Friday, 25 May 2012

A Opiniao de Noe Nhantumbo sobre Africa! (Finalmente ja posso sair da net! Li o artigo. a opiniao, a intervencao que andei a procura todo o dia! Obrigado Noe, obrigado Falume por esta lufada de ar fresco!

União Africana adormecida e impotente como sempre! Que
aniversário comemorar?

Há todo um conjunto de assuntos e questões que mesmo tendo a ver com

a União Africana ou com a sua antecessora, OUA raramente se tocam ou mencionam.

Referimo-nos precisamente a questão do comando do que efectivamente se

passa e acontece em África.

Não há país ou quadrante mundial que não tenha sido sujeito a conflitos e

lutas por esta ou aquela razão. A independência política, o acesso a recursos essenciais

para a vida, a defesa de portos e de terras, o acesso a água ou a qualquer

outro recurso julgado em determinado momento como vital levaram, a que comunidades

humanas, dirigidas por governos se digladiassem.

África último continente sujeito à colonização, prenhe de recursos, foi durante

muitos anos palco de conflitos entre potências colonizadoras que determinaram

o seu actual formato de fronteiras.
 
Etnias foram separadas, montanhas e rios foram utilizados


como elementos de fronteira, marcando espaços

geográficos dos países que agora existem.

Uma leitura da história recente de África é esclarecedora

quanto ao que foi determinando o rumo dos acontecimentos.

Após haver um consenso mais ou menos alargado

sobre a irrelevância da Organização da Unidade Africana,

os chefes de estado mais uma vez se reuniram e decidiram

extinguir a OUA e no seu lugar criar a União Africana.

Se há defensores de que nada mudou quanto a

substância da nova organização e da extinta, há que admitir

que pelo menos do ponto de vista formal alguma coisa mudou.

Os líderes africanos ou chefes de estado e de governo

entenderam fazer uma cópia mais ou menos fiel do

formato orgânico da União Europeia. Desse ponto de vista

as coisas saíram facilitadas. Mas só foi copiada a forma e

não a essência. Enquanto a União Europeia foi produto de

concertação demorada, referendos, articulação e finalmente

votação, em África toda uma miríade de regimes e formas

de governação foram aceites e admitidas. Desde a fundação

ou criação não houve debate algum significativo quanto à

importância de critérios de adesão e muito menos decisão

alguma impedindo a adesão e o gozo dos direitos de membro

para países que não cumprissem um mínimo pré-acordado

de critérios ou requisitos.

Perante a situação real que se vive só se pode dizer

que já existe um ponto de partida para acções futuras.

Países africanos colonizados por potências diferentes

são culturalmente diferentes e factos concretos como a

pertença a Commonwealth, Francofonia ou CPLP (lusofonia)

traduzem-se em diferenças acentuadas de percepção e

de acção. Os países que se tornaram independentes através

de processos de luta militar contra a potência colonizadora

tendem a ser e a posicionarem-se de modo completamente

diferente aos países africanos que acederam à independência

sem luta armada. As doutrinas do marxismo-leninismo

acompanhantes dos dirigentes africanos que passaram por

Moscovo ou que sofreram a influência directa dos conceitos

socialistas produziram alianças mais ou menos perenes

entre os integrantes dos movimentos de libertação africanos.

Quando se procura entender porque a democracia

floresce nuns países e não noutros, um olhar atento a génese

dos partidos que governam pode explicar muita coisa.

Onde começou por reinar um marxismo-leninismo pintado

de cores ditatoriais tipicamente africanas, no sentido de co-
piarem em parte a postura dos chefes tribais inquestionáveis,


verificam-se situações de arbitrariedades, ditaduras,

repressão das manifestações democráticas e ouça vontade

de ver materializadas as recomendações democráticas.

Embora não seja a maioria estes países constituem

uma massa crítica na política continental africana.

África do Sul, Angola, Etiópia, Moçambique, Guiné-

Bissau, São Tomé, Zimbabwe, Namíbia, Argélia, Líbia,

República do Congo, Burkina Faso, Guiné-Conacry e outros

constituem fortes pontos de manifestação de tendências

de governação leninistas, autocráticas, de democracias frágeis

e incipientes. Os outros países africanos no geral são

países em que reina uma situação de autocracia e de engrandecimento

dos chefes similar à África pré-colonial. Só

mudou o tempo e a forma de manifestação do poder mas os

chefes pouco mudaram.

Durante o período de luta pela independência e todo

o período pós-independência, os países antes colonizadores,

sempre estiveram atentos a todos os sinais emitidos

por suas antigas possessões.

Na busca de oportunidades de continuar a aceder

aos recursos antes explorados e que efectivamente trouxeram

grandeza e pujança económica a muitas capitais europeias,

houve preocupação e rapidez de não perder de vista

qualquer oportunidade. Um conhecimento profundo das pedras

no terreno e do meio geográfico e económico possibilitaram

a continuação de uma relação económica antiga.

Sem barulho mas mantendo um controlo firme do teatro operacional,

muitas companhias e corporações internacionais

com sede na Europa foram insidiosamente traçando e

“propondo as decisões” que políticos europeus e africanos

acabaram seguindo.

Sem muito esforço é possível ver que os governantes

africanos estão “felizes e satisfeitos” copiando um pouco

o que seus “mentores” fazem.

Onde seria de esperar que face as diferenças de

concepção e de implementação política não houve união africana

alguma, os governos foram rápidos, sob influência

dos petrodolares do defunto Coronel de Tripoli, a aceitar a

criar uma União Africana que ao fim do dia mais não era

do que o “brinquedo” do mesmo. Os países africanos como

Egipto, Marrocos, Tunísia, África do Sul jamais prestaram

ou deram muita importância a União Africana. Os países

como o Mali e outros que tinham a suas quotas de membros

pagas por Tripoli prestavam-se a uma vassalagem visível

sob pena de perderem financiamentos.

A União Africana fez avançar muitas joint-ventures

de inspiração e capital líbio. Alguns ministros dos países recipientes de fundos, se tornaram sócios minoritários de


capital líbio visando a exploração de recursos de solo ou

subsolo. Isso era visto cooperação Sul-Sul mas na verdade

do ponto de vista político tornou-se num processo de consolidação

de ditaduras e de outras formas de governo antidemocrático.

Poucos anos após a criação da União Africana

e pela defesa velada que a oligarquia de Tripoli exercia de

ditaduras perenes do continente. Muitas iniciativas de mudança

constitucional de modo a favorecer mandatos presidências

ilimitados tiveram um forte apoio de Tripoli e seu

Coronel.

Países mergulhados em crises políticas como o

Zimbabwe viram-se resgatados financeiramente a troco de

terra e de outro tipo de concessão a favor de Tripoli.

Com o abandono tácito dos países da África do

Norte, a União Africana tornou-se em mar Líbio sob a batuta

de um coronel megalómano, temperamental e com sonhos

imperiais. “Rei dos reis” como alguns reis menores e

régulos lhe chamavam, amordaçou o continente e a sua organização.

A moeda única, os Estados Unidos de África e

outros sonhos rápido se tornaram marca registada de um

Kadafi que não resistiu a ofensiva popular rebelde com apoio

doas chancelarias ocidentais.

A criação da União Africana foi uma experiência

interessante e dela podem continuar a colher-se alguns frutos.

É possível utilizar e levar a “bom porto” alguns planos

e projectos inscritos na UA.

Tendo uma Comissão Africana ágil, com uma direcção

comprometida pelo renascimento africano, influente

e com acesso rápido aos governos, construtora de consensos,

alguns pontos da agenda da União Africana, sobretudo

do ponto de vista económico, podem concretizar-se e servir

de alavanca para o fortalecimento dos elos políticos.

As chancelarias ocidentais, Londres, Paris, Washington,

Lisboa, por essa ordem tem muitos interesses em

África e sabem como gerir o dossier de forma que lhes seja

favorável.

Se ao Egipto os EUA sem pestanejar entregam

quase dois biliões de dólares por ano já para muito menos

em outros países do mesmo continente introduzem fórmulas

de linkage político. Egipto tem de ser pago pela paz

com Israel, pelos acordos de Camp David.

De maneira corrente e insistente se procura atribuir

as fraquezas africanas generalizadas a algo que tem a ver

com sua génese ou com a génese de seus governos e da sua

organização continental. Um olhar atento deixa ver outras

coisas complexas, esclarecedoras sobre tudo o que os governantes

não querem que os governados saibam ou tenham

o mínimo conhecimento.

A insipiência funcional, a pobreza programática e a

repetição de erros do passado concorrem de maneira coordenada

para os falhanços da União Africana e dos países

que a compõem.
Há pessoas colhendo benefícios contínuos de todos


os passos mal dados pelos governos de África. Entidades e

organismos atentos ao que se passa em África garantem de

maneira frontal e também encoberta que os mandantes de

ontem continuem os mandantes de hoje. Toda a fragilidade

e ausência de coesão programática e operacional, demonstrados

pela UA, são em benefício directo dos parceiros com

que os países africanos “cooperam”.

Se tomarmos como exemplo a África Austral, região

africana privilegiada por ser detentora de um potencial

de solo e subsolo únicos no mundo, poderíamos esperar

que após todos estes anos de independência, já estivesse exibindo

uma realidade correspondente as suas potencialidades

e ao que a sua economia no global produz. RDC, Angola,

África do Sul, Moçambique, Namíbia e Botswana, sem

excluir o Zimbabwe, Zâmbia e Tanzânia possuem riquezas

de subsolo como ouro, cobalto, urânio, carvão, diamantes,

platina, gás, petróleo, pedras preciosas em quantidades excepcionais.

Todo este manancial está sendo explorado e comercializado

nos mercados mundiais. Só que os benefícios

que ficam nos diferentes países e que são efectivamente investidos

na melhoria da vida dos cidadãos dos diferentes

países deixa muito a desejar. Quem visita Bruxelas fica

pasmado como quem não possui diamantes mas só os industrializa

e comercializa tenha uma cidade tão eficiente e

um nível de vida tão alto para os seus habitantes.

Está claro que os políticos belgas e suas contrapartes

de Lisboa, Paris, Londres estão profundamente interessados

pelo que se passa no continente africano. Afinal a garantia

da manutenção do seu alto nível de vida, do seu status

no concerto das nações depende essencialmente da contínua

recepção de recursos naturais africanos em condições

de preço excepcionais.

Ter a União Africana desdentada, fraccionada deve

constituir uma base de actuação das chancelarias ocidentais

e não porque estas sejam manipuladoras em si. Quem está

no mundo da política e se apresenta como governo tem de

assumir as consequências que tal prerrogativa lhe dá.

Pelo que a União Africana produz ou julgando pelos resultados

que anualmente se reflectem na vida dos africanos só

se pode tirar uma conclusão: as sucessivas cimeiras são um

desgaste para a economia exangue do continente. Não faz

qualquer sentido ter chefes de estado e de governo se reunindo

anualmente, com a pretensão de produzir soluções

para melhorar a vida dos africanos quando afinal mais não

fazem do que esbanjar o pouco que existe.

A soma de golpes de estado e de violência política

ou com inspiração política invalidam qualquer teses de que

África possui uma organização continental viável, respeitada

e com credibilidade. Cada vez que há um golpe de estado

os governos dos países hesitam em condenar ou apoiar

tal golpe porque muitas vezes a sua própria génese é um

golpe de estado. Se hoje a liderança congolesa de Brazaville tem assento


na União Africana isso não quer dizer que não se esteja

lidando com um golpista. Mugabe está no poder em

Harare mas na essência ele golpeou, não respeitou a vontade

popular expressa nas urnas. Contundo seus pares da África

Austral, excepto Zâmbia e Botswana correram em seu

apoio. Desde Tripoli até a Cidade do Cabo que presidentes

fizeram vista grossa e acabaram embarcando na validação

de uma situação polícia caracterizada por violência inconstitucional.

Se mesmo agora a França se apresenta preocupada

e liderando esforços ao nível da ONU para que os golpistas

do Mali sejam removidos do poder é preciso relacionar isso

com uma estratégia de longo prazo que nunca foi descartada

pelas potências antes colonizadoras. Tendo em conta a

progressão dos fundamentalistas islâmicos, da Alqaeda do

Magrebe, do descontrolo das armas antes nas mãos do regi-me de Kadaafi e sua exportação para o sul da Líbia, decerto


que em Washington e Paris levantam-se questões sobre essa

porta aberta para o avanço do terrorismo internacional.

Ao nível da ONU ou da União Africana vão levantar-

se vozes e encontros serão organizados visando debater

o assunto. Da parte da UA é de esperar as mesmas opiniões

de sempre e a mesma fraqueza.

Em tempo de mais um aniversário importa que o

continente e sua organização continental se ergam e se afirme

como a alternativa válida para fazer avançar a causa que

a todos faz diferença.

O tempo é de combate cerrado pela dignidade dos

africanos. O tempo é de valorização dos nossos recursos e

de recusa firme de arranjos neocolonialistas que alguns

qua-drantes continuam querendo impor.

Só a união consequente de governos e povos pode

fazer florir a esperança…■

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