Friday 4 March 2011

FMI desperta para realidade e critica desigualdades em Moçambique

Maputo (Canalmoz) – O Fundo Monetário Internacional (FMI) parece estar a despertar para Moçambique real e a ver que o tão propalado crescimento económico estável, só beneficia a alguns. Numa palestra proferida nesta quinta-feira em Maputo, o representante do FMI em Moçambique, Victor Lledó, para além de repetir a ladainha de “crescimento anual de 7%”, pela primeira fez uma descrição que se aproxima à realidade vivida pela maioria dos moçambicanos.

Victor Lledó disse que a partir do ano de 2003 até 2009, a economia de Moçambique cresceu de forma significativa, mas não foi um crescimento inclusivo. O representante do FMI disse também o que muitos académicos moçambicanos têm vindo a destacar nos últimos tempos: “Os ricos tornaram-se cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres e desprovidos de meios de produção”.
Lledó acrescentou que as desigualdades tendem a exacerbar-se de ano para ano.
A palestra foi organizada pelo Centro de Estudos Moçambicanos e Internacionais (CEMO) e contou com comentários do reputado economista moçambicano, Roberto Tibana.
O representante do FMI disse que esta tendência de criação de uma burguesia restrita e o aumento da pobreza se reflectem no fraco nível de investimento público em infra-estruturas; baixo nível de acesso a serviços financeiros; fraco ambiente de negócios entre outras.
Refira-se que 2003 foi o ano da preparação para o fim do reinado de Joaquim Chissano. Foi sucedido por Armando Guebuza, tido como grande homem de negócios. Este cumpre agora o seu segundo e último mandato constitucional. De facto, desde 2003 a burguesia restrita e ligada ao poder ascendeu, facto testemunhado pelo volume de investimento privado que detém. Para os outros moçambicanos o país continua a ser uma miragem.
De acordo com o FMI, o crescimento de Moçambique no período em referência, atingiu níveis satisfatórios em comparação com a maior parte dos países da África Sub-sahariana, mas quem se beneficia do tal crescimento é a elite.
O representante do FMI em Moçambique referiu que o país tem estado a alcançar um crescimento positivo nos últimos 10 a 15 anos, mas ao contrário dos casos de sucesso, em termos de crescimento inclusivo – crescimento com reflexos em todas as camadas da sociedade –, o arranque do crescimento económico nacional não foi acompanhado por uma significativa diversificação económica ou exportadora.
Assim, e com base nos dados estatísticos dos rendimentos familiares, “entre 2002/2003 e 2008/2009, o crescimento não beneficiou os pobres”, sublinhou Lledó.
Mas os argumentos seguintes do representante do FMI em Maputo deixam subentendido que a sua franqueza pode ter vindo tarde demais. Quebrou o silêncio talvez por recear que estejam iminentes convulsões sociais.


Evitar conflitos sociais

Victor Lledó falou do perigo dos conflitos sociais que esta tendência de mudus operandi moçambicano pode criar. E disse que mesmo o Governo sabe que quando não há satisfação das necessidades básica, o povo sai às ruas.
De facto já há história de manifestações. A 05 de Fevereiro de 2008, a população de Maputo e Matola paralisou o país numa manifestação jamais vista no país, facto que se veio a repetir a 1 e 2 de Setembro de 2010, portanto 2 anos e 7 meses depois.
Há quem preveja que mais manifestações e em curto espaço de tempo deverão ocorrer se o Governo continuar a adoptar políticas de exclusão socioeconómica.
“Estamos a assistir o que está a acontecer no Médio Oriente hoje. Os acontecimentos estão a ser causados pelo descontentamento popular. Evitar a desaceleração do crescimento em decorrência de conflitos sociais” é um dos caminhos a considerar para o alcance de um crescimento inclusivo, observa Victor Lledó, para quem é importante que haja igualdade de oportunidades e redução de desigualdades, sobretudo de rendimentos e de acesso ao emprego, por parte dos cidadãos.

Estamos a falhar muito na agricultura e na educação

Por seu turno, o economista Roberto Tibana mostrou-se preocupado com o comportamento que tem vindo a revelar-se no sector da Agricultura, não sendo a base com o que o Governo trabalha para o desenvolvimento, apesar do governo andar sempre a apregoar que a Agricultura é a base do nosso desenvolvimento.
Neste momento, a agricultura não está a ser tomada como base de desenvolvimento, mas devia, refere Tibana.
Fazendo menção à importância do sector da educação para o crescimento inclusivo, mostrou-se também indignado com as actuais políticas do sector de educação. (Matias Guente)

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