A economia da Zambezia se ja estava de joelhos, agora esta literalmente em coma! E para ressuscita-la precisamos de UM Plano Marshall para a recuperacao do tecido economico e social, das infrastruturas e dos empresarios(foi o plano que os EUA implementarao para a recuperacao da Europa depois da Segunda Guerra Mundial) sem este plano, a recuperacao da Economia Zambezia continuara a ser uma miragem, fazendo com que milhares de zambezianos e nao so continuem a vegetar nos mercados de Macurungo, Goto, ou Estrela Vermelha! Alias sendo a provincia que mais sofreu pelos efeitos da Guerra dos 16 anos, esse Palno Marshall esta no minimo atrasado 23 anos! E para comecar, uma vez que o preco do barril do petroleo no mercado internacional baixou de mais de cem dolares para menos de cinquenta, sugiro uma reducao no preco do combustivel, senao para o pais inteiro, pelo menos numa fase experimental, para as zonas centro e Norte do pais que estao ha tres semanas as escuras!

Thursday, 22 January 2015

Martin Hill obituary


Martin Hill
Martin Hill first went to Africa in 1965 to teach English in Uganda
My father, Martin Hill, who has died of cancer aged 71, championed human rights in Africa for more than 32 years during his career with Amnesty International.
He was instrumental in exposing the human rights violations committed in Ethiopia and Eritrea by the Derg military force, many of whom were subsequently convicted of genocide and crimes against humanity. He campaigned tirelessly for the release of dozens of prisoners of conscience, including Netsanet Belay, who is now Amnesty International’s Africa research and advocacy director.
Martin, who was based at the Amnesty secretariat office in London, helped human rights activists in east Africa, including those in Somalia who sought to build a human rights foundation in a country with no central government. He was a founding member in 2005 of the East and Horn of Africa Human Rights Defenders Project.
His commitment and compassion touched all those with whom he worked. He was greatly respected by the survivors of human rights violations and the victims’ families.
Martin was born in Leeds, to Dudley Hill, a clergyman, and Nancy (nee Bates). From Durham school he went to Downing College, Cambridge, where he graduated in classics. He inherited his parents’ musical talents and was an accomplished pianist.
In 1965 he went to teach English in Uganda. He subsequently lived in Kitui, Kenya, with the Kamba people and wrote a dissertation that earned him a PhD in social anthropology from the London School of Economics. In 1976 he joined Amnesty and worked as a researcher on east Africa, and especially the Horn of Africa, until his retirement in 2008.
During his time at Amnesty, he taught at the University of London and was a visiting research fellow at the Institute of Commonwealth Studies. After retiring, he continued to work on human rights in Africa and wrote reports on minority rights in Somalia, trials in Ethiopia and child soldiers in Eritrea.
Martin was passionate about gardening and RHS flower shows. He loved art and music, and delighted in his collection of African headrests. He was on the council of the African Studies Association and the Anglo–Somali Society and was a keen supporter of the Black Cultural Archives, in Brixton, south London.
He is survived by his wife, Dawn, whom he met at the LSE and married in 1972, and by two children, Andrew and me, a grandson, Lewis, and his sister, Rachel.