Saturday, 16 April 2011

Atelier sub-regional de metodologia de pesquisa em Ciências Sociais em África

Sessão especial para os Países Africanos Lusófonos, 2011 - A data limite para a submissão de candidaturas foi prolongada : 15 de Maio de 2011

CODESRIA

Atelier sub-regional de metodologia de pesquisa em Ciências Sociais em África

Sessão especial para os Países Africanos Lusófonos, 2011

Pesquisa de terreno e teorias do inquérito qualitativo

Data: 12-15 de Julho, 2011

Local: Universidade de Cabo Verde, Praia, Cabo Verde

Apelo a candidaturas



Uma das grandes fraquezas da pesquisa em ciências sociais em e sobre a África resulta da pouca atenção dedicada às questões epistemológicas e metodológicas. Esta fraqueza manifesta-se numa altura em que a complexidade das dinâmicas sociais que configuram a luta pela sobrevivência no continente e o contexto global mais vasto reclamam um maior aperfeiçoamento dos procedimentos e instrumentos de investigação e de análise com vista a uma percepção mais adequada e holística da realidade em rápida mutação. Em vez disso, assiste-se a uma surpreendente negligência ou má aplicação das teorias e métodos numa escala e numa frequência que apelam a uma intervenção enérgica. Esta negligência resultou por um lado numa crescente banalização dos protocolos de pesquisa, reduzindo-os a um “fetiche” de receitas que evocam recomendações superficiais mascaradas de apelos ritualistas ao rigor, mas que não são tomados em consideração nas análises empreendidas. Por outro lado as questões metodológicas têm sido de tal maneira instrumentalizadas que as considerações de ordem ideológica e os resultados pré-determinados se têm sobreposto à ciência. Além disso, é muito comum encontrar estudos nos quais os procedimentos científicos são simplesmente ignorados, sob pretexto de um imediatismo específico que leva à exclusão das análises sobre as realidades sociais africanas dos grandes debates universais sobre a ciência e sua validade. As ciências sociais correm assim o risco de se transformar, cada vez mais, num conjunto de discursos puramente literários e sem fundamento empírico, ou ainda, em simples narrativas mascaradas sob a capa de um discurso “sábio”, tão pomposo quanto vazio. Neste contexto, os conhecimentos produzidos perdem todo o alcance heurístico para se transformarem em simples justificações, desejadas ou não, para legitimar uma política económica mais ou menos ajustada. Claro está que não se pode aceitar este estado de coisas, quanto mais não seja porque empobrece a pesquisa que se faz em ciências sociais em África. É chegado o momento de a comunidade de cientistas sociais revisitar e discutir os fundamentos metodológicos do actual conhecimento sobre a África, de forma a pôr termo à impunidade científica que se manifesta dentro e fora de África, e dar um novo impulso às ciências sociais em África através de programas de apoio direccionados para jovens investigadores. Neste quadro, afigura-se vital e urgente discutir os fundamentos metodológicos dos nossos conhecimentos actuais, injectando novas dinâmicas nas ciências sociais em África.



A garantia do futuro dos jovens pesquisadores em ciências sociais deve partir de um domínio excelente dos procedimentos de pesquisa e da sua cuidadosa aplicação a situações concretas, tal como exige o seu trabalho no terreno, nos arquivos e na biblioteca. Infelizmente a combinação da crise do sistema de Ensino Superior com o parco exemplo da produção científica de um número crescente de africanistas que caíram na tentação de confundir liberdade com rigor metodológico, significa que os jovens investigadores africanos não estão bem servidos em matéria de capacitação para uma investigação independente. Por outro lado, importa que as acções levadas a cabo pelo CODESRIA tenham um efeito multiplicador no seio da academia africana. Nesta perspectiva, o Secretariado do CODESRIA propõe-se reunir académicos e investigadores africanos em redor de questões de carácter epistemológico e metodológico para colmatar as lacunas existentes na academia africana. O seminário foi pensado como um espaço crítico de partilha de experiências que se baseiam em pré-requisitos epistemológicos e empíricos para um trabalho científico rigoroso. Ele oferecerá não só uma perspectiva sobre o estado das artes, como proporcionará uma ocasião para uma revisão crítica dos procedimentos, instrumentos e teorias contemporâneos de pesquisa vistos numa perspectiva africana. A questão central a ser abordada pelo seminário pode ser resumida da seguinte forma: partindo da evolução das sociedades africanas, como estabelecer uma ligação produtiva entre teoria e investigação empírica, tomando em consideração o estado actual dos conhecimentos e das técnicas disponíveis? Ao responder a esta questão, o seminário privilegiará os métodos e os instrumentos de pesquisa qualitativos partindo da premissa de que a tendência popular de opor o método quantitativo ao qualitativo se deve à falsa assumpção de que o primeiro oferece uma exactidão e uma “rigidez” que o último não consegue atingir. Sem diminuir a importância da pesquisa e dos métodos quantitativos, os participantes serão encorajados a explorar os métodos qualitativos de captar as dinâmicas sociais africanas, que nem sempre encontram expressão total ou parcial em números e por isso são deixados às abordagens rígidas e exclusivamente quantitativas. A oposição entre métodos qualitativos e quantitativos, onde os últimos são sobrevalorizados, parte frequentemente de uma visão científica assente na excessiva ‘fetichização” do número, que por sua vez leva à desqualificação e descrédito das pesquisas baseadas em métodos qualitativos, consideradas inconstantes, em contraposição à “dureza” da soberana quantificação.



O recurso cada vez maior ao cruzamento de disciplinas e métodos de pesquisa, não nos permite de forma alguma descurar a necessidade premente de utilizar quer os métodos quantitativos quer os qualitativos. O seminário metodológico a realizar em 2011, será no entanto virado para a análise da validade e condições de implementação da pesquisa empírica realizada em África, com base em métodos qualitativos. Uma tal preocupação, como facilmente se pode compreender, abrange todas as disciplinas de ciências sociais; todas elas são confrontadas com as dificuldades de apreensão da realidade social, assim como estão constantemente a braços com as performances limitadas de algumas das técnicas de recolha e de análise dos dados, consideradas “suspeitas”, porque ditas « qualitativos », devido à falta de rigor científico. A descoberta do sentido da vida social, muitas vezes camuflado, ser-lhe-ia de outro modo, irremediavelmente inacessível. No centro da discussão, devem ser colocados os seguintes eixos:



1. Partindo de um questionamento da distinção estabelecida entre métodos qualitativos e quantitativos, o seminário esforçar-se-á em focalizar os debates num exame crítico a esta clivagem tradicional, colocando o problema da quantificação nas ciências sociais; o modo de tratamento dos dados recolhidos responde ao mesmo tempo aos constrangimentos de terreno e às escolhas paradigmáticas de interpretação dos dados. Um tal questionamento deveria conduzir-nos finalmente a interrogar as formas e as condições de “quantificação” do “qualitativo”. O carácter não métrico e compreensivo da abordagem qualitativa, oposto ao da matemática e a justificação da quantificação, estará definitivamente certificado?

2. Contra a ilusão do saber imediato, torna-se imperativo colocar claramente os princípios metodológicos da “construção do objecto” como articulação hipotética de uma reconstrução teórica da realidade social. Esta operação crucial impõe que o estatuto de investigador e o papel sistemático das teorias e dos instrumentos de pesquisa sejam submetidos a uma vigilância epistemológica.

3. O inquérito enquanto procedimento de confrontação no terreno de um corpo de hipóteses pressupõe uma escolha racional dos instrumentos técnicos de colecta de dados, dos « factos ». Mas uma tal selecção nunca é neutra. Os factos são sempre factos. Serão revistos a fim de determinar as modalidades da sua inclusão na pesquisa, os instrumentos habituais de inquérito qualitativo, entrevista, observação, estudo de arquivos, bem como os menos habituais como é o exemplo da fotografia.



A edição especial de seminários metodológicos para os países africanos que falam a língua portuguesa é concebida para universitários que ensinam metodologia de pesquisa em universidades, institutos e centros de formação, doutorados com experiencia de investigação, investigadores seniores de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. A língua de trabalho a ser utilizada durante o seminário será o Português. A sessão será dirigida por um Director, apoiado por uma equipa de dois a três professores, todos de reconhecida competência no tema do seminário. Os universitários e investigadores seniores que desejarem ser pessoas recurso são convidados a enviar ao CODESRIA um pedido indicando o seu interesse, o seu CV e um resumo das questões que pretendem abordar nas quatro sessões de duas horas cada. O resumo a enviar deverá ser suficientemente detalhado de forma a permitir ao Director do seminário preparar uma compilação de documentos que seja útil às pessoas recurso a aos seminaristas. A equipa pedagógica proporá aos bolseiros uma recolha de textos sobre o tema do seminário. Todos os que desejam participar no seminário devem apresentar uma candidatura que inclua os seguintes elementos:



1. Uma carta de candidatura indicando o tema ou aspecto que pretendem discutir;

2. Um documento ou projecto de pesquisa (cinco a 10 páginas no máximo). No caso de projecto de pesquisa, este deve apresentar claramente a problemática, a pertinência do terreno, o quadro teórico, e sobretudo os problemas metodológicos e epistemológicos encontrados ou que se possam antecipar;

3. Um curriculum vitae detalhado e actualizado.

4. Duas cartas de recomendação:

a) Uma carta do director de tese ou de um outro supervisor mostrando a pertinência do projecto de pesquisa apresentado

b) Uma cartara do director do departamento ou de um outro professor sobre os méritos e o potencial académico do candidato.

5. Uma carta de filiação institucional.



A selecção dos dossiers far-se-á em função do carácter inovador da reflexão ou da proposta de pesquisa, do equilíbrio de género e da repartição geográfica. A data limite para a apresentação das candidaturas é 15 de Maio de 2011. Elas devem ser enviadas a:



CODESRIA Sub-regional Methodological Workshops

Avenue Cheikh Anta Diop Angle Canal IV,

BP 3304, CP 18524, Dakar , Senegal .

Tel: +221-33 8259822/23—Fax: +221-33 8241289

E-Mail: seminario.metodologico@codesria.sn

Website: http://www.codesria.org

1 comment:

V. Dias said...

Aproveita, chamuale Fijamo.

Zicomo