- duas razões de fundo fizeram com que Mondlane atirasse a tolha ao chão: o chumbo de Ana Juliana e o bloqueio da “mudança da posição contratual”, graças ao trabalho da Comissão de Inquérito- o CC ficou duplamente órfão: não tem presidente e não tem Secretário - Geral
Finalmente! Pela primeira vez na sua curta história democrática, o país assistiu no final da manhã de ontem, a primeira renúncia “voluntária” ou voluntarizada de um dirigente de um órgão público de topo. No caso concreto, Luís António Mondlane, não tinha condição moral, ética e profissional de continuar a dirigir o Conselho Constitucional, na medida em que, a sua permanência estava, de alguma forma, a pôr em causa a credibilidade, importância e reputação de um órgão de soberania com atribuições e competências de administrar a justiça em matérias de natureza jurídico-constitucional. Portanto, é um órgão que pela sua natureza deve estar livre de qualquer suspeita e deve inspirar conduta adequada a todos os cidadãos. Entretanto, a permanência de Luís Mondlane no CC, representava, exactamente, o contrário das suas competências (do CC), muito por culpa de tudo quanto já se disse sobre o seu comportamento e atitudes do seu presidente.
Renúncia
Na manhã de ontem, Luís Mondlane chegou ao Conselho Constitucional, naturalmente abatido como vinha se apresentando nos últimos tempos. Directo para o seu gabinete de trabalho, tratou imediatamente de convocar os seus conselheiros para uma reunião que devia acontecer logo a seguir.
De facto, minutos depois Luís Mondlane estava reunido com os seus conselheiros para lhes comunicar que deixava a instituição. Alegou simplesmente que tomara aquela decisão para salvaguardar a paz e a estabilidade do país. Mais nada, Mondlane disse. Regressou para o seu gabinete e seguidamente tratou de convocar, via secretária, os restantes funcionários para uma reunião.
A agenda continuava única. Comunicar a todos os funcionários que deixava a instituição. Depois da comunicação, mais uma vez voltou ao gabinete e pegou os seus pertences mais pessoais. Não levou tudo. Saiu, entrou no carro e foi-se. Estava consumada a demissão de Luís Mondlane do cargo de presidente do Conselho Constitucional.
A seguir a carta demissionária:
Acabo de comunicar ao Excelentíssimo Senhor Presidente da República a minha decisão de renunciar ao cargo de Presidente do Conselho Constitucional. Para tanto, move-me o interesse de contribuir para a salvaguarda da paz e estabilidade do país, abrindo espaço para a consolidação da democracia e do Estado de Direito Democrático. Deixo o Conselho Constitucional convicto de que dei o melhor de mim para o desenvolvimento da instituição, quer no âmbito interno, quer na projecção da sua melhor imagem além fronteiras. Agradeço a estima, colaboração e apoio de todos quantos acreditaram no meu projecto, aos distintos órgãos de soberania, às instituições públicas e privadas, às entidades nacionais e estrangeiras e a todo o cidadão. Agradeço igualmente os parceiros de cooperação internacional com os quais cultivamos uma relação de estreita e proveitosa colaboração para o bem de Moçambique. A todos bem haja
Razões chave da renúncia
É verdade que Luís Mondlane tentou ensaiar alguma resistência face a avalancha de informações que revelavam aquilo que se considera gestão pouco criteriosa e danosa do CC tendo em conta a realidade do momento que exige redução e contenção de gastos a todos os cidadãos, particularmente aos detentores de cargos públicos.
Depois de muitas informações virem à superfície, Luís Mondlane, tentou contornar o incontornável tentado reiventar os caminhos já sinuosos que rodearam a sua gestão no CC, tentando dar entender que tudo quanto era dito era apenas obrade invejosos porque, segundo ele, o CC estava a ser gerida de forma profissional e criteriosa. Entretanto, pontos concretos desta “gestão criteriosa” poderão ser contadas este Domingo, visto que uma entrevista foi adiantada a um seminário que sai a rua aos domingos. Entretanto, porque a verdade sem sempre à superfície, Mondlane não conseguiu reiventar dados que pudessem sustentar a sua resistência no CC.
Primeiro, o TA veio a público anunciar que não aceita Ana Juliana como nova Secretária Geral por não ter qualificações legais para ocupar o cargo. O não do Tribunal Administrativo veio, na verdade, dar razão aos opositores de Mondlane em relação ao processo Ana Juliana e tirou razão a Mondlane. Numa situação em que a realidade era de si já extremamente precária, Mondlane ainda tentou resistir mas muitas eram as pressões no sentido de ele deixar o cargo.
Em termos práticos, a Frelimo estava também a distanciar de Luís Mondlane a avaliar pelos discursos que publicamente eram feitos por alguns dirigentes do partido no poder. Depois veio a Comissão de Inquérito que praticamente retirava poderes e autoridade a Luís Mondlane.Entretanto, acredita-se que a machadada final tenha sido o facto de a Comissão de Inquérito, já no âmbito do seu trabalho ter conseguido “informações preciosíssimas” dos gestores do banco com o qual Mondlane e esposa assinaram a locação financeira para a aquisição de um imóvel no valor de 24,3 milhões de meticais, a ser amortizado em 15 anos.
Segundo os nossos colegas do SAVANA, o contrato, assinado pelo então secretário-geral Ge¬raldo Sa¬ranga, ao contrário do que é norma corrente, não especifica a localização do imóvel, nem o seu registo na Conservatória PredialA Comissão de Inquérito terá, no âmbito do seu trabalho, sido informada que afinal o processo da compra da casa, em nenhuma parte não fazer notar que se trata de um procedimento transitório, o qual cessa a sua validade legal logo que os procedimentos burocráticos para aquisição do imóvel pelo Conselho Cons¬titucional tiverem sido concluí-dos. Assim, cai por terra a explicação, ainda não publicada, dada por Mondlane ao jornal Domingo. Refere o SAVANA que, a tramitação para a passagem do imóvel para o Estado só começou a ser avaliada no ministério das Finanças em Dezembro de 2010, quando o nome do juiz Mondlane deveria ter sido reportado à central de risco do Banco de Moçambique (BM), por estarem em falta várias prestações do contrato. Já acossado pelos seus pares e com o Partido Frelimo na posse de uma extenso “dossier” sobre o assunto, ao que reportaram ao SAVANA, Mon¬dlane foi recebido pelo ministro Manuel Chang a 28 de Fevereiro deste ano para discutir a passagem da casa para o CC e os termos da resposta à missiva expedida pelo chefe de gabinete Filipe Carvalho (a 16 de Dezembro) e a que Saranga recusou dar andamento.
Na verdade, estava iminente a assi¬natura com a instituição bancária responsável pelo financiamento de uma nova escritura para a mudança da posição contratual do casal Mondlane para o Conselho Constitucional. Entretanto, com o trabalho já em curso da Comissão de Inquérito, este processo, soube o mediaFAX, foi bloqueado.Com amortizações na ordem de 366 mil meticais mensais, soubemos que a actual dívida do Presidente do CC ao financiador está na ordem de 3.4 mil milhões de Meticais. Posto isto, nada mais restava a Mondlane, senão abandonar o posto e esperar em casa os resultados da Comissão de Inquérito que poderão resultar na instauração de um processo disciplinar. Caso haja matéria até um processo criminal pode ser instaurado.
Alice Mabota
A Presidente da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos, Maria Alice Mabote, cuja organização havia emitido nas vésperas um comunicado a exigir a suspensão temporária de Luís Mondlane, enquanto decorria o inquérito instaurado pelos seus pares no Conselho Constitucional, disse, em reacção a renúncia, que esta apenas pecou por ser tardia.“Se ele tivesse parado e renunciado logo que o escândalo eclodiu, tinha oportunidade de sair pela porta grande e teria evitado que viessem a público mais revelações sobre a sua postura, que o levam a incorrer ao foro criminal.
Neste momento, eu como pessoa e como activista dos direitos humanos não estou totalmente satisfeita, apenas com a demissão. Ficarei mais satisfeito se ele for sentar na barra do tribunal, só assim é que direi que há justiça”.Para Mabote, um dos maiores receios nesta altura é que o caso seja abafado e Mondlane venha a ser nomeado para um outro cargo de relevo, como tem sido hábito para figuras ligadas ao partido Frelimo.
In Jornal SAVANA
Archbishop of York 'regrets' that abuse scandal priest had role renewed
twice
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Stephen Cottrell knew former priest David Tudor had paid compensation to a
woman who says Tudor abused him as a child.
52 minutes ago
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