Thursday 27 September 2012

A Opiniao de Lo-Chi sobre o General: Elegia a um homem de diplomacia inata

No permeio de suras, papos e cafutchêtchês


email: suraspapos@gmail.com

por Lo-Chi




Estavamos no longíncuo ano de 1975, quando tive o primeiro embate ideológico contigo.

Discutiamos um qualquer aspecto, de que eu tinha uma idéia própria e o meu pai com um

olhar severo, admoestou-me, porque estávamos em face de alguém, para ele, de quem não

se devia contrariar. Tempos depois, em plena estrada, bem próximo das antigas oficinas do

Patricio & Filhos, encontramo-nos, e por iniciativa tua pões na mesa, ou melhor, no passeio a

discussão sobre o fuzilamento acabado de acontecer, e perguntavas-nos qual era a nossa opinião.

Sem papas na língua, sem heroicismo, mas com a ingenuidade própria da rebelião dos meus

frescos 20 anos, lá vou eu lampeiro, desfilando a minha opinião, contrariando toda a teoria

que ias desnovelando, contra os temores dos meus colegas, ao redor, porque na época áurea da

Revolução, estava fora de hipótese, contrariar qualquer governador. Singularmente, Bonifácio

Gruveta Massamba, na vez de inimigo, tornou-se, contra todas hipóteses, um grande amigo.

Amizade, que não obstante a diferença de idades, fomos cimentando, de tal jeito que passamos a

ter momentos sérios, alegres, de farra e de grande intimidade. Parece que te oiço agora dizeres-

me: sabes, algumas pessoas perguntam-me com é possivel nós sermos amigos, se sempre privei

com o teu pai. E logo depois o teu riso.



Bonifácio Gruveta, homem simples, afável, com uma capacidade incrível de ouvir. Recordo-

me que não houve dia nenhum, que fosse à tua casa, em Quelimane, que não estivesse alguém,

para pôr o seu problema, esperando de ti, um conselho, uma opinião, uma solução. A modéstia,

que te era inata e peculiar, fez com que não aceitasses o nosso reiteirado pedido de registarmos

os teus feitos, na luta armada. Infelizmente, para nós e para história, quando depois de muita

insistência acedeste e... já era tarde demais. Mas do pouco que disseste, naquela noite de ânsia da

nossa parte, eu e o nosso amigo, tremiamos de emoção, assutamo-nos com a dimensão dos factos

relatados por ti, como se de nada fosse.



Gruvas, eu admirava, em ti, o teu sentido de futuro, o teu ser diferente, tu um político de gema,

que aceitava as outras opções e convivias com elas, e por isso, algumas vezes, mal interpretado,

e nem por isso deixaste de fazer. Comigo, sabendo-me apolítico, sempre respeitaste a minha

opção. Nesse processo, acabei aprendendo no teu pragmatismo, que entre o ódio e o amor, há

muitos mais sentimentos, e belíssimos, do que podemos imaginar.



Bone, como muitos te chamavam, homem de trato fino, apesar de muito pouca instrução

académica, e nunca escondeste isso, mas de uma cultura de invejar e que sabia estar

convinientemente em todos ambientes. Homem de fortes convicções, mas que as expressava

suavemente. Voluntarioso, simples, disposto a fazer qualquer coisa para ajudar. Recordaste,

quando do desaparecimento físico da minha tia e tu chegares e dizeres-me, O que vais fazer?

Então eu vou fazer isto! Um General ir tratar de um assunto de burocracia pessoalmente, sem

mandar interposta pessoa?! Fiquei pequenino.



General, a minha vénia muito especial, pelos teus feitos com pequenos anónimos sem condições,

aos quais pagaste estudos, à alguns deles hoje doutores; e sem nunca disso teres feito alarde.

General, vergo-me perante ti, pela tua generosidade em perdoar, rendo-me pela tua capacidade

de fazeres amigos. Não era fácil estar contigo num restaurante, quer no Maputo, quer em

Quelimane, e manter-se o mínimo de privacidade, porque quem entrasse, fazia sempre questão

de te cumprimentar. E tu, General, sempre disponível e afável. General, adorava a tua forma

alegre de estar na vida. Não dispensavas uma alegre risada, e quando possível uma sonora

gargalhada. Só os autênticos.



Meu grande e saudoso amigo, eu munhânhwua, como me tratavas, não tenho a pretensão de

retratar-te, posto que pela tua dimensão, não cabes na minha máquina, apenas um pretesto para

te dizer: até sempre!

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