Wednesday, 29 June 2011

Zambézia: Madeira a saque

ALGUNS líderes comunitários de determinados povoados de Mocuba, na Zambézia, estão a ser indiciados de actos de conivência com os madeireiros furtivos que de há alguns anos a esta parte devastam as florestas daquele distrito.

Maputo, Terça-Feira, 28 de Junho de 2011:: Notícias



Pelo menos três daqueles chefes locais foram já afastados dos cargos em consequência das suas ligações com operadores ilegais do chorudo negócio de madeira.

Embora não haja dados concretos sobre o grau de delapidação deste recurso, estima-se que em certas zonas de Mocuba, como Mataia, a extracção furtiva tenha já atingido extensas áreas florestais e o número de árvores com diâmetro recomendável para o corte tenha se reduzido drasticamente ao ponto de agora os madeireiros estarem mesmo a abater unidades com dimensões abaixo das autorizadas para o efeito.

Os alertas sobre a extracção desenfreada de recursos madeireiros, concretamente na Zambézia, são antigos. Um dos mais recentes vem do Instituto Panos da África Austral, uma instituição lançada no país no ano passado, que há dias levou um grupo de jornalistas àquele ponto.


Ao que apurámos, o corte ilegal de madeira em Mocuba decorre à luz do dia e é protagonizado pelos naturais ao serviço de indivíduos (intermediários) idos da sede do distrito ou da cidade de Quelimane. Os intermediários pagam aos cortadores apenas 100 meticais por cada toro.

O transporte de madeira em camiões faz-se, regra geral, à noite e especula-se que posteriormente os toros comprados a 100 meticais são revendidos a estrangeiros posicionados em Quelimane, por cerca de três mil Mt a unidade.

Alves Ricardo e Horácio Franque, operadores de moto-serra, encontrados nas matas de Mataia, disseram que são habitualmente contratados para derrubar árvores e dividi-las em toros. Por cada unidade ganham 100 meticais. Já seca, a madeira é transportada de noite em lotes de 40 ou 60 para fora daquele povoado.

Entre as espécies mais procuradas, os dois nativos de Mataia destacam a chanfuta, pau-ferro e jambire.

Maria Isabel Sebastião, chefe da localidade de Munhiba, onde se insere o povoado de Mataia, reconheceu que a zona está, realmente, a ser devastada por madeireiros furtivos, que se aproveitam das fragilidades existentes na fiscalização para os desmandos.

Por outro lado, a chefe disse que pelo menos três líderes comunitários dos povoados de Mataia e Julião foram recentemente afastados dos cargos por conivência com operadores furtivos. Acrescentou que a atitude se deve, em parte, à falta de conhecimento sobre o valor real deste recurso.

Fora dos ilegais, Munhiba tem três operadores licenciados, que no ano passado canalizaram 47 mil meticais para as três comunidades referentes à taxa de 20 porcento que deve ser entregue aos locais de exploração da madeira.

Mesmo assim, falta quase tudo naquele ponto da Zambézia, havendo crianças que frequentam a quinta classe que ainda estudam ao relento e nunca se sentaram no banco de uma carteira.
•José Chissano

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