No permeio de suras, papos e cafutchêtchês
email: suraspapos@gmail.com
por Lo-Chi
Estavamos no longíncuo ano de 1975, quando tive o primeiro embate ideológico contigo.
Discutiamos um qualquer aspecto, de que eu tinha uma idéia própria e o meu pai com um
olhar severo, admoestou-me, porque estávamos em face de alguém, para ele, de quem não
se devia contrariar. Tempos depois, em plena estrada, bem próximo das antigas oficinas do
Patricio & Filhos, encontramo-nos, e por iniciativa tua pões na mesa, ou melhor, no passeio a
discussão sobre o fuzilamento acabado de acontecer, e perguntavas-nos qual era a nossa opinião.
Sem papas na língua, sem heroicismo, mas com a ingenuidade própria da rebelião dos meus
frescos 20 anos, lá vou eu lampeiro, desfilando a minha opinião, contrariando toda a teoria
que ias desnovelando, contra os temores dos meus colegas, ao redor, porque na época áurea da
Revolução, estava fora de hipótese, contrariar qualquer governador. Singularmente, Bonifácio
Gruveta Massamba, na vez de inimigo, tornou-se, contra todas hipóteses, um grande amigo.
Amizade, que não obstante a diferença de idades, fomos cimentando, de tal jeito que passamos a
ter momentos sérios, alegres, de farra e de grande intimidade. Parece que te oiço agora dizeres-
me: sabes, algumas pessoas perguntam-me com é possivel nós sermos amigos, se sempre privei
com o teu pai. E logo depois o teu riso.
Bonifácio Gruveta, homem simples, afável, com uma capacidade incrível de ouvir. Recordo-
me que não houve dia nenhum, que fosse à tua casa, em Quelimane, que não estivesse alguém,
para pôr o seu problema, esperando de ti, um conselho, uma opinião, uma solução. A modéstia,
que te era inata e peculiar, fez com que não aceitasses o nosso reiteirado pedido de registarmos
os teus feitos, na luta armada. Infelizmente, para nós e para história, quando depois de muita
insistência acedeste e... já era tarde demais. Mas do pouco que disseste, naquela noite de ânsia da
nossa parte, eu e o nosso amigo, tremiamos de emoção, assutamo-nos com a dimensão dos factos
relatados por ti, como se de nada fosse.
Gruvas, eu admirava, em ti, o teu sentido de futuro, o teu ser diferente, tu um político de gema,
que aceitava as outras opções e convivias com elas, e por isso, algumas vezes, mal interpretado,
e nem por isso deixaste de fazer. Comigo, sabendo-me apolítico, sempre respeitaste a minha
opção. Nesse processo, acabei aprendendo no teu pragmatismo, que entre o ódio e o amor, há
muitos mais sentimentos, e belíssimos, do que podemos imaginar.
Bone, como muitos te chamavam, homem de trato fino, apesar de muito pouca instrução
académica, e nunca escondeste isso, mas de uma cultura de invejar e que sabia estar
convinientemente em todos ambientes. Homem de fortes convicções, mas que as expressava
suavemente. Voluntarioso, simples, disposto a fazer qualquer coisa para ajudar. Recordaste,
quando do desaparecimento físico da minha tia e tu chegares e dizeres-me, O que vais fazer?
Então eu vou fazer isto! Um General ir tratar de um assunto de burocracia pessoalmente, sem
mandar interposta pessoa?! Fiquei pequenino.
General, a minha vénia muito especial, pelos teus feitos com pequenos anónimos sem condições,
aos quais pagaste estudos, à alguns deles hoje doutores; e sem nunca disso teres feito alarde.
General, vergo-me perante ti, pela tua generosidade em perdoar, rendo-me pela tua capacidade
de fazeres amigos. Não era fácil estar contigo num restaurante, quer no Maputo, quer em
Quelimane, e manter-se o mínimo de privacidade, porque quem entrasse, fazia sempre questão
de te cumprimentar. E tu, General, sempre disponível e afável. General, adorava a tua forma
alegre de estar na vida. Não dispensavas uma alegre risada, e quando possível uma sonora
gargalhada. Só os autênticos.
Meu grande e saudoso amigo, eu munhânhwua, como me tratavas, não tenho a pretensão de
retratar-te, posto que pela tua dimensão, não cabes na minha máquina, apenas um pretesto para
te dizer: até sempre!
Thursday, 27 September 2012
A Opiniao de Lo-Chi sobre o General: Elegia a um homem de diplomacia inata
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