Moçambique perdeu hoje "uma espécie de embaixador permanente da cultura" com a morte do pintor Malangatana, considerou em declarações à Lusa em Maputo o escritor moçambicano Mia Couto.
Malangatana, o maior artista plástico moçambicano, morreu aos 74 anos às 03:30 (05:30 hora de Maputo) no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, vítima de doença prolongada, segundo a direção do hospital
O pintor encontrava-se internado há vários dias naquele estabelecimento.
"É uma notícia muito, muito triste. Moçambique teve em Malangatana uma espécie de embaixador permanente da cultura pela projeção que deu ao país. Moçambique é hoje mais e melhor conhecido em grande parte pela obra do Malangatana", afirmou Mia Couto.
Para Mia Couto, Malangatana afirmou o princípio de uma cultura sem fronteiras, com dignidade e sem agressões por outras raças e culturas.
"Entendia que as culturas eram mulatas. É um enorme vazio a sua morte, mas deixa um grande legado", acrescentou Mia Couto.
Farol orientador dos artistas moçambicanos - Armando Artur
O Ministro moçambicano da Cultura, Armando Artur, disse, em contacto telefónico com a AIM, que a morte do mestre Malangatana constitui uma autêntica mágoa à comunidade artística moçambicana que sempre teve no “velho” um farol orientador no trilho das belas artes e cultura.
“Moçambique teve o privilégio de ter um dos melhores filhos das artes, precursor da cultura no país”, disse Armando Artur, acrescentando que o valioso contributo do mestre Malangatana não se resume apenas a cultura mas a contestação a ocupação colonial portuguesa.
O mestre Malangatana, segundo o titular da pasta da cultura, sofreu na pele a bárbara e impiedosa acção do regime colonial, daí o seu incontornável contributo na luta contra o mesmo.
“A morte dos artísticas deixa um grande vazio, mas o que nos conforta é que um artista nunca morre, porque o seu legado continua entre nós”, disse Armando Artur, apontando que o Executivo continuará a trabalhar no resgate do contributo dos artistas.
Como governo, “vamos transformar o vazio em redobrar de esforços para continuar a construir o país rumo ao desenvolvimento, conforme o sonho dos artistas”, disse o ministro.
Pancho Guedes: "Malangatana era um pintor único"
O arquitecto Pancho Guedes considerou hoje "terrível" a morte do pintor Malangatana, que era único, acrescentando que embora soubesse que ele estava doente pensava que fosse uma "situação passageira".
"Não percebo como é que o Malangatana, que parecia uma pessoa saudável e viajava com uma capacidade enorme, morre assim de repente", disse à agência Lusa o arquiteto Pancho Guedes, que no início da vida artística do pintor lhe disponibilizou um espaço para pintar na garagem e lhe comprava dois quadros por mês a preços inflacionados.
Para o arquiteto português, Malangatana passou "de um ano para o outro de simples empregado de bar e limpezas num clube de elite moçambicano para um pintor com grande reputação".
"E isso causava uma grande trapalhada em Moçambique, porque havia um certo terror e para o poder político tudo parecia de natureza política ou antigovernamental, de modo que Malangatana passou muito, até esteve preso", sublinhou Pancho Guedes.
Como pintor, o artista moçambicano cuja arte se estendeu à cerâmica, escultura, tapeçaria ou gravura, "fazia uma pintura que era só dele, não precisando que ninguém lha ensinasse ou a interpretasse", defendeu o arquiteto.
Pancho Guedes recordou ainda o tempo em que durante o dia Malangatana "cozinhava e punha a mesa do grémio, e à noite se juntava ao rapaz dos faróis, o José Júlio, para pintar daquela forma única que só ele conseguia fazer".
Malangatana Valente Ngwenya nasceu a 06 de Junho de 1936 em Matalana, uma povoação do distrito de Marracuene, às portas da então Lourenço Marques, hoje Maputo.
Fonte: RM
'Trust and reserve judgement' on rebrand, says Jaguar after backlash
-
The iconic carmaker's rebrand has certainly caught people's attention, but
will it pay off?
1 hour ago
3 comments:
A cultura moçambicana ficou desfalcada. Perdeu um grande vulto! Malangatana é sem dúvidas um ícone da cultura moçambicana e mundial. Fijamo, a partir de Quelimane. Regards.
Concordo com esta vergôntea dos Fijamos.Bem dito.
Em memória de Malangatana escreverei uma crónica no Wamphula Fax (a sair para semana) com o seguinte título "Malangatana: O homem que materializou o seu olhar."
Zicomo
Ja preparei o garfo e a faca p/ manjar a cronica. Alias, sou o mais apreciador das crónicas/artigos do VD. Fijamo, a partir de Quelimane. Regards
Post a Comment